segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Formação médica



Um novo modelo para formar novos médicos

Das escolas, espera-se que a avaliação seja condizente com o novo modelo 


Henry de Holanda Campos
 
O ensino médico jamais foi objeto de tantas análises e reavaliações como no momento atual. Seguramente, completado este ciclo, a formação médica estará embasada em práticas e currículos muito mais sintonizados com a realidade que nos cerca, resultando em profissionais capazes de atuar em quaisquer cenários, sintonizados com as modernas tecnologias e, ao mesmo tempo, com os desafios de uma realidade social complexa.

Mudanças de paradigmas têm acontecido no mundo inteiro, orientando-se no sentido de se formarem médicos com uma visão holística do paciente e capazes de responder de maneira efetiva às demandas do sistema de saúde e das comunidades onde atuam. Isto exige que, durante a Graduação, não apenas se trabalhe o conhecimento teórico, mas se desenvolvam competências, habilidades, atitudes e valores. Também impõe uma diversificação dos cenários de aprendizagem, migrando de um modelo tecnicista e hospitalocêntrico para uma visão mais abrangente de saúde, capaz de ensejar parcerias com o sistema público.

O novo modelo não pode prescindir das novas tecnologias de informação e comunicação e inclui as metodologias ativas, cujo processo educacional é centrado no aluno. A ideia é que ele participe ativamente da construção de seu conhecimento. Com ênfase nas atividades de extensão, também exige uma priorização dos problemas de saúde locais mais relevantes, de modo a redirecionar a pesquisa para sua investigação. Igualmente fundamental é que o trabalho se desenvolva sempre em equipe, jamais com o médico atuando de forma isolada.

Das escolas, espera-se que a avaliação seja condizente com o novo modelo, bem assim que fortaleçam seu compromisso social, de modo que estejam sempre articuladas com o SUS, e sintonizem o trabalho de formação com os problemas enfrentados no dia a dia das comunidades. Ao mesmo tempo, é necessário que evitem a fragmentação do currículo. O esforço será no sentido de integrar disciplinas e incluir temas até recentemente olvidados, como a advocacia dos direitos do paciente, gestão e monitoramento de riscos em saúde e atenção aos portadores de deficiências e às minorias.

No processo de abertura de novas escolas médicas, o Ministério da Educação propõe estratégias capazes de levar à fixação de médicos em localidades afastadas e desassistidas. Neste cenário, há de se trabalhar fortemente a articulação entre a Universidade e os gestores dos sistemas municipais e estaduais de saúde, o que já resultou no advento do Contrato Organizativo de Ação Pública Ensino-Saúde-Coapes, que poderá beneficiar cerca de 1,3 milhão de alunos de graduação em 15 profissões da área de saúde.

Tudo são desafios, mas avanços substanciais têm sido obtidos, como a implantação da universalização da residência médica e o fortalecimento da atenção primária. Não há dúvida de que caminhamos no rumo certo.
* Henry de Holanda Campos
  • Reitor da Universidade Federal do Ceará
  • Assessor do Ministro da Educação para Educação nas Profissões da Saúde. 
  • Coordenador da Comissão de Acompanhamento e Monitoramento de Escolas Médicas do MEC   
  • Secretário-geral de "Network - Towards Unity for Health" 
  • Co-diretor do Instituto FAIMER Brasil

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