SciELO anuncia medidas para internacionalização de periódicos científicos
Por Diego Freire
Com o objetivo de contribuir para a
internacionalização dos periódicos científicos produzidos no Brasil, a
biblioteca eletrônica SciELO (sigla de Scientific Eletronic Library On
Line), mantida pela FAPESP, anunciou novos critérios para indexação em sua plataforma.
O anúncio foi feito durante a 4ª Reunião Anual da SciELO, realizada
no dia 2 de dezembro, na sede da FAPESP. De acordo com Abel Laerte
Packer, diretor do programa SciELO, as medidas anunciadas devem levar a
uma “progressiva reconfiguração dos periódicos do Brasil e das pesquisas
que comunicam no contexto internacional da ciência”.
“A ciência é, por natureza, internacional. Um esforço que o Brasil
vem fazendo em geral – e a FAPESP em particular – é o de dar
visibilidade à pesquisa que o país faz, aumentando a colaboração
internacional. E nisso os periódicos brasileiros deverão cumprir um
papel importante, não só no fortalecimento da presença lá fora como
também trazendo autores internacionais e artigos de bom nível para os
periódicos do Brasil”, disse Packer à Agência FAPESP.
Os critérios servem para a indexação de novos periódicos e para a
permanência dos que já compõem a coleção SciELO Brasil. Para Carlos
Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, a
internacionalização refletirá no impacto das publicações.
“É um esforço que, somado a outros, contribuirá para a inserção dos
nossos pesquisadores no contexto internacional da ciência, aumentando
sua competitividade. Nossa produção científica cresce consideravelmente e
o desafio agora é aumentar seu impacto”, disse Brito Cruz durante a
reunião.
As medidas anunciadas abrangem critérios relacionados com a gestão
dos processos editoriais, a afiliação dos autores dos artigos e o idioma
de publicação, com prazos definidos por área do conhecimento.
A implementação das medidas será avaliada com base em indicadores
relacionados à evolução da porcentagem de artigos publicados em inglês e
de autores com afiliação estrangeira, além do aumento da proporção de
pesquisadores de outros países que exerçam as funções de editores
associados e pareceristas.
Também será avaliado o número de downloads originários do Brasil e do
exterior, a quantidade de citações por artigos concedidas por autores
estrangeiros, tendo o SciELO Citation Index como fonte de referência de
cálculo, e a evolução da presença nas redes sociais, com base no índice
da Altmetric.com.
Metas por áreas
Os valores de referência utilizados na avaliação da
internacionalização dos periódicos foram definidos pelo Comitê
Consultivo da SciELO, divididos por áreas temáticas, e sua adoção tem
diferentes prazos, variando de um a cinco anos.
“Cada área tem suas idiossincrasias, seus objetivos e legados
históricos, então os critérios foram, na medida do possível, adaptados à
realidade de cada uma delas e às tendências observadas nos últimos
anos”, explicou Packer. As publicações são divididas em oito grandes
áreas: Agrárias; Biológicas; Engenharias; Exatas e da Terra; Humanas;
Linguística, Letras e Artes; Saúde; e Sociais Aplicadas.
A partir de janeiro de 2016, os periódicos indexados deverão atender
às porcentagens mínimas esperadas de editores associados ativos com
afiliação institucional no exterior, segundo a área temática.
Para os de Ciências Agrárias, por exemplo, o mínimo é de 20% e o
recomendado é de 30%. Já para os de Ciências Sociais Aplicadas, o mínimo
é de 15% e o recomendado, 25%. Somando-se as metas de todas as áreas, a
SciELO espera ter todos os periódicos com, no mínimo, 20% de editores
associados ativos com afiliação estrangeira.
Os novos critérios incluem ainda porcentagens anuais mínimas
esperadas e recomendadas de autores com afiliação institucional no
exterior, também por área temática. As metas vão de 15%, para Ciências
Agrárias, a 30%, para Biológicas, Engenharias, Exatas e da Terra. Assim,
a SciELO espera chegar a até 35% de autores com filiação estrangeira.
O idioma em que os artigos são publicados também foi contemplado
pelas mudanças. Os trabalhos devem conter título, resumo e
palavras-chave no idioma original do texto e em inglês. “O modelo da
SciELO permite a publicação simultânea em dois ou mais idiomas. Os
periódicos devem maximizar o número de artigos originais e de revisão em
inglês com vistas à sua internacionalização”, disse Packer.
Os periódicos da área da Saúde, por exemplo, deverão ter pelo menos
80% de seus artigos originais e de revisão em inglês. Somando-se as
metas de todas as áreas, a SciELO espera ter 75% das publicações nessas
condições.
Profissionalização
Rogerio Meneghini, diretor científico da SciELO, explicou que os
novos critérios de indexação também têm o objetivo de garantir a
sustentabilidade dos periódicos. “As metas foram elaboradas com o
objetivo de acelerar a profissionalização dos periódicos e torná-los
sustentáveis em médio e longo prazo, num cenário de crescente
competitividade internacional”, disse.
Dessa forma, além de artigos, os novos critérios contemplam outros
documentos publicados pelos periódicos, como editoriais. Foi definido
pela SciELO que, a partir de 2015, somente serão indexados, publicados e
incluídos nas métricas de desempenho dos periódicos da coleção
documentos que apresentem conteúdo científico relevante.
Dessa forma, os documentos deverão apresentar conteúdo científico que
justifique sua indexação, incluindo dados de autoria, afiliação
institucional, referências bibliográficas e informações com potencial
para receber citações.
Além dos editoriais, serão indexados, publicados e incluídos nas
métricas de desempenho da SciELO documentos como adendos, artigos de
pesquisa, artigos de revisão, cartas, coleções, comentários de artigo,
comunicações breves, discursos, discussões, erratas, introduções,
normas, relatos de caso, resenhas críticas de livro, respostas e
retratações, entre outros.
Não serão considerados anúncios, calendários, chamadas, livros
recebidos, notícias, obituários, reimpressões, relatórios de reunião,
resumos, revisões de produto, teses e traduções.
Plano de divulgação
Todos os periódicos SciELO devem operar com apoio de um sistema de
gestão on-line até o final de 2015. Isso deverá tornar mais eficiente o
processo de avaliação, diminuir o tempo entre a submissão e o parecer
final, permitir que as partes envolvidas acompanhem o processo de
avaliação e obter registros e estatísticas de controle do fluxo de
gestão dos manuscritos.
“Também recomendamos a disponibilização dos dados das pesquisas
utilizados nos artigos em repositórios de acesso aberto, contribuindo
para que os trabalhos sejam replicados e para que aumente a visibilidade
e as citações”, disse Meneghini. A disponibilização dos dados passará a
ser critério de avaliação a partir de 2015.
Os novos critérios para avaliação da profissionalização dos
periódicos contemplam ainda a comunicação social das publicações. A
partir de julho de 2015 será exigido pela SciELO um plano operacional de
marketing e divulgação, incluindo a gestão de contatos de pesquisadores
potenciais, autores e usuários nacionais e internacionais e leitores,
entre outros públicos, e a produção de press releases de cada novo número ou de novos artigos selecionados.
“Também esperamos que, a partir dessa data, os periódicos comuniquem
suas novas pesquisas nas redes sociais, podendo inclusive utilizar os
canais da SciELO nesses ambientes, como o Blog SciELO em Perspectiva”,
orientou Packer. “É um esforço em diversas frentes que vai elevar nossos
periódicos a um novo patamar e, em última instância, contribuir com a
evolução da ciência no Brasil e no mundo.”
O documento com os novos critérios para admissão e permanência de
periódicos científicos na coleção SciELO Brasil, assim como a política
que orientou sua elaboração e os procedimentos exigidos, está disponível
em www.scielo.br/avaliacao/avaliacao_pt.
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