segunda-feira, 30 de junho de 2008

Saúde na Escola

Saúde na Escola

Amanda Polato 11/09/2007

Dizem que só pensamos em saúde quando estamos doentes. Talvez seja mesmo na hora de enfrentar os corredores e quartos de hospitais que nos damos conta do quanto era bom ser saudável. Para muitas pessoas, a primeira coisa que vêm a mente ao pensar em saúde é a prevenção e cura de doenças. Mas o conceito é mais amplo do que isso, e mudou ao longo dos tempos.
Entrou nas escolas reduzido a questões de higiene. Lavar as mãos, escovar os dentes e manter o ambiente limpo serviam para prevenir doenças. Nada muito além disso. Hoje fala-se em Promoção em Saúde, que é um processo educativo em que os conhecimentos dos alunos e comunidade são aproveitados para discutir temas relacionados à qualidade de vida. A Organização Mundial da Saúde define o conceito de saúde como sendo um completo bem-estar físico e mental. Será que a escola está a par desse debate?
O pesquisador Marcos Henrique Fernandes, investigou qual a concepção de saúde que professores da cidade de Natal tinham sobre saúde. O resultado está descrito em detalhes na dissertação de mestrado A Concepção sobre Saúde Escolar de Professores de Ensino Fundamental, defendida na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O que ele constatou foi que há muito despreparo para lidar com o tema. Os professores não compreendem o real significado de saúde e continuam tratando apenas do aspecto de higiene. Marcos defende que o assunto seja abordado, de fato, como tema transversal e apareça em diversas disciplinas. "Precisamos pensar na saúde como parte da cidadania, pensando em questões de alimentação, moradia, emprego", sustenta o pesquisador.
Falar de saúde em sala de aula é uma ótima oportunidade para relacionar o conhecimento científico com o cotidiano dos alunos. Além disso, os conhecimentos adquiridos costumam ser transferido para familiares e outras pessoas presentes na vida das crianças. Esses e tantos outros argumentos para educar para a saúde na escola acabam se perdendo e o tema não entra satisfatoriamente no currículo. Por quê? É em busca dessa explicação que Marcos desenvolve seu projeto de doutorado, também pela UFRN. Dessa vez, ele investiga o que pensam e o que fazem os professores de ensino fundamental quando o tema é saúde. Quer dizer, será que o professor que deve falar sobre isso está preocupado com o seu próprio bem-estar e está se cuidando? "Pelo o que levantei até agora, os dados não são animadores", conta Marcos.
Recentemente as Secretarias Municipais de Saúde e de Educação de São Paulo, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo, fizeram um piloto do programa Aprendendo com Saúde, em que equipes de médicos e enfermeiros avaliam as condições de saúde dos alunos (com autorização dos pais) e encaminham os casos que necessitam de atendimento especializado. Cerca de 70% de 4 mil crianças atendidas foram encaminhadas a dentistas, oftalmologistas, pediatras, cirurgiões infantis, entre outros especialistas.
O atendimento é extremamente necessário e as escolas e alunos só tem a ganhar com parcerias desse tipo. O que não quer dizer resolver o problema. Sabemos que os educadores têm uma série de papéis a cumprir e desafios a enfrentar, mas a Educação em Saúde não pode ser deixada de lado. Afinal, estamos falando de algo essencial para a vida dos estudantes e também dos próprios professores.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá a todos,

Como é difícil mudar hábitos, verdades tidas como certas e conceitos sociais. Hoje vivemos em meio a inúmeras informações que nos passam sem mesmo uma seleção ou uma ancoragem a conhecimentos já assimilados. Há tempos discutimos o conceito ampliado de saúde. Há tempos buscamos mais que a prevenção ou a reabilitação. A promoção em saúde, o ser integral e o contexto do indivíduo social são buscados, às vezes, alcançados, mas pouco assimilado por pessoas tidas como formadores de opinião. Pessoas referência para tantas outras.
Acho que este estudo nos aponta que ainda não alcançamos a incorporação do conceito ampliado de saúde. Saúde ainda é o estado não doente. Creio que também aponta a necessidade da informação pertinente e a ancoragem de novos conhecimentos. A mudança atitudinal só pode ser iniciada com o aprendizado significativo, crítico e consciente.
Parabéns pelo espaço e pela oportunidade de diálogo.

Abraços!

Beto Durán