Todos pela Educação
É comum ouvirmos que grande parte do problema
da educação no Brasil é a falta de apoio por parte do governo, seja em
investimentos em infraestrutura, formação de professores, ou
metodologias. Segundo levantamento do movimento Todos pela Educação,
desde 2006, tramitam no Congresso Nacional 922 Projetos de Lei (PLs)
que tratam da educação no país. No entanto, para especialistas, embora
muitos desses projetos busquem avanços, os parlamentares legislam sobre
assuntos dos quais não deveriam tratar, não possuem preparo para lidar
com temas relacionados à educação e propõem leis referentes a temas já
contemplados pela legislação brasileira, como a Lei de Diretrizes e Base
(LDB), o Plano Nacional de Educação (PNE) ou mesmo a própria
Constituição Federal. Em entrevista ao Todos Pela Educação, o
consultor legislativo da Câmara dos Deputados, Ricardo Martins, destacou
que apesar do volume grande de matérias, poucas acabam aprovadas, o que
demonstra, para ele, um filtro rigoroso na casa. Ele também afirmou que
há ajuda de consultorias técnicas e debates nas comissões temáticas,
que unem parlamentares que se debruçam tradicionalmente sobre
determinados temas, o que faz com que nenhum deles fale sem conhecimento
de causa. Já para a superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas
em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), Anna Helena
Altenfelder, que também falou ao Todos Pela Educação, os parlamentares
precisam ouvir mais a comunidade e não “partir de ideias isoladas”. Para
ela, um debate que contemple quem conhece e está dentro do dia a dia da
escola é fundamental e, quando temas como matérias curriculares forem o
assunto de algum projeto de lei, é necessário realizar audiências
públicas com especialistas, professores, famílias e pais. Vamos
conferir alguns dos temas mais recorrentes nos projetos em tramitação no
Congresso.
Mudanças na grade curricular
Este é o tema mais frequente no Legislativo
brasileiro ao se buscar projetos sobre a Educação Básica, com 138
propostas em tramitação. A ideia é incluir disciplinas e conteúdos que
os parlamentares acreditam que devem ser abordados em sala de aula, como
envelhecimento; educação no trânsito; cidadania; ética e moral, ciência
política; noções de direito; prevenção de drogas; esperanto (idioma
universal); educação alimentar; educação ambiental; empreendedorismo e
educação financeira; Língua Brasileira de Sinais (Libras); cultura de
paz; pedagogia e segurança. Especialistas, no entanto, afirmam que a
proposição e a decisão sobre diretrizes curriculares não é competência
do Legislativo, mas do Conselho Nacional de Educação. Além disso, em
função do Plano Nacional de Educação, está em discussão a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para toda a Educação Básica, que após consultas públicas e seminários estaduais e municipais, foi dividida em duas: a base do ensino infantil e fundamental e a base do ensino médio.
Financiamento
Logo depois da inclusão de disciplinas e conteúdos na grade
curricular, o financiamento é o tema mais abordado, com 113 projetos de
lei no Congresso. De acordo com o levantamento, há um grande número de
propostas que tentam ampliar o financiamento para a educação nos
municípios ou normatizar estratégias que permitiriam às prefeituras
driblar as atuais imposições orçamentárias. Estas propostas contêm
temas como royalties do petróleo, investimento, Fundeb, orçamento da
União, salário-educação e ampliação do regime de colaboração fiscal
entre os entes. O Todos Pela Educação ressalta que o Sistema Nacional da Educação, previsto na Lei do PNE, já tem como objetivo sanar esses problemas de colaboração fiscal entre os entes.
Professor
Noventa e oito propostas têm como foco a figura do professor. Um dos
principais temas é a carreira, com destaque para a aposentadoria dos
docentes e o piso salarial. A maioria estabelece auxílio da União para
garantir o pagamento dos professores de municípios que não conseguem
arcar com esses custos. Em relação à formação, o apoio financeiro e
inclusão de conteúdos na grade curricular dos profissionais são temas de
propostas.
Saúde
A saúde de alunos e professores é o assunto de 48
projetos de lei. As propostas sugerem que haja profissionais da área
médica como psicólogos, nutricionistas e enfermeiros em ambiente
escolar. Testes oftalmológicos, diagnóstico de dislexia e avaliação
cardiológica aparecem como tema das matérias.
Infraestrutura
Instalação de bibliotecas, quadras, ginásios esportivos e
laboratórios são o tema de 49 propostas que buscam melhorar a
infraestrutura das escolas.
Profissionais da Educação
Também totalizam 48 as propostas referentes a outros profissionais
que atuam no ambiente escolar: orientadores pedagógicos,
técnico-administrativos, diretores escolares e educadores sociais. O
destaque é dado para a remuneração, carreira e aposentadoria destes
profissionais, além da indicação de formação e critérios para a eleição
de diretores.
Acesso e inclusão
Trinta e oito propostas buscam garantir o acesso, a escolarização e a
matrícula, garantindo a educação como direito básico — o que já é
colocado pela Constituição Federal. Outras 37 propostas estão
relacionadas à inclusão de crianças e jovens com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação no sistema educacional brasileiro. Alguns projetos, no
entanto, defendem a Educação Especial, que segrega os estudantes com
deficiência. O assunto, além de tema da meta 4 do PNE, também consta na
legislação brasileira desde a Constituição de 1988.
Outros temas
Outros assuntos também ocupam grandes espaços
entre as propostas da Câmara, como Isenção fiscal e impostos com
serviços de Educação (52 PLs); Transporte escolar (42 PLs); Gestão e
corrupção (34 PLS); Pronatec, Ensino Técnico e profissionalizante (34
PLs); Violência, bullying e segurança (33 PLs); Educação Prisional e
medidas socioeducativas (33 PLs); Alimentação e merenda (27 PLs);
Material didático (27 PLs); Educação integral, ampliação da jornada e
carga horária (23 PLs); Educação Infantil (21 PLs); Avaliação
educacional (20 PLs); Diversidade, gênero, liberdade religiosa e cultura
de paz (20 PLs); Cultura e esporte (16 PLs); Aprovação, reforço e
frequência escolar (13 PLs); Escola sem Partido e outros vetos
ideológicos (6 PLs); Juventude e protagonismo juvenil (6 PLs). Ainda
que com menor incidência, outros temas aparecem nas propostas do
legislativo: trabalho infantil, estágios e menores aprendizes; ensino
domiciliar; limite de alunos por sala; proibição de celular na escola;
política nacional de leitura; educação rural; gratuidade dos cursos de
especialização; direito das alunas gestantes à Educação; entre muitos
outros. Para acessar o levantamento completo, clique aqui.
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