Revistas científicas brasileiras ainda têm baixo impacto internacional
Pouca
colaboração com pesquisadores de outros países é um dos fatores que
contribuem para baixa citação dos artigos científicos brasileiros, avaliam especialistas
O número de revistas científicas brasileiras presentes em índices internacionais, como o Journal Citation Report,
vem aumentando nos últimos anos. Entretanto, o fator de impacto – o
número médio de citações dos artigos científicos publicados em um
periódico – ainda é baixo e não atingiu a média mundial.
A constatação foi feita por participantes do 3º Seminário de
Avaliação do Desempenho dos Periódicos Brasileiros no JCR 2011,
realizado no dia 27 de setembro no Auditório da FAPESP.
Promovido pelo programa Scientific Eletronic Library Online (SciELO Brasil)
– resultado de um projeto financiado pela FAPESP –, o objetivo do
evento foi debater avanços e desafios para o desenvolvimento da
qualidade dos periódicos brasileiros e para o aumento do impacto
internacional, com base no Journal Citation Reports (JCR).
Publicada em julho, a última edição do JCR, atualizada com
dados de 2011, mostra avanços significativos, mas revela também a
persistência de condições e barreiras que dificultam o aumento do
impacto dos periódicos nacionais.
Entre os avanços destaca-se a presença de dois periódicos nacionais, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz e Clinics, com fator de impacto (FI) maior que 2.
Houve também um aumento de 11 para 16 no número de periódicos com FI
maior que 1. Entretanto, o conjunto dos 111 títulos indexados no JCR
apresenta desempenho relativamente baixo, pois a grande maioria
permanece com FI abaixo da mediana em suas áreas temáticas.
“O número de periódicos brasileiros no JCR aumentou 240% no período
de 2007 para 2010, saltando de 27 para 111”, disse Abel Packer, membro
da coordenação do programa SciELO. “Mas a média da quantidade de
citações em 2011 em comparação com 2010 caiu 21%, de 0,520 para 0,509, o
que representa uma queda alta e tem diversas razões, como o fato de se
tratar de uma coleção de periódicos jovem internacionalmente e publicada
predominantemente em português.”
De acordo com especialistas presentes no evento, um dos fatores que
também contribuem para a baixa citação internacional dos artigos
científicos brasileiros é a pouca participação de cientistas de outros
países nesses trabalhos.
Publicados em grande parte em revistas nacionais, 85% dos artigos
científicos brasileiros têm também afiliação local – são publicados por
pesquisadores do próprio país, sem a participação ou colaboração com
cientistas estrangeiros.
“Vemos que o Brasil é o mais nacional entre todos os países em termos
de afiliação de artigos. Isso representa um patrimônio nacional que,
naturalmente, tem suas consequências”, avaliou Packer.
Segundo Packer, o nível de colaboração internacional nos artigos
publicados em periódicos científicos nacionais é mais ou menos igual e
varia entre 6% e 8%. Mas em todos eles a presença de autores
estrangeiros como único autor do artigo ou em cooperação aumenta o
número de citações.
Uma análise comparativa sobre a rota de publicação de artigos
científicos de 12 países, sendo seis desenvolvidos (Inglaterra, França,
Canadá, Holanda, Suíça e Espanha) e seis emergentes (Brasil, Rússia,
Índia, China, África do Sul e Coreia do Sul), realizada por Rogerio
Meneghini, coordenador científico do SciELO, com base em publicações dos
países no Web of Science em 2010 e citações correspondentes até
setembro de 2012, demonstrou que os artigos em colaboração internacional
recebem, em média, mais citações do que os endógenos (do próprio país).
E o aumento de citações é muito superior para os países em
desenvolvimento.
No caso do Brasil, o percentual de aumento da citação de artigos em
colaboração chega a atingir 97,8%, que é o segundo maior entre os países
emergentes e está atrás apenas da Rússia, que aumenta 125%.
“O processo de colaboração científica seria mais benéfico para países
emergentes como Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e Coreia do
Sul. Acredito que exista agora em todos esses países uma busca pelo
aumento da colaboração científica internacional”, disse Meneghini.
Importância dos periódicos brasileiros
Ainda de acordo com os especialistas presentes no evento, países
emergentes como o Brasil também têm em seus periódicos nacionais uma
forma de fazer com que sua produção científica, que não recebe espaço
nos periódicos internacionais, seja escoada.
Em função disso, é preciso melhorar os periódicos nacionais para
melhorar o conjunto da produção científica brasileira. “O Brasil publica
29% de toda a sua produção científica indexada em periódicos nacionais
contra 12% da França, por exemplo. A presença dos periódicos nacionais é
muito maior e requer, portanto, políticas e ações para que o seu
impacto seja mais positivo”, disse Packer.
De modo a continuar apoiando o desenvolvimento de revistas
científicas brasileiras, de acordo com Carlos Henrique de Brito Cruz,
diretor científico da FAPESP, o financiamento do Programa SciELO vem
sendo renovado, com pareceres positivos sobre os resultados.
“O SciELO é um projeto muito importante para a FAPESP. Em 1997,
quando o programa foi criado, não se comentava sobre acesso aberto, não
existia esta expressão. Hoje, o mundo inteiro fala em publicação em
acesso aberto”, disse.
Atualmente, o SciELO possui 254 títulos e registra uma média de 1,06 milhão de downloads por dia, sendo 63% em PDF e 37% em HTML.
No fim de julho, a FAPESP e a Divisão de Propriedade Intelectual e
Ciência da Thomson Reuters firmaram um acordo para integrar a base do
SciELO à Web of Knowledge, a mais abrangente base internacional de
informações científicas. “Isso deverá ajudar as revistas científicas que
estão no SciELO a terem mais visibilidade”, disse Brito Cruz.
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