Medicina dividida em especialidades deve se reintegrar, diz Nobel
Sydney Brenner, prêmio Nobel em 2002, participou de evento em SP.
'Pessoas devem assumir mais responsabilidade pela sua saúde', diz nobel.
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Sydney Brenner, prêmio Nobel em 2002, participa de evento em São Paulo neste sábado (20)
(Foto: Patrícia Sobrinho/Hospital Israelita Albert Einstein)
Para o prêmio Nobel de Medicina Sydney Brenner, é preciso lutar contra a
divisão rígida da medicina em especialidades. O cientista sul-africano
falou sobre o assunto em sua apresentação no 1º Fórum Medicina do
Amanhã, que acontece nesta sexta-feira (19) e sábado (20) no Hospital
Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
“A pesquisa em medicina se tornou totalmente fragmentada em
especialidades. Se você vai ver um médico a respeito do seu pulmão, ele
não está interessado em seus rins, ou em seu coração. Muitas pessoas
querem saber: ‘Quem está me tratando, eu, que sou o paciente?’”, disse
Brenner. “Então eu acho que a maioria das coisas tem que ser
reintegradas, acima de todas as especialidades que existem e de todas as
restrições impostas por sindicatos. Acho que vamos pesquisar muito mais
do tipo de medicina praticado antigamente.”
Brenner foi laureado com o prêmio Nobel de 2002 por seu trabalho
relacionado à regulação genética do desenvolvimento dos órgãos e no
processo de morte celular.
Revolução em pesquisa
Uma das maiores revoluções na pesquisa biomédica, para Brenner, é a
habilidade que se desenvolveu de transformar células de qualquer ser
humano em células que têm o potencial de se tornar muitas outras células
do organismo: as chamadas células-tronco pluripotentes induzidas.
“Pode-se pegar um paciente, pegar suas células e torna-las células
pluripotentes. Agora estamos começando a aprender a transformá-la em
células específicas diferenciadas do organismo.”
Ter à disposição essas células pluripotentes de um paciente amplia as
oportunidades de fazer análises profundas sobre doenças que atingem
diferentes órgãos do corpo. “Temos uma oportunidade notável de
enriquecer o campo da biologia humana e entender a saúde, a doença e
todas as outras coisas.”
Da beira do leito para a bancada
Para Brenner, o modo como se faz pesquisa biomédica geralmente,
buscando formas de aplicar os conhecimentos adquirido nas bancadas de
pesquisa prática clínica, não é a forma ideal de resolver os principais
problemas da área. “Temos que mudar toda a direção disso e, em vez de ir
da bancada para o leito, temos que ir do leito para a bancada. A pessoa
que está no leito tem um problema que pode ser resolvido pela ciência. A
medicina não pode ser a aplicação da ciência, mas a ciência em si
mesma.”
Responsabilidade pela saúde
Apesar do otimismo em relação ao progresso da medicina, Brenner observa
que o conhecimento também tem limitações e que as pessoas devem assumir
uma responsabilidade maior em relação à sua própria saúde, prevenindo o
surgimento de doenças. “Hoje o homem comum pensa que pode fazer
qualquer coisa que quiser, comer o que quiser, assistir TV o quanto
quiser, e se qualquer coisa acontecer, a medicina tem que salvá-lo com
uma pílula” diz. “As pessoas têm que assumir mais responsabilidade por
sua saúde. Coisas muito importantes como o estilo de vida terão que se
tornar parte da educação das pessoas que estão vivendo nas sociedades
completamente artificiais que temos hoje.”
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