Exame para médicos formados no exterior aprova apenas 2 candidatos
Lígia Formenti - O Estado de S.Paulo
O projeto piloto criado pelo governo para validar diplomas de médicos formados no exterior teve uma estreia melancólica. De 628 que se inscreveram no teste, aplicado em outubro, apenas 2 foram aprovados. "Foi um índice muito baixo", admitiu o secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Francisco Campos. Os candidatos são, majoritariamente, brasileiros formados em universidades cubanas e bolivianas.
Diante do resultado, integrantes dos Ministérios da Educação e da Saúde, responsáveis pelo projeto, devem rediscutir a prova. "Talvez alguns pontos precisem ser mudados, como a nota mínima para aprovação", adiantou Campos. A secretária de Educação Superior do MEC, Maria Paula Dallari, confirmou que critérios deverão ser revistos. "Na nossa avaliação o processo é bom, só precisa de ajustes."
Para atuar no País, médicos formados no exterior, sejam estrangeiros ou brasileiros, precisam ter seu diploma reconhecido por instituições brasileiras. Cada universidade escolhe seu modelo. Em geral, ele inclui avaliação de currículo, realização de uma prova e cobrança de uma taxa, que varia de R$ 100 a R$ 5 mil.
Com o crescente número de brasileiros formados em universidades cubanas, bolivianas e argentinas, começou um movimento para pressionar o governo para encontrar outras alternativas. A prova para validação foi a solução encontrada.
O formato prevê um teste uniforme, adotado por todas as universidades. A prova é aplicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), do MEC. Antes da prova, um dos requisitos avaliados é a análise do currículo. Nessa peneira, de 628 candidatos, ficaram 506. "Notamos que houve um comparecimento baixo nas provas. Dos 506 com candidatos liberados para o exame, 268 compareceram", disse Campos. "Tradicionalmente, provas de revalidação são difíceis. Isso é assim em outros países."
Qualidade. Favorável ao novo modelo proposto pelo governo, o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), Renato Azevedo Júnior, não se espanta com resultado. "Ele revela a baixa qualidade de muitas das escolas no exterior." Azevedo Júnior conta que, nos últimos anos, diante da dificuldade em obter uma vaga em escolas do País, uma legião de estudantes brasileiros vai para países próximos, em busca de um diploma de Medicina.
"É uma saída ilusória. Eles solucionam o problema atual, que é o ingresso na universidade, mas criam um outro para o futuro: a dificuldade de ingressar no mercado de trabalho."
Para ele, a baixa aprovação não deveria ser motivo para que Ministérios da Saúde e da Educação alterassem os critérios da prova. "É preciso manter o padrão. São selecionados profissionais para atender pacientes. Os critérios têm de ser firmes."
Maria Paula afirma que a matriz da prova do Inep deverá ser usada em outras avaliações, inclusive de brasileiros. "O formato, em si, é ótimo. Ajustes não significam que o nível de exigência ficará baixo."
4 comentários:
Seria muito interessante se a mesma prova fosse aplicada aos formados no Brasil, daí sim, poderíamos comparar e julgar o ensino nos países onde estão formando médicos brasileiros.
Sem dúvida, aplicar a mesma prova para os egressos dos cursos brasileiros seria muito interessante, até mesmo para validar os resultados.
Mas é indiscutível que uma avaliação formativa durante os 6 anos de curso, dando ao aluno a possibilidade de refletir sobre sua formação e melhorá-la, é muito mais apropriado que este tipo de "exame". Infelizmente, como o Brasil não tem a menor possibilidade de ingerência no processo formativo, só resta avaliar o produto "já formado" e triar quem pode e não pode exercer a profissão no país.
Bom,o vice presidente do CREMESP,deveria esta preocupado com os graduados de medicina no Brasil que não sabem fazer um PARTO tratar uma pielonefrite,etc...isso estou falando graduados de universidades federais,as particulares pelo menos aqui em São Luis-MA são piores ainda,qualidade ZERO,não possuem hospistal universitario,etc...e a mensualidade 4000 reias,agora eu desafio o vice presidente do CREMESP se ele atinge pelo menos 30% dessa prova do INEP,o desafio esta lançado!
Marcelo,
Você toca numa questão importante e para a qual não há resposta: qual seria o desempenho dos graduados no Brasil na prova de revalidação? Certamente,muitos estão saíndo das Escolas nacionais sem o preparo devido. Se prevalecesse o critério técnico e não o político, muitas faculdades médicas estariam fechadas ou nem teriam sido abertas.
Mas não podemos achar que ter médicos ruins formados no Brasil (ou falta de médicos em vários municípios) justifique aprovar candidatos portadores de diplomas estrangeiros sem uma boa formação (chegou a ser cogitado baixar a nota de aprovação no concurso).
Apareça outras vezes nas discussões e deixe os seus comentários! Um abraço!
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