Reflexão
O SUS que temos e o SUS que queremos
Roberto Zonato Esteves
Em países que realmente encaram a
saúde como um dever do Estado, as pessoas têm atendimento público de qualidade
e a opção de pagarem por um atendimento privado, se quiserem. No Brasil, temos
um sistema que estimula o atendimento privado como forma de diminuir a demanda
por serviços públicos e deixa o atendimento público para os que não tem escolha.
Vendo a questão como um defensor
dos princípios do SUS, fico muito preocupado com políticas de estado que
enfraquecem os seus alicerces. Se o Estado deixasse de estimular, com o
abatimento no Imposto de Renda da Pessoa Física, o cidadão a ter um plano de
saúde e limitasse os gastos crescentes com o financiamento de planos de saúde
dos funcionários públicos, teríamos uma classe média instruída e ciente de seus
direitos a pressionar pelo adequado financiamento do SUS e a qualidade do
atendimento. Aumentaria muito a chance de êxito de conseguirmos a aprovação dos 10% das RBU para a saúde.
Com a redução dos miseráveis
observada nos últimos vinte anos, temos uma nova classe média emergente que
passa a ser consumidora de produtos e serviços e que tem como “sonhos de
consumo” casa, carro e plano privado de
saúde, nesta ordem. A inclusão social está gerando um nicho para os planos
privados de saúde de clientes capazes de pagar pouco por um atendimento um
pouco melhor ( será?) que o público.
É lógico que para atender esta nova
demanda, precisaremos de médicos e outros profissionais de saúde, ambulatórios,
hospitais, laboratórios etc que drenarão ainda mais recursos públicos. O Estado
não injetará mais recursos no sistema público mas estimulará o escape para a
saúde suplementar.
Vendo esta questão pelo ângulo de
estudioso da Educação das Profissões de Saúde, preocupa-me ver que o Governo propõe
ações como o Mais Médicos e a extensão dos cursos de Medicina para 8 anos
quando, na verdade, investe maciçamente em estimular o modelo privado. Quando
pretende melhorar a distribuição de médicos no Brasil e a sua presença no
sistema público mas estimula de forma velada e indireta a criação de postos de
trabalho na saúde suplementar, mostra que o pensamento neoliberal que norteia
os nossos governos sobrepõe-se claramente aos ideais da reforma sanitária.
Como motivar nossos alunos a formarem e trabalhar para o SUS quando o próprio governo emite sinais tão claros de que considera o SUS um sistema pobre para pobres e que sua visão de sociedade igualitária é aquela onde todos pagam por seu plano privado de saúde?
Como motivar nossos alunos a formarem e trabalhar para o SUS quando o próprio governo emite sinais tão claros de que considera o SUS um sistema pobre para pobres e que sua visão de sociedade igualitária é aquela onde todos pagam por seu plano privado de saúde?
3 comentários:
Prezado Roberto,
Concordo plenamente com suas palavras e penso que, com medidas governamentais como as que você cita, a cada dia a saúde se torna mais um serviço e menos um direito de todos.
Abraços
Shamyr Castro
Belo raciocínio!
Prezado Prof Roberto,
Sem dúvida seu texto demonstra conhecimento da área. Como vc, todos os dias vivencio este estímulo a saúde suplementar e a queda da qualidade da atenção à saúde em ambos os sistemas, público e suplementar. E o que fazercom o que temos desenvolvido, discutido, estudado e experimentado nestes últimos anos? Rasgamos as DCN e voltamos aos quadradinhos? Como andar na contramão? Como dizem...cuidado com o que se pede, vc pode receber!
Postar um comentário