Dose e hora certas
  Alex Sander Alcântara - Agência FAPESP
                 
 Ao analisar a administração de medicamentos  em cinco hospitais públicos brasileiros, uma pesquisa detectou erros na  administração de fármacos em 30% dos casos. Desses erros, 77% se  concentraram no horário de administração dos medicamentos, isto é, foram  dados aos pacientes antes ou depois da hora certa.
O estudo, publicado na revista Acta Paulista de Enfermagem,  identificou quase 1,5 mil erros ao analisar a administração de 4.958  doses por via parental (que não passa pelo sistema digestivo),  ministradas em cinco unidades hospitalares ligadas a universidades das  regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste.
De acordo com Silvia Helena De Bortoli Cassiani, professora da Escola  de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), os  objetivos do estudo foram descrever as características farmacológicas  dos medicamentos envolvidos em erros de administração e determinar a  frequência do problema com medicamentos potencialmente perigosos e de  baixo índice terapêutico.
“Investigar a relação entre as características farmacológicas e os  erros de medicação é relevante, uma vez que permite identificar os tipos  de medicamentos e os fatores relacionados aos erros, além de fornecer  informações úteis para que sejam elaboradas iniciativas de melhoria da  segurança dos pacientes”, disse à Agência FAPESP.
A pesquisadora desenvolve o projeto “Segurança do paciente: clima  organizacional e atitudes de segurança na perspectiva da equipe de  saúde”, apoiado pela FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa –  Regular.
Segundo o estudo publicado, as administrações de fármacos para os  sistemas cardiovascular e nervoso, para o trato alimentar e metabolismo e  antifecciosos de uso sistêmico apresentaram maior frequência de erros.
Silvia destaca que conhecer a relação entre a dose terapêutica e a  dose tóxica é extremamente importante. “O conhecimento sobre os fármacos  é essencial diante da diversidade do arsenal terapêutico disponível  hoje nos hospitais, que cresce a cada dia com a incorporação de novas  classes terapêuticas e sistemas de liberação de fármacos, gerando um  fator de risco para erros de medicação”, disse.
Grupos de medicamentos como os de baixo índice terapêutico (MBIT) –  que contêm substâncias como varfarina, fenitoína e ácido valproico – e  os potencialmente perigosos (MPP) como heparina e insulina merecem  monitorização cuidadosa da dose e de seus efeitos clínicos.
“A margem de segurança para utilização dos MBIT ou MPP é pequena,  portanto os erros de medicação, principalmente de dose e horário, são  preocupantes, podendo causar sérios danos, principalmente em crianças e  idosos”, alertou.
No estudo, foram identificadas como “erros de horários” as situações  em que o medicamento foi administrado em um período superior a 60  minutos de antecedência ou de atraso em relação ao horário correto  elaborado pelo enfermeiro ou técnico de enfermagem. O trabalho verificou  concentração na administração de medicamentos no período da manhã.
“Os principais determinantes da alta incidência são fatores internos  ao processo de trabalho, como o fato de o profissional ter diversos  pacientes para cuidar ou falhas no sistema de distribuição, que levam a  atrasos na entrega dos medicamentos e, consequentemente, na sua  administração”, disse Adriano Max Reis, professor da Universidade  Federal de Minas Gerais (UFMG), primeiro autor do artigo.
Por outras vias
Além dos erros de tempo na administração dos medicamentos (77,3% dos  erros), o estudo concluiu que erros de dosagem respondem por 14,4% dos  casos, seguido de erros de vias de administração (6,1%), de medicamento  não autorizado (1,7%) e de troca de paciente (0,5%).
Erros de vias de administração ocorrem quando o medicamento é dado  por via errada. “Isso acontece, por exemplo, quando a prescrição indica  que a administração deve ser por via intramuscular e o medicamento é  aplicado por via intravenosa”, disse Reis.
Já o erro de medicamento não autorizado pode ocorrer quando há troca  de pacientes. “Geralmente ocorre quando há problemas na identificação do  paciente, como, por exemplo, nomes parecidos em uma mesma enfermaria”,  disse.
Silvia considera que os resultados do estudo refletem a necessidade  de se aperfeiçoar os sistemas de medicação dos hospitais brasileiros. “O  problema é sistêmico, mas também envolve o conhecimento dos  profissionais e da equipe de saúde envolvidos no processo de utilização  de medicamentos”, afirmou.
Conhecer as características farmacológicas dos medicamentos  envolvidos com erros de medicação pode contribuir para o delineamento de  ações preventivas, segundo a professora da USP.
“A educação permanente e contínua do profissional, o dimensionamento  das equipes de enfermagem para evitar sobrecarga de trabalho, um sistema  de código de barras para o controle na administração de medicamentos e a  distribuição por dose unitária, além da identificação correta e  adequada, são medidas que podem mudar esses resultados”, disse.
Para ler o artigo Errors in medicine administration – profile of  medicines: knowing and preventing, disponível na biblioteca on- line  SciELO (Bireme/FAPESP), clique  aqui. 
  
2 comentários:
Senhores
O Portal Saúde Direta é um sistema gratuito, on line, full time, com ferramentas prescricionais poderosas, que transformam a teoria em prática, a respeito das ações necessárias para minimizar as interações medicamentosas e os erros prescricionais citados acima.
www.saudedireta.com.br
Dr. Paulo,
Muito obrigado pela sua contribuição. Espero que o Portal Saúde Direta seja muito útil para os nossos leitores. Apareça nas discussões!
Postar um comentário