9 erros comuns na coleta de dados de uma pesquisa científica
“Chamar o estatístico depois que o experimento foi feito é o mesmo que pedir a ele que faça um exame post-mortem – talvez ele consiga dizer do que o experimento morreu”.
Ronald
Fisher, criador de técnicas estatísticas fundamentais como a ANOVA,
sabia que muitos estudos morrem antes de nascer, na hora da coleta dos
dados.
Tanto para experimentos de laboratório quanto pesquisas de campo, o planejamento e cuidado na obtenção dos dados é fundamental.
A maneira mais segura de evitar problemas pelo caminho é contar com o auxílio de um estatístico,
mas isso não isenta o pesquisador de conhecer as boas práticas para
coleta de dados, para evitar que termine com um material inutilizável
para pesquisa.
Começando pelo básico, alguns erros comuns que provavelmente o orientador da pesquisa ajudará a evitar são os seguintes:
1. Não calcular o tamanho de amostra necessário
2. Não planejar a análise posterior a ser feita
3. Não ter objetivos de pesquisa claros em mente
Muitas
vezes o pesquisador tem claro para si seus objetivos, mas não sabe como
isso se traduzirá numa análise estatística. Por isso deve-se saber não
só o que se quer investigar, mas como chegar ao resultado desejado, em
termos estatísticos, sabendo quais testes usará.
Isso
também envolve, com certeza, obter uma amostra que tenha poder de
detecção satisfatório das medidas de interesse, e talvez realinhar seus
objetivos se não puder obter o desejado.
4. Coletar amostra “por adesão”
Quem
já participou de qualquer tipo de pesquisa é solidário à dificuldade de
conseguir voluntários para responder questionários. Algumas pesquisas
são ainda mais complicadas porque envolvem unidades amostrais difíceis
de se obter.
Ainda assim, não se pode
abandonar totalmente o critério de aleatoriedade e pesquisar apenas
quem ou o que está mais disponível e próximo.
Tem
se tornado corriqueira a pesquisa pela internet em formulários
compartilhados por Facebook com os amigos e que com certeza tem um viés
em seus resultados. Para quem preza a qualidade de seu trabalho, deve
ter cuidado ao utilizar esse método.
5. Não treinar os coletadores de amostra
Assim
como você não usaria uma máquina desregulada para medir as variáveis de
interesse do estudo, não se pode colocar um pesquisador de campo
aplicando questionários sem treiná-lo da forma adequada. Desde a
abordagem do pesquisado até a ordem das perguntas, é necessário garantir
um padrão. Caso esteja trabalhando sozinho em campo, policie-se para
realizar as abordagens sempre da mesma forma.
6. Anotar os dados de forma imprecisa
Por
descuido ou mau planejamento, pode-se acabar com informações menos
precisas que o necessário. O exemplo comum é da pesquisa em que se
pergunta a idade do pesquisado, e não sua data de nascimento. No
primeiro caso, há maiores chances de respostas incorretas, por
arredondamento, esquecimento ou mentira do pesquisado.
Queremos
a informação o mais detalhada possível, pois sempre podemos arredondar
ou agrupar os resultados depois. Também pode-se criar critérios que
avisem de informações possivelmente erradas durante a coleta. Diversos
outros exemplos podem se aplicar, o importante é antecipar-se e estar
atento para evitar incorreções.
7. Acreditar que quanto mais dados, melhor
Em
termos gerais, mais informação não costuma atrapalhar o estudo, mas não
se deve coletar todos os dados possíveis, deixando para depois a
decisão do que fazer com eles (voltando ao item 2 dessa lista).
8. Depois da coleta pronta, querer que os resultados sejam avaliados em subgrupos muito pequenos da amostra
Algo
que muitos pesquisadores iniciantes não tem ciência é de que nem sempre
é possível avaliar a medida de interesse em qualquer subgrupo da
amostra. Caso se tenha interesse em avaliar uma variável de interesse
comparando homens e mulheres, por exemplo, é preciso garantir uma
quantidade mínima de cada um desses subgrupos na amostra, o que não é
possível de ser obtido pós-coleta.
9. Não cuidar dos dados originais
Seja
em questionários de papel ou planilhas eletrônicas, os dados originais
devem ser guardados até o final da pesquisa (e depois) pois não podem
ser substituídos facilmente. Alguns pesquisadores também não sabem que
informações resumidas não substituem os dados abertos, por unidade
amostral, e a pesquisa ficará bastante limitada se perdê-los por algum
motivo.
Se quiser, comente abaixo
outros procedimentos básicos que podem ajudar seus colegas
pesquisadores. Espero que o texto seja útil para os acadêmicos que estão
começando a aprender a analisar seus dados e, na dúvida, contate um profissional para ajudá-lo.
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