“Professores devem reaprender a aprender”
O professor americano Will Richardson percebeu, em sua rotina de
sala de aula, que havia alguma coisa mudando naquele espaço de
aprendizagem. O ano era 2001 e ele dava aula de inglês para o ensino
médio em escolas norte-americanas. Nessa década que se passou, as
tecnologias foram entrando no universo educacional, ele começou a
escrever sobre o assunto e, entre idas e vindas de conversas com
professores pelo país, sua suspeita só se confirmou: essa aflição não
era só sua. Foi aí que percebeu que o primeiro passo para os professores
se adequarem aos novos formatos de educação era fazer com que eles
reaprendessem a aprender e, para isso, era fundamental que eles se
organizassem em redes.
“Esse é um dos desafios mais interessantes que temos hoje: como é que
ajudamos os professores a entender o que está acontecendo fora das
escolas e os deixamos aptos para preparar as crianças para essa
realidade?”, pergunta o especialista, que já tem uma dica de qual seja a
resposta. “Os professores têm que construir suas próprias redes e se
tornar responsáveis pelo seu aprendizado, assim como se espera que os
alunos façam”, afirma Richardson, que há seis anos vêm capacitando
professores por meio do programa Powerful Learning Practice.
crédito Andrea Danti / Fotolia.com
Na capacitação que dá para os professores, Richardson reúne
professores em comunidades virtuais e em algumas atividades presenciais
ao longo do ano letivo. Ele procura fazer desse ambiente virtual um
espaço compreensivo em que os professores possam compartilhar
experiências, ansiedades e expectativas e, de quebra, se apropriar das
funcionalidades da internet. “Tentamos fazer com que os professores se
sintam confortáveis com o ambiente on-line, dividam seus medos, sejam
transparentes, conversem. Mas leva tempo”, afirma o especialista, que
procura usar o canal que criou para mostrar exemplos do que é possível
fazer e falar sobre a educação do século 21. O programa, diz ele, tem
sido procurado por escolas públicas e particulares, que inscrevem parte
do seu corpo docente para participar da capacitação. As atividades são
compartilhadas em um blog e parte das discussões que esses educadores
promovem podem ser acessadas pelo site.
Preparar os professores para uma nova realidade de educação, em que
há muito mais conhecimento disponível na palma da mão em um smartphone
do que nas bibliotecas de muitas escolas, é apenas parte da solução.
Richardson diz que a própria escola precisa mudar radicalmente. Tanto
defende que lançou, no mês passado, o livro Why School?, (Por que
Escola?, em livre tradução), cuja versão digital em inglês está
disponível na Amazon por US$ 2,99. “Não é que não queiramos a escola.
Não queremos essa escola. Tudo precisa ser repensado: currículo, design,
infraestrutura”, diz ele.
“Não acho que possamos fazer
como fazemos hoje, quando os alunos ficam trancados 45 minutos em uma
sala, depois têm outra aula de 45 minutos. Temos que dar uma bagunçada
nisso.”
O argumento de Richardson é que entregar o conhecimento pronto,
encaixotado, hoje não faz mais sentido. O que se espera é que o
currículo seja reflexivo, baseado muito mais em perguntas que não
necessariamente se sabe a resposta – “porque é isso que elas vão
encontrar na vida”. “As crianças demandam diferentes tipos de
aprendizado, diferentes tipo de alfabetizações”, diz o educador, que
ressalta a importância de que os alunos recebam uma espécie de
alfabetização em rede (livre tradução para network literacy), em que aprendam segurança na web, como e onde pesquisar, o que se pode ou não fazer em ambiente virtual.
Quanto à estrutura das escolas, Richardson diz que o ideal é que os
espaços fossem redesenhados porque sala de aula, quadro negro e carteira
já não fazem mais sentido. “É preciso ter muito mais espaços
colaborativos de trabalho, acesso a materiais multimídia. Não acho que
possamos fazer como fazemos hoje, quando os alunos ficam trancados 45
minutos em uma sala, depois têm outra aula de 45 minutos. Temos que dar
uma bagunçada nisso.”
Richardson vai estar em São Paulo entre 19 e 21 janeiro, compartilhando suas ideias no evento Innovate 2013 – Reimaginating School,
promovido pela Graded, escola americana de São Paulo. Segundo a
organização, a intenção do encontro, que vai reunir profissionais do
Brasil e dos EUA, é debater sobre a escola que mais bem serve e inspira
os estudantes de hoje. As inscrições estão abertas e os valores já podem ser consultados.
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