segunda-feira, 30 de abril de 2012

Sistema único de Saúde




 
OS DESAFIOS AOS SISTEMAS DE SAÚDE NO SÉCULO XXI


Flavio A. de Andrade Goulart


O século XXI, no final de sua primeira década, anuncia grandes desafios para o campo da saúde, de diversas naturezas e soluções nem sempre simples. Os últimos 20 anos, aliás, revelaram questões e problemas que nos levam a refletir sobre “como sair do século XX”, na expressão utilizada por Edgar Morin, com melhores condições de saúde para todos ou, talvez fosse melhor expressá-lo de forma diferente: “como deixar o século XIX, de fato, para trás”? Uma boa questão para iniciar tal discussão seria: de que adoeceremos e morreremos ao longo do século que se inicia? Estudos baseados em novas metodologias de pesquisa epidemiológica, denominadas carga global de doença mostram alguns dados interessantes, ao fornecerem uma estimativa de cenários futuros para as doenças de hoje. Assim, demonstram que para os próximos anos o grupo de enfermidades relacionadas ao subdesenvolvimento, que engloba aquelas de natureza transmissível, as doenças ligadas à maternidade, ao período perinatal e também as carências nutricionais, controláveis por medidas de proteção específicas ou promoção de hábitos saudáveis – todas estas têm perspectivas otimistas para a sua redução, embora com grandes diferenças entre as diversas regiões do planeta. Por outro lado, no que se refere às doenças não transmissíveis de natureza crônica e degenerativa, como é o caso das doenças cardíacas, vasculares, diabetes e câncer, bem como para aquelas decorrentes de lesões por acidentes, traumatismos e outras formas de violência individual e social, a tendência é nitidamente de incremento.Frente a essa nova realidade no panorama das doenças que afetam a humanidade, torna-se necessário pensar de novo o quadro de profissionais, de práticas e de sistemas de saúde que dispomos, para adequá-los às novas exigências humanas, técnicas e científicas. É certo que a nova realidade exigirá profissionais de saúde com formação mais complexa e ampla, com visão e prática social de promoção da saúde e maior qualificação e capacidade de responder ás múltiplas demandas geradas pela transição do padrão de doenças. Além disso, pode ser antecipada a necessidade cada vez maior de incorporação e ampliação dos quadros de novos profissionais no campo da saúde e entre estes podem ser citados alguns já tradicionais, tais como nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, mas também outros, como uma vasta gama de praticantes de outras habilidades no campo social e da saúde, como os terapeutas de família, cuidadores domiciliares, terapeutas de várias especialidades e até mesmo pessoas das próprias famílias a serem colocadas em papel de especial relevância, os cuidadores (mães, mulheres em geral, irmãos mais velhos), necessariamente treinados para tanto. Enfim, torna-se necessária a preparação de gente que trabalhe com uma visão mais ampliada não só de assistência, mas principalmente de promoção da saúde. É fundamental que estes profissionais para o século XXI entendam e pratiquem ações de saúde que incluam aspectos culturais, sociais e, fundamentalmente, a compreensão e a promoção de estilos de vida saudáveis para aqueles que buscam a atenção à saúde.Estudos diversos, de natureza prospectiva, patrocinados pela Organização Mundial de Saúde e por organismos internacionais, mostram alguns ensinamentos, que merecem destaque, como se vê no quadro abaixo:

·     Os dados sobre doenças psiquiátricas têm sido subestimadas nas estatísticas de saúde.
·    As desigualdades entre as regiões pobres e ricas do mundo são imensas e não se reduzirão substancialmente, mesmo no caso das doenças crônicas e degenerativas, consideradas, indevidamente, como decorrência do desenvolvimento das sociedades.
·    O uso do tabaco continuará contribuindo para a morte de mais pessoas do que qualquer outra doença, inclusive AIDS.
·     Embora a maioria das doenças transmissíveis em geral apresente tendência à redução, o mesmo não vem ocorrendo com a tuberculose.
·     Sexo não seguro continuará sendo um grande fator de risco para o futuro, principalmente nas regiões mais pobres.
·   A expectativa de vida crescerá, no entanto os homens continuarão com níveis mais baixos que as mulheres, sem que isso signifique que viver mais seja viver com mais saúde. 
   Continuarão como temas centrais da agenda da saúde como grandes fatores de riscos para a humanidade: a desnutrição, a falta de saneamento básico, o sexo não seguro, o uso do tabaco, o stress, a violência urbana, além de fatores ligados ao processo de trabalho.

A partir dos cenários de doenças e de mudanças do perfil populacional, mas também das transformações que estão ocorrendo nas próprias instituições de saúde, pode-se prever para o futuro algumas implicações para as práticas dos profissionais de saúde bem como para a estrutura dos sistemas de saúde como um todo, revelando a premente necessidade de novos modelos de prestação de cuidados. Assim, do ponto de vista demográfico, ou seja, das mudanças no perfil das populações, é clara a tendência, observada na maioria dos países, para uma população com indivíduos idosos em proporções crescentes, com diminuição da participação dos jovens e, ainda, o desenvolvimento de uma nova estrutura familiar, marcada pelos novos papéis da mulher na sociedade e no mercado de trabalho, bem como pela existência de mais e mais pessoas que já se retiraram da vida produtiva e que necessitam de estruturas sociais e de um sistema de saúde que respondam às necessidades especiais próprias de sua condição de idosos. Por outro lado, quanto aos aspectos da transição epidemiológica, ou seja, da mudança do perfil das doenças hoje amplamente reconhecida e discutida, constata-se o acúmulo das doenças crônicas e degenerativas; a reemergência ou o “permanecimento” (um neologismo criado ad-hoc) de doenças endêmicas, tais como a dengue e a malária; a situação da epidemia de AIDS, ainda em alta e sem evidência de controle no curto prazo e, ainda, a alta prevalência das diversas condições de doença derivadas dos estilos de vida insalubres (fumo, vida sedentária, por exemplo) ou resultantes da interação predatória entre o homem e o meio ambiente.

Se não bastassem os problemas derivados do processo de transição demográfica e epidemiológica, como vistos acima, os desafios aos sistemas de saúde tornam-se ainda mais complexos e problemáticos devido aos obstáculos políticos e institucionais ainda existentes nos países mais pobres (e mesmo entre os mais ricos). Tais dificuldades são caracterizadas pela conjunção de fatores negativos variados, tais como a carência de recursos financeiros e, a conseqüente disputa acirrada pelos mesmos; a elevação progressiva dos custos dos serviços médicos, em boa parte, fruto da incorporação desmedida de tecnologia de alto custo; a cultura de hospitalização tão difundida e praticada nos sistemas de saúde; a existência de um quadro profissional limitado e pouco adequado, seja do ponto de vista qualitativo ou quantitativo em relação às necessidades da população, entre outros.Algumas mudanças do modelo de atenção e cuidados são, como se vê, necessárias e devem ser implementadas sem mais tardança, conforme se pode apreciar abaixo:

·  Mudança de enfoque dos cuidados, basicamente, de doenças agudas em jovens para doenças crônicas em idosos;
·    Deslocamento do objeto das práticas, ou seja, de indivíduos para famílias, de cura para prevenção e o enfoque da promoção da saúde;
·   Desenvolvimento de novas abordagens voltadas para hábitos e estilos de vida;
·    Novas concepções e práticas educativas, com especial ênfase no papel feminino, buscando o autocuidado e apoio ao grupo familiar;
·    Necessidade de capacitação de provedores de cuidados na própria família, com especial ênfase no cuidado ao idoso, na maternidade, no e puerpério;
·   Ênfase na ação social, (mais que sanitária), visando a preservação da estrutura familiar;
·   O desenvolvimento dessas ações em novos cenários: domicílios, locais de trabalho, creches, lares de idosos, etc., promovendo assim uma efetiva política de promoção da saúde.


Tais cenários, no contexto brasileiro, nos levam a refletir sobre a necessidade de uma adequação dos objetivos institucionais do sistema de saúde e das funções e papéis que os profissionais de saúde terão que desenvolver nesse contexto de mudanças e ajustes. Assim, alguns aspectos tópicos que se esperam das estruturas de saúde de modo geral, incluem, por exemplo, a ampliação dos ambientes organizacionais, das jornadas de trabalho e das estratégias de atendimento, incentivando-se, por exemplo, como já vem acontecendo em alguns países, inclusive no Brasil, o cuidado domiciliar, além do incremento qualitativo dos
processos de captação das necessidades sociais e sua tradução em ações de saúde, resposta que já vem sendo dada, também em nosso país, pela introdução dos programas de Saúde da Família.Novas estruturas organizacionais terão que surgir em resposta à necessidade de se ter estruturas mais flexíveis nos órgãos gestores de saúde. Desta forma, os quadros profissionais terão que se adaptar às normas e regras organizacionais dessas instituições responsáveis (ou responsabilizáveis), que terão que prestar contas socialmente dos serviços prestados. Em outras palavras, isto constitui resultado da operacionalização de um conceito muito difundido nos sistemas atuais de política social, que é a “demanda e prestação de contas” (ou accountability), que inclui não apenas o controle social realizado nos conselhos e conferências de saúde, como também as chamadas ouvidorias de saúde e outras inovações congêneres além, acima de tudo, de uma postura política coerente, a ser exercida tanto pelos gestores como pelos conselhos e sociedade organizada em geral.
A incorporação de novos agentes de saúde como, por exemplo, o incentivo ao papel da mulher como provedora de cuidados para a família, bem como outros, como monitores em saúde mental, terapeutas de família, além de outros profissionais alternativos certamente deverão ser dotados de mais ênfase do que foram até agora.O trabalho programado, visando a atenção a grupos de risco, como estratégia de se obter a equidade deverá ser uma das tônicas dos novos sistemas. Assim, o estabelecimento de grupos-alvo para a atenção, como mulheres grávidas, crianças até seis anos e famílias de baixa renda deverão ocupar atenção especial dos tomadores de decisão em saúde. Da mesma forma, o desenvolvimento de estratégias e capacitação para atenção a idosos, adolescentes, desempregados, pessoas que vivem nas ruas, refugiados e outros grupos vulneráveis.A ação interssetorial, envolvendo educação, assistência social, judiciário, empregadores e a sociedade organizada em geral é outro aspecto a ser destacado. Neste campo se insere, ainda, o desenvolvimento de redes formais e informais de apoio. Clareza nas prioridades é fundamental: ações de promoção, prevenção e reabilitação frente a problemas emergentes, tais como, violência doméstica, outras violências, órfãos da AIDS, doença mental, gravidez na adolescência e de alto risco, riscos ambientais, passam a ser considerados com uma ótica de compromisso de resultados. Outro aspecto marcante dos novos sistemas de atenção à saúde deverá ser a abertura de novos cenários para provisão dos cuidados (domicílios, locais de trabalho, etc.), com o conseqüente desenvolvimento de facilidades para redução da utilização dos hospitais. Em tais estruturas, não seria demasiado insistir, a família passa a ter um papel diferenciado e estratégico. Em outras palavras, deve ser reconhecida como autêntica parceira do sistema oficial nos cuidados à saúde.
É fundamental, ainda, uma maior articulação entre os serviços de saúde e as universidades e as escolas formadoras de pessoal para a saúde. Tomado como exemplo, o processo de formação dos médicos na sociedade contemporânea se vê acuado por desafios imensos. As bases tecnológicas da prática, verdadeiro pilar da formação médica atual, enfrentam o dilema de produzirem pouco benefício para a maioria da sociedade, alijada que está do acesso aos mesmos, ou os recebendo apenas marginalmente. O apelo individualista, calcado na relação médico-paciente inspirada no juramento hipocrático e gerador de um modelo artesanal de prestação de serviços de indiscutível eficácia em épocas passadas, transformou-se em verdadeiro anacronismo. A medicina contemporânea é fortemente intermediada em termos institucionais, burocráticos e econômicos e as escolas médicas parecem não se dar conta de tal fato, realizando suas atividades docentes e assistenciais como se os tempos ainda fossem outros. Trata-se de um panorama extremamente mutante, complexo, conflituoso, com soluções ainda mal vislumbradas no horizonte. Entretanto, não há motivo para se ser pessimista, principalmente se acreditar nas possibilidades e oportunidades abertas pelo jogo das pressões, negociações e busca de consenso entre os atores sociais, entre eles, sem dúvida, os diversos eventos e organismos de representação de interesses coletivos hoje disponíveis no país. Apesar das dificuldades, não há como negar que o campo da saúde está ainda aberto para mudanças, pela sua transcendência na existência de cada indivíduo e pelas implicações que possui na vida social.

Flavio A. de Andrade Goulart (Médico; Doutor em Saúde Pública pela ENSP/FIOCRUZ - Rio de Janeiro; Professor Titular aposentado da Universidade de Brasília; membro fundador do CONASEMS; ex Secretário Municipal de saúde em Uberlândia-MG: 1983-88 e 2003-2004)

domingo, 29 de abril de 2012

Revalidação de diplomas estrangeiros


Governo quer desfigurar o Revalida. Melhor seria ampliá-lo

Governo tem plano para flexibilizar exame que avalia médicos formados fora do Brasil. Saiba por que isso é uma ameaça à saúde pública

Guilherme Rosa*
Revalida: somente 12% dos estudantes passaram no teste em 2011  
As principais entidades ligadas à área da medicina no Brasil assinaram, em abril, uma carta favorável à manutenção do Revalida, prova aplicada pelo governo para autorizar os médicos formados no exterior a atuarem no Brasil. Assinaram o documento entidades como o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), a Associação Paulista de Medicina (APM) e diversas faculdades de medicina, entre elas USP e a Unicamp. A carta foi escrita depois que correntes dentro do Governo Federal, a pedido da presidente Dilma Rousseff, começaram a trabalhar veladamente para flexibilizar a exigência da prova, com a intenção de facilitar a entrada desses profissionais e aumentar o número de médicos no país.
Uma das propostas que está sendo analisada pelos Ministérios da Saúde e da Educação é dispensar o candidato de fazer o exame, desde que ele cumpra dois anos de trabalho no SUS. A ideia, boa em princípio, é uma temeridade. Com a declarada intenção de ajudar regiões com poucos médicos, na prática ela acabaria colocando profissionais sem treinamento adequado para atender a população mais carente. As entidades médicas encaram, com razão, a possibilidade como uma ameaça à saúde pública. "Isso é colocar o povo em risco, deixá-lo sujeito à tragédia do erro médico. Somos favoráveis ao Revalida como é feito hoje", diz Florisval Meinão, presidente da APM.
Antes do Revalida, as provas para revalidação de diploma podiam ser realizadas por qualquer universidade pública, o que causava grandes problemas. Além do fato de algumas faculdades ficarem anos sem fazer as provas, cada instituição adotava critérios diferentes, levando a exames com graus de dificuldade díspares. Desde 2010, o governo unificou todo o processo. Uma única prova é feita anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e aplicada em 37 universidades públicas.


COMO FUNCIONA O REVALIDA
Realizado anualmente, é constituído por três provas: uma objetiva com 110 questões, uma discursiva com cinco questões e uma prova prática. Para passar para a prática, o aluno precisar somar, no mínimo, 112 pontos no total (soma da nota da objetiva com a discursiva). Cada questão da prova objetiva vale 1 ponto. A prova discursiva toda vale 50 pontos, sendo que cada uma das 5 questões vale 10 pontos.

*
Prova objetiva de 2011 e o gabarito
*Prova discursiva
de 2011 e o gabarito

No ano passado, o resultado da prova mostrou o quanto o Revalida é necessário: dos 677 inscritos, só 65 foram aprovados. Os outros 612 não apresentaram as condições mínimas para exercer a medicina no Brasil. Em 2010, o resultado foi ainda pior: dos 507 inscritos, apenas dois passaram. "A prova é muito básica. Ela cobra conhecimentos que todo médico precisa ter se quiser atender a população, como reconhecer uma pneumonia ou tratar uma diarreia", diz Renato Azevedo Junior, presidente do Cremesp. Segundo o médico, colocar um desses profissionais reprovados para trabalhar no SUS não vai ajudar a solucionar a crise da saúde pública no Brasil, mas sim provocar mais problemas.
A gaúcha Aline Vidal de Almeida, de 26 anos, se formou em medicina no Instituto Universitario de Ciencias de la Salud Fundación Barceló, na Argentina. Ela prestou o Revalida no ano passado, mas não foi aprovada. Mesmo assim, diz que a prova não foi difícil. "Ela não era impossível como todo mundo fala. Mas eu tive dificuldades nas partes referentes a epidemiologia e saúde pública", afirma. Isso se deve ao fato de que as doenças e os protocolos médicos que mais estudou durante a faculdade estavam voltados para a realidade argentina, e não para a brasileira. "Lá as prioridades são diferentes. É bom que exista essa prova, para que nos atualizemos no que se exige no Brasil."
Pressão política — Grande parte dos inscritos no exame são oriundos de faculdades da América Latina, para onde vão em busca de cursos mais baratos ou que dispensem o vestibular. Dos inscritos no ano passado, 304 se formaram na Bolívia, onde hoje se encontram 25.000 brasileiros em busca de um diploma de medicina, segundo o Cremesp. O país é tão procurado pelos estudantes brasileiros que inúmeros sites na internet oferecem consultoria, em troca de dinheiro, para matriculá-los em faculdades como a Ucebol, em Santa Cruz de la Sierra, e a Upal, em Cochabamba.
Na Bolívia, uma mensalidade no curso de medicina pode custar entre 250 e 500 reais, sem a necessidade de vestibular para ingressar. Já no Brasil, o valor médio do mesmo curso é 4.000 por mês, e o estudante tem de passar por uma prova, em que enfreta forte concorrência. Esse preço tão baixo na Bolívia influencia a qualidade do curso oferecido. "Muitas das faculdades particulares do país são caça-níqueis. Elas têm turmas com mais de 500 alunos, algumas sequer têm um hospital escola", diz Azevedo Junior. Outros 140 inscritos no Revalida estudaram em Cuba, país onde a seleção de quem entra na universidade não se dá por vestibular, mas por indicação política. "Políticos brasileiros de todos os partidos indicam alunos, na maioria militantes partidários, para ir estudar lá", afirma Azevedo Junior.

"Passei no Revalida"

Daniela Lais Schwercz, 36 anos,
Universidad Católica de Cuenca, no Equador

"Fui para o Equador fazer faculdade porque meu marido é equatoriano. Nós nos conhecemos na Rússia e acabamos estudando no país de origem dele. Em 2011, fiz a revalidação pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). O processo consistia em uma prova escrita e, na sequência, um estágio de um ano no hospital universitário. Um assunto muito abordado no exame foi saúde pública, protocolos do SUS. Acho que é nesse ponto que os candidatos acabam tendo mais dificuldades, porque cada um aprende o protocolo do país onde estudou. Hoje moro em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, e estou atendendo pela prefeitura em um contrato de um ano. Enquanto isso, estou estudando para as provas de residência."

"Não passei no Revalida"

Aline Vidal de Almeida, 26 anos, Instituto Universitario de Ciencias de la Salud Fundación H. A. Barceló, Argentina

"Acabei indo fazer faculdade na Argentina porque com 17 anos não tinha cabeça para estudar para o vestibular. Minha faculdade era boa, tinha um hospital próprio, mas acho que o curso acabou sendo muito teórico e com pouca prática: só fui para o hospital no quinto ano. Vim para o Brasil em 2010 e prestei o Revalida em 2011. Achei a prova bastante razoável, não foi impossível como todo mundo fala. Se você estuda, dá para passar. Mas eu tive dificuldades nas partes referentes à epidemiologia e saúde pública. Não passei no Revalida nem na prova da Faculdade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na Argentina, as prioridades são diferentes, os protocolos de atendimento são outros. Por isso, acho bom que exista essa prova, para que nos atualizemos sobre o que é exigido no Brasil. É importante que o médico saiba os protocolos corretos que são usados no país."
Concentração — O principal argumento do governo para flexibilizar o Revalida é a suposta falta de médicos no Brasil, principalmente nos rincões do país. No Senado, tramitam dois projetos de lei que discutem mudanças na prova. Um deles, de autoria do senador Roberto Requião (PMDB-PR), propõe que algumas faculdades de indiscutível excelência acadêmica tenham seus diplomas automaticamente reconhecidos no Brasil, sem a necessidade de provas. O projeto é destinado a todos os cursos, e não é voltado exclusivamente à medicina. Outro projeto, de autoria da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB- AM), é dirigido somente aos médicos formados no exterior. A senadora propõe que a validação dos diplomas estrangeiros seja facilitada, mediante o trabalho desses profissionais em regiões carentes do país. Seu principal argumento é a falta de atendimento médico nas zonas mais isoladas do Brasil.
Ideia semelhante já está sendo posta em prática pelo governo de Pernambuco. Como as universidades públicas não foram proibidas de fazer suas próprias provas de revalidação, a Universidade de Pernambuco (UPE) decidiu não aderir ao exame nacional e fazer seu próprio exame a partir deste ano, o Provalida. "O candidato tem de assinar um termo de compromisso dizendo que irá exercer a profissão em um município com poucos médicos", diz Rivaldo Mendes, vice-reitor da UPE. Embora Mendes diga que a prova local não será mais fácil que o Revalida, o sindicato dos médicos do estado já se manifestou contra sua existência, pois a encara como uma alternativa menos rigorosa ao processo seletivo nacional.
Quanto ao argumento de que há poucos médicos no país, as entidades dizem que o que existe, na verdade, é a má distribuição dos profissionais, que se concentram nas regiões de maior renda. "Mais importante do que o número de médicos, é ter políticas públicas para fixá-los nos locais mais necessitados", diz Florisval Meinão. Uma pesquisa feita pelo Cremesp em parceria com o Conselho Federal de Medicina põe em relevo as facetas do problema. Para cada mil usuários do sistema privado de saúde, há 7,6 médicos, enquanto para cada mil do sistema público há somente 1,95. No Rio de Janeiro, existem 3,57 médicos para cada mil habitantes. Já no Maranhão, só existem 0,68. A Organização Mundial da Saúde recomenda pelo menos um médico para cada mil habitantes.
"Na cidade de São Paulo, que tem 4,33 profissionais para cada mil habitantes, nós encontramos dificuldades para levar médicos à periferia, onde se ganha mal, não há perspectiva de carreira, enfrenta-se violência e falta estrutura para trabalhar", afirma o presidente da AMP. Segundo as entidades, se o governo quiser resolver os problemas, não basta colocar médicos mal formados para tratar populações pobres no interior do país. Ele deveria dar início a uma política pública para o médico, que leve em conta carreira, salário, segurança e condições de trabalho. "Assim o governo garantiria sua presença nesses lugares. Fora isso, serão medidas paliativas", diz Azevedo Junior.
Exame nacional — O Revalida hoje constitui um bom filtro para evitar que médicos despreparados vindos do exterior exerçam a clínica no Brasil. Por isso mesmo, deveria ser aplicado inclusive aos futuros médicos formados em território nacional. Existem dúvidas se os profissionais formados aqui dentro seriam capazes de passar na prova. Dos 177 cursos de medicina avaliados no Enade em 2010, 27 apresentaram nota menor que dois. Para ser considerada satisfatória, uma universidade precisa de uma nota maior que três. Pelo menos 16 desses cursos terão vagas cortadas pelo MEC.
Boa parte das entidades defende a ideia de universalizar o Revalida, como uma espécie de exame da OAB voltado aos médicos. "É necessária uma prova de conhecimentos básicos, porque a formação médica nacional está muito ruim. Estão sendo abertas faculdades de medicina sem condições de ensinar, sem hospital-escola, sem garantia de residência", diz Azevedo Junior.
O Cremesp realiza todos os anos uma prova voluntária para avaliar os médicos. Mesmo sendo um exame voluntário, cerca de 60% dos alunos não obtêm aprovação. "A realidade deve ser ainda pior, já que os participantes da prova são aqueles que se sentem mais preparados. Isso é uma tragédia", diz o presidente da entidade.
Nos Estados Unidos (veja abaixo como funciona o processo de revalidação do diploma médico em outros países), qualquer médico que pretenda clinicar no país tem de passar por uma série de provas que testam sua capacidade. Quem se formou fora do país precisa cumprir as mesmas etapas. Se isso for repetido no Brasil quem vai se beneficiar são os pacientes, tanto dos grandes centros urbanos quanto das regiões mais isoladas. Com a aprovação num exame como o Revalida, a população terá certeza que seus médicos, independente de onde ele se formaram, têm capacidade de exercer a profissão.

Como funciona a revalidação do diploma médico em outros países

Estados Unidos — Para praticar a medicina no país, qualquer um precisa passar num teste chamado United States Medical Licensing Examination. Para aqueles que fazem a faculdade nos Estados Unidos, ele é aplicado em três etapas. Duas delas acontecem durante o curso, e uma depois. Já aqueles que estudam fora podem escolher se fazem os exames durante o curso, direto do país onde estão, ou depois, quando se mudarem para os Estados Unidos. Em 2010, 78% dos estudantes formados fora do país que prestaram a terceira etapa da prova foram aprovados.

Alemanha —
Desde 2005, a União Europeia (UE) criou um mecanismo que unifica as qualificações necessárias para exercer a medicina em suas fronteiras, reconhecendo os diplomas dos países que fazem parte do grupo. Os médicos formados fora da UE têm de conseguir a autorização com uma das 17 associações médicas do país — existe uma para cada estado. Essa organização irá avaliar se o treinamento e as qualificações pelas quais o estudante passou na faculdade são equivalentes ao treinamento médico básico do país. Se houver dúvidas, ele terá de passar por testes de conhecimento médico, que variam de estado para estado.

Inglaterra —
No Reino Unido não existe nenhuma restrição sobre quem pode tratar a saúde de pacientes. A Constituição permite a qualquer um fornecer serviços na área, desde que deixe clara sua formação. A pessoa só estará cometendo crime quando mentir sobre sua qualificação médica. No entanto, somente os profissionais registrados no General Medical Council são considerados aptos para servir em hospitais públicos e particulares, receitar remédios e dar atestados de saúde. Todo mundo que termina a faculdade no país pode se registrar automaticamente. Já aqueles que vêm de fora da União Europeia têm de passar por uma prova chamada Professional and Linguistic Assessment Board Test, que vai testar seus conhecimentos linguísticos e médicos. Numa das etapas da prova, ele irá interagir com um ator, quando serão testadas suas habilidades de diagnóstico e de comunicação com os pacientes.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Residência Médica


Prorrogadas as Inscrições para o Curso de Desenvolvimento Pedagógico para preceptores

A coordenação do Projeto decidiu prorrogar, até o dia 30 de abril de 2012, o prazo de inscrições para o curso de desenvolvimento de competência pedagógica para a prática da preceptoria na residência médica para os centros colaboradores:
Universidade Federal do Acre
Universidade Federal da Bahia
Universidade Federal de Goiás
Universidade Federal do Mato Grosso
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Universidade Federal do Pará
Universidade Federal de Pernambuco
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Universidade Federal de Roraima
 
Ressaltamos que as inscrições para os centros colaboradores de Tocantins, Ceará e Maranhão foram encerradas e o resultado do ordenamento classificatório está disponível na página http://www.abem-educmed.org.br/preceptores.php
 
O resultado do processo seletivo será divulgado no site da ABEM, no dia 02 de maio de 2012 e os preceptores selecionados deverão enviar os documentos relacionados na ficha de inscrição para o email preceptoriaabem@gmail.com
 
 
Acesse o site da ABEM e faça sua inscrição: http://www.abem-educmed.org.br/preceptores.php
 
 
 
Cordialmente,
Projeto ABEM - Desenvolvimento de Competência Pedagógica para a Prática da Preceptoria na Residência Médica

terça-feira, 24 de abril de 2012

Instrumentos de Pesquisa Online

 

5 Tips for Creating Great Looking Online Surveys

by
An online survey measures practical information to help businesses improve their customer services and gain information from its consumers. But just because a survey is a practical tool doesn’t mean it is exempt from creativity. Here are five tips to creating great looking online surveys that are sure to get a response rate.
Tip #1: Customize the Template Colors
QuestionPro makes it easy to customize your survey template with different colors. In fact, you can change the look and feel of nearly all aspects of your survey through the Customization options. Change up the background color. Make important questions more visually appealing. You can even break up the text by alternating color-coded text sections. Use of varying colors helps make a survey look exciting and breaks up the information into readable sections.
Tip #2: Add Your Logo to the Survey
Brand your online survey with your company logo or identifier. This helps the customer know the survey is legitimate, while at the same time, adding your brand to another webpage. Using QuestionPro’s “Display Options” module, it’s easy to upload your logo to surveys as well as the survey recruitment emails. The process is as easy as uploading an email attachment.
Tip #3: Add Images to a Survey
Images are another great way to break up text and test marketing photos and ideas. To insert an image to a Question-Answer option QuestionPro survey, copy the HTML code from the “My Image Library.” When you add questions, simply paste the code where you want the image to appear.
Here’s an example of a question you can write to rate an image.


Always remember to keep intellectual property in mind when using images. Don’t run the risk of using copyright materials that you don’t own, as you are responsible for your survey content.
Tip #4: Customize the Email Invitation
The email invitation you create to invite people to take a survey is just as critical as the design of the survey itself. Be sure the email is designed well and engages the reader to click-through to the survey. There’s no point in having a visually appealing survey if you cannot get people to click on the link that brings them to the questions.
Tip #5: Customize the Email Thank You
Sending a thank you email after the individual completes the survey is an important part of the process. And just because the survey has been completed doesn’t mean the email thank you should be any less visually appealing as the survey. These components are all part of the process. QuestionPro helps you upload logos and images to the emails just as easily as you would to the survey itself.
As you get to work on crafting your online survey tool, remember the visual aspect is as appealing as the questions themselves. Experiment with adding color to the templates and font. Use images and logos to set your survey apart from others. And always say thank you to your customer for providing feedback.