Especialistas dão dicas para a publicação de artigos científicos
Editores de revistas científicas procuram  trabalhos com resultados inéditos, escritos em inglês claro e conciso e  que despertem interesse em seu grupo de leitores. Artigos que abordam  temas quentes do momento levam vantagem, pois têm mais chance de serem  citados em futuras pesquisas e de contribuírem para aumentar o fator de  impacto do periódico.
Essas foram algumas das dicas apresentadas por Daniel McGowan,  diretor do Grupo Edanz, durante o workshop “How to Write for and Get  Published in Scientific Journals”, realizado no dia 16 de março pela  FAPESP e pela editora científica Springer.
Desde 1990, o número de artigos submetidos para revisão teve um  aumento 100% superior ao do número de novos periódicos, segundo dados do  Grupo Edanz, empresa de consultoria na área. Com o crescimento da  competição, de acordo com McGowan, “o mínimo que os editores esperam é  ciência de qualidade e linguagem adequada”.
“A pesquisa brasileira é boa, mas vejo dois grandes desafios a serem  superados pelos pesquisadores do país: a dificuldade com a língua  inglesa e a falta de entendimento de como deve se estruturado um artigo  científico. Muitos parecem não saber o que colocar na introdução, na  discussão e na conclusão do trabalho”, disse McGowan à Agência FAPESP.
Durante sua apresentação  no workshop, McGowan explorou o tema e deu exemplos de como estruturar  um resumo, como inserir tabelas, gráficos e figuras no texto, como  formatar referências e escolher o título e como elaborar uma carta de  apresentação ao editor. Deu também dicas sobre o tempo verbal mais  adequado nas diferentes situações e recomendou aos cientistas redigir  frases na voz ativa e deixar sempre o sujeito da oração perto do verbo.
“Grande parte das pessoas que vão ler o artigo científico também não  tem o inglês como primeira língua. O que elas desejam é ler rapidamente,  apenas uma vez e conseguir entender a lógica do pesquisador”, destacou.
Para McGowan, ex-editor associado da Nature Reviews Neuroscience, o primeiro passo para melhorar a qualidade da produção científica é a leitura do maior número possível de artigos publicados.
“Isso ajuda o pesquisador a saber se está fazendo as perguntas  certas, usando os métodos adequados, interpretando os resultados no  contexto apropriado, citando os estudos mais relevantes da área e  escolhendo o periódico com o perfil indicado para sua pesquisa”, disse.
Como cada publicação tem regras próprias para estruturar o texto e  citar referências, a redação do artigo só deve começar após estar  definida a revista para a qual ele será submetido.
“O pesquisador deve ser honesto ao avaliar o grau de relevância e  novidade da pesquisa e escolher um periódico com fator de impacto  compatível. Ela traz um avanço incremental ou conceitual? Afeta a vida  de uma pequena população ou de milhares de pessoas? Melhora o  conhecimento sobre um fenômeno ou apresenta uma nova tecnologia?”,  exemplificou McGowan.
O pesquisador deve ainda considerar fatores como o perfil do público a  ser atingido, o prestígio da publicação e se ela trabalha como sistema  de acesso aberto ou assinatura. “Acesso aberto permite alcançar um  número maior de leitores e, portanto, gera mais citações. Mas também tem  um custo muito maior”, disse.
Segundo McGowan, um artigo nunca deve ser enviado a mais de um  periódico ao mesmo tempo. “Por outro lado, se um pesquisador demora  muito para publicar suas descobertas, pode ocorrer de outro grupo  publicar antes. Recomendo, portanto, entrar em contato com o editor caso  não receba retorno após seis semanas. Se depois de dois meses ainda não  houver resposta, sugiro cancelar formalmente a submissão e só então  enviar para outra revista”, afirmou.
Outra dica do consultor é relatar no fim do artigo os financiamentos  recebidos de agências de fomento ou de outras instituições e empresas,  descrever possíveis conflitos de interesse e as limitações do trabalho,  como tamanho pequeno da amostra por exemplo.
“Os editores percebem quando há falhas ou limitações na pesquisa, mas  ainda assim podem publicá-la se os resultados forem interessantes. Não  mencionar esses fatores, porém, pode ser um motivo para rejeição”,  disse.
Pesquisa brasileira
Na abertura do workshop, o vice-presidente da editora Springer, Paul  Manning, contou que o motivo que levou a empresa a abrir um escritório  no Brasil foi o crescimento expressivo da produção científica do país.
“A Springer surgiu na Alemanha no século 19 e foi para Nova York após  a Segunda Guerra, pois era onde a ciência estava acontecendo. Nos anos  1970, fomos para o Japão pelo mesmo motivo. Agora, percebemos que havia  muita coisa interessante aqui no Brasil”, disse. A Springer atualmente  está presente em 20 países.
Segundo dados apresentados pelo diretor da Springer Brasil, Harry  Blom, a produção científica brasileira cresce a uma taxa de 17% ao ano –  enquanto a média mundial é de 3% – e já corresponde a 55% da produção  científica da América Latina.
Mariana Biojone, editora da Springer Brasil, apresentou as  ferramentas gratuitas oferecidas no site da empresa para apoiar  pesquisadores. Uma delas é o Author Mapper, que mostra os temas mais  pesquisados do momento e em quais centros. “Isso pode ajudar o cientista  a encontrar colaboradores para seu projeto”, afirmou.
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