ENFERMAGEM: PROTAGONISMO INVISÍVEL SOCIALMENTE
Simone Peruzzo *
Escolhi
uma profissão que tem como premissa a ciência e a arte do cuidar.
Enfermeira. Profissional do cuidado, da atenção às pessoas no seu
desequilíbrio saúde-doença, nas fragilidades, receios, limitações e
perdas. Acima de tudo, somos profissionais do compromisso com a vida.
Ciente da responsabilidade que essas características trazem, vejo a
necessidade de levar à sociedade a reflexão sobre a invisibilidade
social da categoria, apesar de seu protagonismo em todas as áreas da
saúde.
A
Enfermagem está presente em todas as etapas da vida das pessoas, com a
responsabilidade de levar atenção e prestar cuidado diferenciado às
necessidades de cada uma dessas fases, com qualidade e segurança. Nos
serviços de saúde, seja qual for a complexidade, é o profissional de
Enfermagem que acolhe, que identifica fragilidades, que acompanha
procedimentos, prepara para exames e cirurgias, que está atento a
reações e a necessidade de demandas pontuais e específicas. Apesar dessa
multiplicidade de funções exercidas por enfermeiros, técnicos e
auxiliares de enfermagem, é comum o entendimento equivocado e a
reclamação “só fui atendido pela enfermeira”.
A
consulta de Enfermagem, realizada pelo enfermeiro, não é uma
subconsulta ou um atendimento de segunda categoria, mas sim uma
atribuição prevista por Lei do Exercício Profissional, em protocolos
elaborados por diferentes instâncias, inclusive o Ministério da Saúde,
bem como protocolos institucionais de diversos serviços de saúde, tanto
públicos como privados.
O
enfermeiro realiza a consulta baseado em conhecimentos técnicos,
científicos e metodológicos adquiridos em cinco anos de graduação, em
especializações, mestrado e doutorado.
Portanto, o enfermeiro é um
profissional capacitado para realização de consulta que aborda as
necessidades básicas do paciente. Ele pode e deve realizar consulta de
enfermagem, fazer procedimentos, solicitar exames complementares,
prescrever medicações previstas nos protocolos institucionais, baseado
no raciocínio clínico, exame físico, diretrizes clínicas e terapêuticas.
Pode ainda orientar o paciente e familiares quanto aos diferentes
tratamentos e encaminhar para outros profissionais.
Os
técnicos e auxiliares de enfermagem atuam sob a supervisão do
enfermeiro e juntos formam a grande força de trabalho da saúde. No
sistema público, chegam a ocupar mais de 60% das funções, garantindo
acolhimento e resolutividade na assistência, promoção da saúde e
prevenção de doenças, além de assumir muitos papéis na gestão. No
Paraná, temos mais de 100 municípios com enfermeiros comandando
Secretarias Municipais de Saúde, uma função complexa que exige domínio
de gestão, conhecimento de políticas públicas e capacidade de liderança,
que é uma das características da profissão.
A
invisibilidade social a que a categoria está submetida tem sido
responsável por um quadro de desmotivação profissional, evasão de mão de
obra, baixa autoestima, desgaste e adoecimento dos trabalhadores pela
sobrecarga da jornada, entre outros fatores. Pelo fato de estar e cuidar
das pessoas de forma permanente e contínua, é necessário um olhar de
cuidado com esses profissionais, é necessário cuidar de quem cuida.
Nem
todos sabem, mas apesar de enfrentar plantões de intensa atividade, o
profissional de Enfermagem não tem um espaço de descanso digno nos
serviços de saúde, ao contrário de outras profissões que também atuam em
plantões. Essa é uma das lutas da categoria que precisa de
visibilidade, assim como a jornada de 30 horas semanais, a definição de
um piso salarial que atenda minimamente as necessidades básicas de
sustento dos profissionais e o dimensionamento adequado das equipes de
Enfermagem, de forma a garantir segurança nos serviços oferecidos à
população.
A
sociedade pode ser uma força a mais na luta por melhores condições de
trabalho à categoria. Temos momentos de grande reconhecimento e
gratidão, principalmente de familiares que acompanham a dedicação dos
profissionais em restabelecer a saúde dos enfermos. Mas, é necessário
que esse reconhecimento individual possa também ser traduzido em
respeito e projeção social. Informem-se, conheçam nossa formação e
reconheçam nossa capacidade, habilidade e liderança. A Enfermagem cuida
das pessoas nos momentos de maior fragilidade física e emocional e,
portanto, precisa ser valorizada. Onde há vida, há Enfermagem. Valorizar
esses profissionais, é valorizar a vida!
* Simone Peruzzo é enfermeira e atual presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Paraná -COREN-PR
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