ACREDITAÇÃO DE ESCOLAS MÉDICAS: CFM e ABEM lançam novo sistema de avaliação de cursos no País |
O Sistema de Avaliação de Cursos foi apresentado à imprensa
O
Saeme, que estará plenamente implantado em três anos, tem a meta de
contribuir com o aperfeiçoamento do ensino médico no Brasil, apontando
estabelecimentos de ensino atentas à qualidade necessária para a
formação dos profissionais e estimulando o aperfeiçoamento da estrutura
daquelas que ainda não têm o escopo esperado.
Escolas
médicas de todo o Brasil poderão aderir a um modelo implementado pelo
Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de
Educação Médica (ABEM) que ajudará a identificar cursos de Medicina
(públicos e privados) que estão atentos às exigências mínimas para a
formação dos futuros profissionais. O Sistema de Acreditação de Escolas
Médicas (Saeme) deverá atingir, no primeiro ano, 20 instituições de
ensino do País. Elas são voluntárias, provenientes de diferentes regiões
e com tipos distintos de estatutos jurídicos, tempo de existência e
métodos de ensino.
Nesta
primeira etapa, que começa em outubro, dez cursos serão públicos e dez
cursos privados. A seleção das escolas será proporcional à distribuição
regional, sendo seis do Sudeste, quatro do Nordeste, quatro do Sul, três
do Centro-Oeste e outros três do Norte. As primeiras visitas devem
ocorrer entre novembro e dezembro, com expectativa de divulgação até o
primeiro trimestre de 2016. Nos anos seguintes, será iniciado o processo
de acreditação propriamente dito.
“Os
números atuais apontam a existência de 252 cursos de medicina, que, por
ano, oferecem vagas para 22.778 novos estudantes. Há ainda outros a
serem autorizados pelo governo sem a observação de parâmetros essenciais
para o seu funcionamento. Não tenho dúvidas de que algo consistente
precisa ser feito para a sociedade não ficar à mercê de políticas de
interesses menores e de influências empresariais. O Saeme será um
processo de adesão e estou convicto de que o CFM possui crédito social e
a ABEM possui capilaridade para exercerem e qualificarem o trabalho”,
frisou o presidente do CFM, Carlos Vital.
A
iniciativa, que nasceu no âmbito da Comissão Independente de Avaliação
de Escolas Médicas, coordenada pelo 1º vice-presidente do CFM, Mauro
Luiz de Britto Ribeiro, começa a ser aplicado ainda em 2015. A meta é
que esteja plenamente implantado em três anos. A assinatura do convênio
para o início das atividades aconteceu no dia 19 de junho, durante
sessão Plenária do CFM, em Brasília (DF).
Para
os envolvidos, o Saeme nasce como um instrumento que promove maior
participação da comunidade científica e da sociedade para o
desenvolvimento de uma visão crítica sobre a qualidade dos cursos de
medicina no Brasil. “O Saeme era um sonho da comunidade acadêmica. Eu
estou muito feliz com essa iniciativa, não só enquanto médico, professor
e presidente da ABEM, mas como cidadão”, declarou o presidente da
Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM), Sigisfredo Luis
Brenelli.
O presidente da ABEM explicou aos jornalistas como funciona o sistema
Os
professores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(FMUSP), Milton de Arruda Martins e Patricia Zen Tempski, explicaram que
a ideia o Saeme seja totalmente independente dos governos federal,
estadual ou municipal. “A avaliação externa dos cursos de medicina é um
componente fundamental para aferir qualidade e desenvolver excelência na
oferta de ensino. O modelo de avaliação exclusivamente estatal do
Brasil é uma exceção no mundo desenvolvido”, destacou Arruda, que é
coordenador técnico da proposta.
Apenas cursos que atendem requisitos serão acreditados
- “Um curso de medicina será acreditado pelo CFM e ABEM, por meio do
Saeme, quando demonstrar que possui os requisitos necessários para a
formação de médicos de acordo com o estabelecido por essas entidades”,
explica Milton de Arruda Martins, professor titular de Clínica Médica da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e
coordenador do grupo técnico responsável pelo Sistema.
Dentro
da proposta recém-lançada, a acreditação é o reconhecimento formal da
qualidade de serviços oferecidos por uma instituição, baseado em
avaliação padronizada por um organismo independente, comprovando que o
curso atende a requisitos previamente definidos e que tem competência
para realizar seu papel de modo eficaz e seguro. O entendimento foi
consolidado após análises de modelos similares e de um vasto escopo de
referências técnicas e teóricas.
O
Saeme é baseado em trabalho desenvolvido por um grupo de pesquisa,
coordenado pelos professores Patricia Tempski e Milton de Arruda
Martins, que elaborou um instrumento e um roteiro para avaliar os cursos
de medicina no Brasil. Na prática, serão observados aspectos dentro de
cada instituição de ensino, como seu contexto e política institucional,
projeto pedagógico, programa educacional, corpo docente e discente e
infraestrutura.
Na
fase de testes, esse modelo já foi aplicado em oito cursos de medicina,
sendo que os resultados validaram as possibilidades positivas de sua
aplicação no País. “É um processo de avaliação que utiliza os conceitos
de suficiência e insuficiência, não sendo classificatório. Nosso projeto
permite ainda identificação de áreas ou aspectos de excelência
educacional e de áreas que necessitem de aprimoramento”, enfatiza Milton
Arruda.
A
proposta compreende uma etapa de preenchimento on-line de questionário,
seguida de análise destes dados e visita ao curso de medicina Confira
abaixo o passo a passo:
Experiências internacionais nortearam proposta lançada - Para
a criação do Sistema que tem o aval do CFM e da Abem, foram estudados
seis processos internacionais de avaliação do ensino médico: o Liaison
Committee on Medical Education (LCME), que é utilizado no Canadá e nos
Estados Unidos; o General Medical Council (GMC), em funcionamento na
Grã-Bretanha; o Australian Medical Council (AMC); o ARCU-SUL, que faz a
acreditação de cursos universitários do Mercosul; o Neederlands-Vlaamse
Accreditation Organization (NVAO), em atividade na Holanda; e o
Institution for Academic Degrees and University Evaluation (NIAD),
reconhecido no Japão.
Todos
eles foram comparados entre si e com o Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Superior (Sinaes), adotado atualmente pelo Ministério da
Educação brasileiro como processo vigente para mensuração dos diferentes
aspectos relacionados à formação superior. Inclusive, suas conclusões
servem de subsídio para o ato de abertura, o reconhecimento e a
renovação de reconhecimento das escolas médicas no Brasil.
O
estudo desenvolvido pelo grupo de trabalho apontou alguns pontos fracos
do Sinaes. Essas fragilidades serviram de parâmetro para a elaboração
da proposta que está sendo lançada e colocada em prática pelo CFM e pela
ABEM. “Nosso entendimento é que o processo atual de avaliação das
escolas médicas no Brasil tem sido mais impositivo do que democrático, e
mais regulatório do que emancipatório”, anotaram os pesquisadores
Milton de Arruda Martins e Patricia Tempski, coordenadores do estudo que
originou o Saeme.
Além
da crítica do modelo em vigor no País e da verificação criteriosa de
seis sistemas internacionais, o grupo ainda buscou fundamentação nas
diretrizes de acreditação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da
World Federation for Medical Education (WFME), 2004) para concluir seu
trabalho.
Entre
os pontos em destaque, que foram colocados em perspectiva pelo Saeme,
está a conclusão de que as três dimensões da avaliação externa
consideradas pelo Sinaes (instalações, corpo docente e
didático-pedagógico) não apreciam toda a realidade institucional dos
estabelecimentos de ensino médico. Isso permite negligenciar pontos como
a adequação dos cursos às Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN); à
avaliação do aluno e do processo de aprendizagem; e ao contexto de
gestão institucional.
Todas
essas conclusões estão presentes no relatório “Análise de processos de
avaliação e acreditação de escolas médicas no Brasil e no mundo”.
Confira a seguir alguns outros pontos que mereceram destaque no
documento:
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