Desinteresse
dos Médicos pela Atenção Primária
( Reflexão a respeito da matéria "Médica de família 'dirige Chevette e namora Creisom' em apostila para concurso",
publicada pela BBC Brasil )
Desde que
conseguimos ter residentes de MFC (passamos 2 anos "em branco"),
formamos 5 residentes. Todos estão contratados como docentes de MFC nas novas
Escolas particulares e/ou supervisores do
Provab/MaisMédicos. Nenhum está contratado como médico do PSF.
E este
pode ser o futuro dos nossos ex-residentes. Vejamos alguns dados:
1.
O Brasil tem 5570 municípios ( IBGE, 2014);
2.
Vamos imaginar que tenhamos em breve 20.000 formandos de Medicina/ano;
3.
Considerando que tenhamos 40.000 internos ( 5º e 6º anos), rodando pela APS (
30% da carga horária);
4. Com a
diretriz de 1:1 para vagas de residência médica, teremos uns 35.000 residentes,
R1 e R2 de MFC e residentes de áreas básicas durante 1 ano, rodando pela APS;
5. Todo
este pessoal vai demandar alguns milhares de professores / preceptores de
Medicina de Família ;
6. Numa
base de 1 supervisor:10 médicos bolsistas, Provab e Mais Médicos recrutam
anualmente centenas de médicos de família para a supervisão de bolsistas;
7. Numa
realidade que teremos dezenas de milhares de
professores/preceptores/internos/residentes na APS regidos por contratos
organizativos e outros milhares de bolsistas Provab/Mais Médicos
que não interferem na responsabilidade fiscal do município, qual será a oferta
de vagas de emprego na EPS? Qual o gestor vai contratar um médico se a Escola
disputa a tapa os cenários para por alunos/internos/residentes e o Ministério
recruta e oferece bolsistas para suas equipes?
Considerando
tudo isto, a atenção primária caminha para ser espaço de passagem; quem tiver
interesse em continuar sua formação optando pela Medicina de Família e
Comunidade, vai fazer residência para ser preceptor e não médico
assistencialista.
E mantendo este modelo, em poucos anos não teremos mais mercado para novos médicos de família nem para preceptores na APS e vai ficar ainda mais difícil "catequizar" nossos alunos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário