domingo, 26 de outubro de 2014

Cooperação científica


Desafios da cooperação internacional em pesquisa

Por Heitor Shimizu, de Munique

“Se realmente quisermos cooperações instigantes em pesquisa científica e projetos conjuntos em que se pense o até então impensável, não é suficiente apenas colocar cientistas de um país em contato com os de outro, ou apenas permitir que se visitem”, disse Enno Aufderheide, secretário-geral da Fundação Alexander von Humboldt, durante a FAPESP Week Munich, simpósio promovido pela FAPESP e pelo Centro Universitário da Baviera para a América Latina (Baylat) em Munique, na Alemanha, de 15 a 17 de outubro.
 
“Temos que tornar possível que os pesquisadores permaneçam em outros países. Temos que permitir que eles tenham a perspectiva das pessoas que vivem lá e com quem eles trabalharão, de modo que haja uma interação real entre os dois lados”, disse Aufderheide.

 
Brito Cruz, Aufderheide e Varela falaram sobre os incentivos às colaborações entre pesquisadores de diversos países (foto: H.Shimizu)

Aufderheide foi um dos palestrantes no painel “Colaboração científica internacional, networking e excelência em universidades – Boas práticas”, ao lado de Christian Müller, diretor do Departamento de Estratégia e Gerenciamento do Conhecimento do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD); de Torsten Nyncke, diretor regional para Europa, Brasil e Israel da Associação Fraunhofer; e de Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP. O painel teve como moderador José Arana Varela, diretor presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP.

Fundada em 1953 e com 15 pesquisadores com prêmio Nobel, a Fundação Humboldt oferece auxílios que possibilitam a pesquisadores de outros países passarem períodos em uma instituição alemã. Segundo Aufderheide, a instituição tem construído uma rede global de excelência em pesquisa que conta atualmente com 26 mil pesquisadores em quase 140 países, que têm ou tiveram apoio em algum momento de suas carreiras.

“Essa rede apoia colaborações multilaterais em várias disciplinas, beneficiando tanto indivíduos em sua busca de conquistas científicas como países que querem se tornar parte do empreendimento global de adquirir conhecimento”, disse.

Segundo Aufderheide, as necessidades e oportunidades para a colaboração internacional em pesquisa têm aumentado enormemente na última década. “E países que não estão bem integrados em redes internacionais correm o risco de perder oportunidades importantes para recrutar talentos”, disse.

Müller falou sobre a longa história de cooperação com instituições brasileiras, especialmente agências de fomento à pesquisa. Com a FAPESP, por exemplo, o DAAD mantém um acordo de cooperação desde 1988 – por meio do qual já foram concedidos mais de 130 auxílios e bolsas.

Nyncke falou sobre a estratégia de internacionalização da Fraunhofer, que se baseia na adição de valor científico para a associação alemã e nos efeitos positivos tanto para a Alemanha como para o país parceiro advindos da colaboração.

“O Brasil tem sido um parceiro importante para a Fraunhofer. Mais de 30 institutos da associação tem participado de cooperações com parceiros brasileiros. Dois centros de projetos da Fraunhofer, um deles no Estado de São Paulo, demonstram o comprometimento de longo prazo na colaboração científica com o Brasil”, disse.

Brito Cruz destacou o programa de internacionalização da pesquisa feita no Estado de São Paulo, apoiado pela FAPESP por meio de mais de 100 acordos de cooperação com instituições de outros países e por diversos instrumentos de fomento.

“Ciência é um empreendimento social. Não é apenas um empreendimento individual. Assim como a ciência depende do gênio individual, ela também depende da comunicação e do trabalho conjunto, especialmente entre os melhores pesquisadores no mundo. Esse é um dos motivos por que procuramos desenvolver a colaboração internacional em pesquisa. Queremos que os melhores cientistas em São Paulo trabalhem mais do que o fazem atualmente em conjunto com os melhores cientistas no mundo”, disse.

O diretor científico também destacou que, além de permitir que pesquisadores de São Paulo possam ir a outros países para participar de projetos binacionais ou internacionais, a FAPESP tem possibilitado a vinda de pesquisadores de outros países ao Brasil.

“Trouxemos o equivalente a um pesquisador por dia de trabalho [na semana] em 2013 e queremos aumentar para dois pesquisadores por dia”, disse. “Também no ano passado, 20% das bolsas de pós-doutorado da FAPESP foram concedidas a estrangeiros.”

“Há muitas iniciativas para a internacionalização da pesquisa brasileira e estamos trabalhando duro para isso, mas é claro que há diversos obstáculos. Um deles é que no Brasil nós falamos português, uma língua não dominada no resto do mundo. Outro ponto é que o país está distante dos principais centros científicos mundiais”, disse Brito Cruz.
 
“Na FAPESP, temos criado incentivos e oportunidades que permitam que esses obstáculos sejam superados e os resultados têm sido muito bons. Em 2005, por exemplo, tínhamos dois ou três auxílios da FAPESP em parceria com organizações de outros países para financiar o trabalho colaborativo de pesquisadores. Hoje, são cerca de 200”, disse Brito Cruz.

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