sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Produção Científica



Produção e produtividade em debate no Ceensp

O Centro de Estudos da ENSP de 6/11 debateu a questão da produção científica. Produção e produtividade foram os temas trazidos pelas palestrantes Marcela Pronko, vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), e Regina Simões Barbosa, pesquisadora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Iesc/UFRJ).  Sob coordenação da vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da ENSP, Sheila Mendonça, a atividade levantou questões como produção de conhecimento, processo de produtividade, normas de avaliação, entre outras.
 


A vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Marcela Pronko, destacou no início de sua fala a importância de trazer esse debate para as instituições de pesquisa. Marcela apresentou algumas reflexões fruto de um trabalho desenvolvido por ela intitulado Políticas de Ciência e Tecnologia no Brasil, e dividiu sua fala quatro tópicos. O primeiro deles, uma breve reflexão sobre a ideologia da sociedade do conhecimento. Em um segundo momento apontou determinantes para política de Ciência e Tecnologia no Brasil.

Marcela Pronko trouxe ainda um breve relato sobre a reconfiguração da política de C&T e por fim descreveu algumas implicações dos elementos no processo de construção do conhecimento. Em suas reflexões sobre a ideologia da sociedade do conhecimento, a vice-diretora citou que o desenvolvimento tecnológico constitui um elemento estrutural para lógica do capitalismo. “Com o capitalismo o desenvolvimento científico e tecnológico passou a ser objeto sistemático de planejamento e políticas governamentais. Temos a impressão de estarmos em uma nova era do conhecimento, mas a centralidade da lógica tecnológica é tão velha quanto o capitalismo. Ela só vem se redesenhando”, descreveu.

Sobre a produção de conhecimento, Marcela apontou que no mundo contemporâneo ela se dá no âmbito da divisão do trabalho. “A proposta do Banco Mundial é que conhecimento é fundamental para o desenvolvimento. Mas será que o conhecimento alcança a todos?”, questionou. No contexto das políticas de Ciência e Tecnologia no Brasil, a vice-diretora disse que a partir da década de 80 a discussão das políticas passou a entrar na agenda na tentativa de dar organicidade ao tema.

Por fim, Marcela defendeu que atualmente o que se conta é quantos artigos existem, e não qual a qualidade deles. Em seguida a pesquisadora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ), Regina Simões Barbosa, expôs suas reflexões sobre o processo de construção do conhecimento. Segundo ela, “vivemos tempos nebulosos, em que as palavras perdem seus sentidos históricos e políticos, os significados tornam-se múltiplos, ambíguos, vagos, retóricos e, mesmo quando se assume um tom de crítica, muitas vezes esta é superficial e genérica, contra uma sociedade abstrata, contra poderes abstratos, contra processos que, embora reconhecidamente tornem a sobrevivência humana ameaçada, não têm denominação e, portanto, entendimento”.

Regina aproveitou a ocasião para levantar um questionamento. Se assumirmos que a ciência não é neutra e que toda teoria ou modelo explicativo da sociedade implica, mesmo que não explicitamente, em um posicionamento político, como nós – professores, pesquisadores, acadêmicos em geral – temos nos colocado, individual e coletivamente, em relação a esta sociedade problemática? A pesquisadora enfatizou também a questão do silêncio em torno das questões envolvidas no processo de produção.

A pesquisadora apontou também alguns impactos e consequencias da lógica da produção de conhecimento atualmente. No âmbito dos processos de trabalho em saúde, Regina citou como consequência a desarticulação do trabalho multi e interdisciplinar. No contexto da saúde física e mental dos trabalhadores de saúde, aumento dos processos de sofrimento e adoecimento também foram apontadas por Regina como grandes consequências.

Encerrando, Regina ressaltou que o campo da saúde, que lida com questões tão caras à vida humana – sofrimento, dor, superação, solidariedade – é emblemático. “Ele exige nosso compromisso com valores éticos e sociais que resultam de muitos séculos de história, de lutas e conquistas humanas. Não podemos permitir que os processos de banalização e mercantilização da vida nos transformem em profissionais, pesquisadores e pessoas insensíveis, indiferentes ou alienados em relação ao sofrimento e à injustiça”, conclui. 

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