domingo, 21 de setembro de 2014

Medicina do amanhã


Medicina dividida em especialidades deve se reintegrar, diz Nobel

Sydney Brenner, prêmio Nobel em 2002, participou de evento em SP.
'Pessoas devem assumir mais responsabilidade pela sua saúde', diz nobel.


Sydney Brenner, prêmio Nobel em 2002, participa de evento em São Paulo neste sábado (20) (Foto: Patrícia Sobrinho/Hospital Israelita Albert Einstein) 
Sydney Brenner, prêmio Nobel em 2002, participa de evento em São Paulo neste sábado (20) 
(Foto: Patrícia Sobrinho/Hospital Israelita Albert Einstein)


Mariana Lenharo 
Para o prêmio Nobel de Medicina Sydney Brenner, é preciso lutar contra a divisão rígida da medicina em especialidades. O cientista sul-africano falou sobre o assunto em sua apresentação no 1º Fórum Medicina do Amanhã, que acontece nesta sexta-feira (19) e sábado (20) no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

“A pesquisa em medicina se tornou totalmente fragmentada em especialidades. Se você vai ver um médico a respeito do seu pulmão, ele não está interessado em seus rins, ou em seu coração. Muitas pessoas querem saber: ‘Quem está me tratando, eu, que sou o paciente?’”, disse Brenner. “Então eu acho que a maioria das coisas tem que ser reintegradas, acima de todas as especialidades que existem e de todas as restrições impostas por sindicatos. Acho que vamos pesquisar muito mais do tipo de medicina praticado antigamente.”

Brenner foi laureado com o prêmio Nobel de 2002 por seu trabalho relacionado à regulação genética do desenvolvimento dos órgãos e no processo de morte celular.

Revolução em pesquisa
 
Uma das maiores revoluções na pesquisa biomédica, para Brenner, é a habilidade que se desenvolveu de transformar células de qualquer ser humano em células que têm o potencial de se tornar muitas outras células do organismo: as chamadas células-tronco pluripotentes induzidas. “Pode-se pegar um paciente, pegar suas células e torna-las células pluripotentes. Agora estamos começando a aprender a transformá-la em células específicas diferenciadas do organismo.”

Ter à disposição essas células pluripotentes de um paciente amplia as oportunidades de fazer análises profundas sobre doenças que atingem diferentes órgãos do corpo. “Temos uma oportunidade notável de enriquecer o campo da biologia humana e entender a saúde, a doença e todas as outras coisas.”
Da beira do leito para a bancada
 
Para Brenner, o modo como se faz pesquisa biomédica geralmente, buscando formas de aplicar os conhecimentos adquirido nas bancadas de pesquisa prática clínica, não é a forma ideal de resolver os principais problemas da área. “Temos que mudar toda a direção disso e, em vez de ir da bancada para o leito, temos que ir do leito para a bancada. A pessoa que está no leito tem um problema que pode ser resolvido pela ciência. A medicina não pode ser a aplicação da ciência, mas a ciência em si mesma.”
Responsabilidade pela saúde
 
Apesar do otimismo em relação ao progresso da medicina, Brenner observa que o conhecimento também tem limitações e que as pessoas devem assumir uma responsabilidade maior em relação à sua própria saúde, prevenindo o surgimento de doenças. “Hoje o homem comum pensa que pode fazer qualquer coisa que quiser, comer o que quiser, assistir TV o quanto quiser, e se qualquer coisa acontecer, a medicina tem que salvá-lo com uma pílula” diz. “As pessoas têm que assumir mais responsabilidade por sua saúde. Coisas muito importantes como o estilo de vida terão que se tornar parte da educação das pessoas que estão vivendo nas sociedades completamente artificiais que temos hoje.”

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