Médicos denunciam acesso irrestrito a dados de pacientes
“Estes dados clínicos devem ser absolutamente confidenciais, são protegidos por normas legais e pelo segredo profissional médico” - reforçam os médicos na denúncia.
Roberto Henrique
A Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD), entidade responsável pela fiscalização do novo Regulamento de Proteção de Dados da União Europeia (GDPR – General Data Protection Regulation) acaba de aplicar uma multa de 400 mil euros ao Centro Hospitalar Barreiro Montijo,
localizado em Portugal, por permitir o acesso indiscriminado de dados
clínicos de pacientes por funcionários não autorizados, entre outras
violações previstas na GDPR.
O processo iniciou-se com a denúncia realizada por médicos que
trabalham no hospital e que constataram as falhas de segurança no
sistema que registra os dados pessoais e de tratamento dos pacientes.
Segundo o sindicato que representa os profissionais, o conselho
administrativo do hospital estava ciente das vulnerabilidades no
sistema.
Imagens: Pixabay
Uma das vulnerabilidades constatadas pela auditoria da CNPD, permitia
que funcionários do setor de Serviços Sociais tivessem usuários
cadastrados no sistema com os mesmo privilégios de acesso dos usuários
médicos, violando assim, não somente os princípios da GDPR, mas também
normas que regulamentam o segredo profissional entre médico e paciente,
por exemplo.
Também foram constatadas deficiências na gestão de usuários, pois o
hospital possui em seu quadro de médicos apenas 296 profissionais, porém
no sistema foram localizados 985 usuários ativos. Segundo o hospital,
estes outros 689 usuários ativos são de profissionais que tiveram
passagem temporária pela instituição, mas que em um ambiente devidamente
monitorado, jamais poderia ser permitido.
Por fim , o hospital não dispunha de regras internas para a criação
de contas (que eram criadas depois do envio de e-mails pelos diferentes
diretores dos serviços) ou seja, se não havia controle na gestão dos
usuários e nem um processo de autorização padronizado para conceder
acessos a novos usuários, quanto menos deveria ter para remover acessos
de quem estivesse se desligando do hospital, o que ficou evidente na
lista de 689 médicos excedentes.
Para o cenário brasileiro, fica o alerta com a aplicação da LGPD (Lei
Geral de Proteção de Dados), pois erros como os citados acima são mais
do que rotineiros nas organizações que passam por eventuais auditorias,
só que agora, mais do que uma não conformidade, o descumprimento de
requisitos similares a estes, poderá significar prejuízo financeiro
imediato, se houver o mesmo rigor na aplicação de multas.
Isso é algo que ainda não está muito claro no Brasil, pelo fato de
não termos a definição de como irá funcionar na prática a entidade que
será responsável pela fiscalização e aplicação das penalidades a todas
as empresas que descumprirem os requisitos previstos na lei. Por isso, é
bom aproveitar o momento e botar a casa em ordem, pois faltam apenas 16
meses para que todos se adaptem a esta nova realidade.
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