Faltam R$ 55 bilhões por ano na Saúde
Gastão Wagner de Sousa Campos*
Há consenso sobre a insuficiência do financiamento para o Sistema Único
de Saúde (SUS). Entretanto, esse acordo desaparece quando se discute
como e onde gastar. Essa divergência decorre de conflito de interesse
entre considerar-se a saúde como direito ou como negócio. Há evidências
sólidas, extraídas da experiência internacional, sobre o modo mais
efetivo para organizar a saúde. Sistemas públicos e nacionais têm melhor
desempenho que modelos privados.
No Brasil, a construção do SUS é
incompleta e ainda carente de um projeto nacional estratégico. Impasse a
ser enfrentado é o do modelo de gestão. A atual estrutura já demonstrou
seu limite. Não avançaremos mais se persistir a atual fragmentação
entre os entes federados e a multiplicidade de lógicas organizativas dos
serviços (administração direta, contrato e convênios, Organizações
Sociais etc.). Não haverá governança nem regulação possível nessa Babel.
Um dos pontos relevantes do programa Mais Médicos foi o reconhecimento
de que os municípios não darão conta de resolver impasses do SUS, sequer
médicos para a Atenção Básica têm sido conseguidos.
O SUS poderia constituir-se em autarquia
pública; uma organização federal, estadual e municipal; tendo como
núcleo organizativo as 420 regiões de saúde em que se divide o país. O
SUS conformado por normas e modelo de gestão que considerassem a
especificidade e complexidade da saúde.
Trazer a racionalidade do mercado para dentro do SUS implica em liquidar o SUS. Nessa lógica já funciona a Saúde Suplementar.
Nesse caso, fará sentido gastar-se com
uma carreira da saúde para o SUS: para atenção básica, atendimento
hospitalar e especializado, vigilância à saúde. Concursos por estado da
Federação, mobilidade entre cidades e postos de trabalho, formação
continuada.
Outro investimento prioritário seria a
expansão da Atenção Básica para 80 a 90% dos brasileiros. Atualmente,
custa R$ 16,8 bilhões por ano atender a 50% da população. Garantir
equipe básica (médico, enfermeiro e apoio matricial multiprofissional)
para o dobro de gente custaria R$ 28 bilhões. A Atenção Básica não se
destina somente a populações pobres, trata-se de uma estratégia para
resolver 80% dos problemas de saúde mediante cuidado personalizado e que
implique em abordagem clínica e preventiva. Para isto será necessário
melhorar a qualidade da atenção Básica: melhor infraestrutura e
integração com hospitais e serviços especializados. Ampliar a liberdade
das famílias, garantindo-lhes a possibilidade de escolher a qual equipe
se vincular em uma dada região.
Estima-se a necessidade de 200 novos
hospitais gerais em regiões carentes. Para construí-los e equipá-los
serão necessários R$ 10 bilhões, o custeio anual exigirá orçamento
semelhante. A recuperação e a reorganização da precária rede já
existente custarão outros R$ 20 bilhões anuais. Haveria ainda que
am-pliaro gasto com Vigilância em Saúde, controlar epidemias, drogas,
violência: outros R$ 5 bilhões por ano. Evitar milhões de mortes
evitáveis: somente com novos R$ 55 bilhões anuais para o SUS.
* Gastão Wagner possui graduação em Medicina pela Universidade de Brasília (1975) ,
especialização em Curso de Especialização Em Saúde Pública pela
Universidade de São Paulo (1977) , especialização em XI Curso de
Especialização Em Planejamento do Seto pela Universidade de São Paulo
(1978) , mestrado em Medicina (Medicina Preventiva) pela Universidade de
São Paulo (1986) , doutorado em Saúde Coletiva pela Universidade
Estadual de Campinas (1991) e residencia-medica pela Hospital das Forças
Armadas em Brasília/DF (1977) . Atualmente é professor titular da
Universidade Estadual de Campinas, Membro de corpo editorial da
Trabalho, Educação e Saúde e Membro de corpo editorial da Revista
Ciência & Saúde Coletiva. Tem experiência na área de Saúde Coletiva ,
com ênfase em Saúde Pública. Atuando principalmente nos seguintes
temas: anti-taylor, democracia em instituições, gestão de instituições.
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