segunda-feira, 22 de abril de 2013

Docência em Saúde Coletiva



Pesquisas não devem comprometer atividade docente



INFORME ENSP - O convite feito pelos alunos de pós-graduação para discutir a formação docente na saúde coletiva, durante o fórum realizado na quarta-feira (17/4), na ENSP, incitou uma série de debates a respeito do processo de ensino-aprendizagem no país. Entre os aspectos de maior inquietação, reproduzido não só nas falas das pesquisadoras Adriana Aguiar (Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde) e Katia Reis (ENSP), mas também de alunos e participantes, está a realidade de que a supremacia das atividades de pesquisa criaram um distanciamento entre os professores/pesquisadores e a atividade docente. A hegemonia da educação centrada no professor, evidente no ensino stricto sensu no Brasil, e a necessidade de rompimento com o modelo de ensino transmissional também foram destacados pelas palestrantes.



Promovidos pelo Fórum Nacional de Pós-Graduandos em Saúde Coletiva, os Seminários Integrados em Saúde Coletiva compõem uma série de atividades que irão debater a formação do campo no país. Os três encontros têm os seguintes temas: a Formação dos Docentes na Saúde Coletiva, a Interface entre a Graduação e a Pós-Graduação na Formação em Saúde Coletiva e a Formação de Base em Saúde Coletiva na Pós-Graduação.

“A formação docente em saúde coletiva exige uma mudança de paradigma atualmente predominante na cultura das instituições formadoras”, disse Katia Reis, pesquisadora do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da ENSP, logo no início de sua apresentação.

Na opinião da pesquisadora, a formação docente em saúde coletiva, na qualidade de campo de saberes e práticas, não pode ser compreendida em separado do projeto de reforma social, pois proporciona, em última análise, um modelo pedagógico para a atuação no campo da saúde. A literatura identifica algumas dificuldades relacionadas à formação dos professores, como a tendência em encarar com desinteresse os aspectos pedagógicos da docência no âmbito da pós-graduação em saúde, bem como a resistência dos próprios professores às modificações.

 
“Os professores continuam a ensinar como sabem; evitam as novas metodologias de ensino-aprendizagem e desviam-se das concepções pedagógicas mais avançadas ou de vanguarda, especialmente quando envolvem relações democráticas entre professores e alunos”, admitiu a pesquisadora, que também citou a falta de preparo pedagógico dos professores universitários ou da pós-graduação. Ela justificou que a supremacia das atividades de pesquisa tem levado os professores a se afastar das atividades docentes. “Pesquisar e ensinar não são atividades incompatíveis, mas competem no tempo disponível do docente/pesquisador.”

A formação docente deve experimentar novos espaços pedagógicos

Em relação às propostas para a mudança de paradigma nesse campo da formação, Katia Reis sugeriu o desenvolvimento de processos de formação sistemáticos no currículo, criativos e inovadores, cujos eixos fundamentais serão o diálogo e as bases de uma nova epistemologia, além da criação de espaços institucionais e de momentos pedagógicos para a constituição de novos sujeitos sociais.

“A formação docente deve experimentar novos espaços pedagógicos, com o desenvolvimento teórico e conceitual do corpo docente e discente de modo permanente. Não creio que os professores sejam resistentes às mudanças por não quererem aprender o novo. Temos que oferecer espaços de debate como este aqui. Queremos conteúdo, mas em formato pedagógico democrático, que leve à criação de sujeitos críticos, autônomos.”

Adriana Aguiar, do Icict, iniciou sua apresentação comentando a separação existente na relação entre academia e serviço, afirmando que o segundo campo promoveu mudanças que afetaram o modelo assistencial, a educação permanente e as relações de poder, enquanto a universidade concentrou seus esforços na produtividade na pesquisa. “Nos serviços, a gente vê uma série de mudanças que impactaram a prática, como a reordenação da atenção básica com a ESF, por exemplo. Na academia, a universidade enxerga, há décadas, a produtividade na pesquisa como o grande indicador de excelência de qualidade. E isso descompassa o que temos”.

Sobre a relação professor-aluno, a pesquisadora comentou a necessidade de renegociar a relação de autoridade presente, com base não apenas na titulação. “As pessoas têm apego às formas como fazem as coisas na educação. Temos que refletir sobre a pós stricto sensu, pois esperamos que os alunos façam coisas que a gente não dá exemplo. Do ponto de vista da gestão dos programas, precisamos enfatizar mais a aprendizagem que o ensino. A hegemonia da educação centrada no professor é evidente no Brasil”, disse.

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