Documento destaca o papel das escolhas éticas para o futuro do País
O
Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou nesta semana a Carta de
Porto Velho, documento aprovado pelos participantes do I Encontro
Luso-Brasileiro de Bioética do Conselho Federal de Medicina, realizado
nos dias 6 e 7 de junho de 2018, na capital de Rondônia. O texto, que
foi referendado pelo plenário do CFM, destaca a necessidade da sociedade
assumir compromissos com o futuro da saúde e da medicina no País.
"Diante
das inúmeras transformações políticas, econômicas, sociais,
tecnológicas e comportamentais pelas quais passam o mundo contemporâneo,
as quais exigem de todos uma constante reflexão nas escolhas e tomada
de posições, os participantes do Encontro Luso‐Brasileiro de Bioética do Conselho Federal de Medicina, realizado nos dias 6 e 7 de junho de 2018, em Porto Velho (RO), vêm a público manifestar sua
preocupação com os caminhos trilhados por governos e instituições",
alerta a Carta, logo nos primeiros parágrafos.
Para
os participantes do Encontro, a realidade exige que as decisões de
Governo sejam tomadas com base na análise de seu impacto individual e
coletivo, sempre com vistas a assegurar a prevalência de aspectos
éticos, de justiça, de preservação da equidade e de defesa dos direitos
humanos.
A
Carta de Porto Velho reitera a importância da assistência em saúde ser
entendida como um direito social fundamental, contemplado por princípios
e diretrizes que garantam acesso universal, integral, gratuito e com
equidade a cuidados em todos os níveis de complexidade. Para tanto, "o
Estado deve assegurar políticas de financiamento e de gestão que
permitam o funcionamento dos sistemas nacionais com economia,
racionalidade, fiscalização e controle no uso dos recursos públicos",
disse o conselheiro José Hiran Gallo, coordenador do Encontro.
Nesse
sentido, defende-se que as políticas de saúde sejam implementadas de
forma a contemplar as necessidades regionais; as características
demográficas e epidemiológicas de cada região; os avanços científicos e
tecnológicos que possibilitam o diagnóstico e o tratamento de doenças,
inclusive as consideradas raras e negligenciadas.
No
documento, também se aborda o tema da terminalidade da vida, exigindo
que o Estado ofereça o acesso aos cuidados necessários a pacientes e
familiares e respeite as escolhas individuais expressas em diretivas
antecipadas de vontade.
Outro
ponto lembrado pela Carta de Porto Velho diz respeito à formação dos
trabalhadores da saúde, especialmente dos médicos, que, de acordo com os
signatários, "precisa ser orientada por um ensino de qualidade, em
instituições que ofereçam condições necessárias (instalações, corpo
docente, campos de estágio, projeto pedagógico, etc.), assegurando a
oferta à sociedade de profissionais devidamente capacitados, habilitados
e preparados para o desafio da assistência".
Políticas públicas - A
Carta de Porto Velho alerta ainda para o lugar de destaque que deve ser
dado à dignidade humana como foco de políticas públicas e sociais que
garantam educação de qualidade; saneamento; trabalho e renda adequados;
oportunidades de crescimento (individual e coletivo); segurança e
proteção aos direitos, independentemente de sexo, gênero, orientação
sexual, faixa etária, etnia, práticas religiosas, moradia, nível
socioeconômico e formação.
No
campo das relações humanas, o documento fez um relevante posicionamento
contra o preconceito e a discriminação – sob qualquer circunstância.
"Essas práticas precisam ser combatidas por indivíduos e autoridades,
estimulando-se, em seu lugar, comportamentos e ações que promovam a
integração, a solidariedade, o comportamento ético nas relações, a
igualdade e a reverência às normas éticas e legais", reiterou o
presidente do CFM, Carlos Vital.
Além
dessa preocupação com o respeito aos indivíduos, o documento ainda
pontua que o desenvolvimento das comunidades locais e nacionais deve ser
orientado por políticas e projetos sustentáveis, que valorizem o papel e
a importância dos pequenos produtores, oferecendo-lhes condições de
inserção no mercado, com a proteção do meio ambiente de agressões, com
consequências irreversíveis.
Como
destacou o coordenador do I Encontro Luso-Brasileiro de Bioética, José
Hiran Gallo, todas as contribuições citadas na Carta de Porto Velho
constituem "passo relevante para a consolidação de sociedades fortes,
com respeito aos seus membros e às relações por eles estabelecidas,
sempre pautadas pela ética, configurando, assim, a ponte para o futuro
de um mundo melhor, construído sobre pilares de justiça, autonomia,
beneficência, não-maleficência, equidade, dignidade e respeito às
pessoas".
Nenhum comentário:
Postar um comentário