A primeira cirurgia com Google Glass do País
Retirada de intestino grosso foi auxiliada por material didático inserido nos óculos inteligentes
Bruno Capelas
O Hospital São Camilo, do município de Salto, no interior
de São Paulo, realizou a primeira cirurgia com Google Glass no Brasil.
Realizada pelo médico Miguel Pedroso, da equipe do Instituto Lubeck
de Itu, a operação consistiu na retirada do intestino grosso seguindo o
método da videolaparoscopia, e foi feita na tarde da última sexta-feira,
25. A primeira cirurgia com Google Glass realizada no mundo foi feita em Ohio, Estados Unidos, durante o mês de agosto.
“O que nós fizemos foi embutir um material didático dentro dos
óculos, que fica à disposição do cirurgião durante o processo
operatório”, conta Pedroso ao Link. “O médico pode acessar o
material, que nós chamamos de videoatlas, através de comando de voz. A
ideia é que ele possa tirar dúvidas sobre o que tem de fazer durante a
cirurgia sem precisar usar as mãos, consultando como deve usar a pinça
ou como deve estar a posição da mesa cirúrgica, por exemplo.”
Além de auxiliar o cirurgião, o Glass ainda fez a operação ser
transmitida em uma videoconferência para uma sala anexa à que sediava a
cirurgia, na qual dez médicos assistiram o processo.
De
acordo com Pedroso, o teste com o Glass faz parte do desenvolvimento de
uma plataforma de aplicativo que poderá ser usada para sanar as dúvidas
de cirurgiões em todo o mundo durante suas atividades normais.
“O Instituto Lubeck desenvolve o video-atlas desde 2005, e ele teve
uma primeira versão lançada em 2007, para computadores. Agora, queremos
transformar isso num aplicativo, que deve estar pronto quando os óculos
inteligentes chegarem ao Brasil”, explica o médico, que prevê que a
plataforma desenvolvida para o videoatlas da cirurgia de retirada de
intestino grosso poderá ser usada para o ensino de como devem ser feitas
outras cirurgias.
Abaixo, leia trechos da entrevista com o doutor Miguel Pedroso, e veja um vídeo feito pela equipe que realizou a cirurgia.
Como o senhor se sente tendo feito a primeira cirurgia brasileira com Google Glass?
Acredito que foi um passo importante para que nós possamos
desenvolver uma boa ferramenta de ensino para os cirurgiões de todo o
Brasil. É isso o que importa.
O uso dos óculos lhe atrapalhou em algum momento?
Os óculos não atrapalharam em nada. Eu me senti muito confortável com os óculos sabendo que eu tenho uma ferramenta que pode me auxiliar durante a cirurgia, com autonomia para eu solucionar minhas próprias dúvidas.
E no que ele poderá ser útil no futuro?
O Glass vai auxiliar muito no ensino. O Instituto Lubeck recebe
15 cirurgiões todos os meses para aprender a técnica da retirada do
intestino grosso. Cada médico recebe o videoatlas, estuda-o em casa, vem
até o Instituto, acompanha cirurgias e depois volta para seu hospital
ou clínica. Lá, ele tem de realizar cinco cirurgias acompanhado de um
médico experiente antes de poder realizar o processo operatório sozinho.
O que o Google Glass vai fazer é eliminar a necessidade do cirurgião
experiente se deslocar até o hospital do aluno. Ele poderá acompanhar a
cirurgia em vídeo a partir de qualquer smartphone ou computador. Além
disso, o médico que tiver o Glass poderá usar o vídeo atlas em qualquer
momento de sua vida como profissional.
Como a sua equipe teve acesso ao Google Glass?
Miguel Pedroso: Eu li uma reportagem em uma
revista sobre os óculos, e imaginei que ele poderia ser muito útil para o
nosso videoatlas. Tentamos ter acesso diretamente com o Google, até que
entramos em contato com a responsável pelo Glass no Brasil. Agora,
vamos desenvolver o aplicativo para que ele se torne realidade e possa
democratizar o ensino cirúrgico no País.
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