Governo planeja "importar" médico para a rede pública
FLÁVIA FOREQUE & JOHANNA NUBLAT
A atuação de médicos estrangeiros e de brasileiros formados no exterior
na rede pública de saúde pode ser facilitada por uma proposta em debate
pelo governo federal.
Hoje, esse ingresso é feito principalmente pelo Revalida, exame tido como difícil e com alta taxa de reprovação.
A ideia é lançar editais internacionais para que os médicos trabalhem
vinculados à rede pública em cidades do interior e periferias carentes
de assistência, com registro provisório de dois anos.
Nesse período, o médico seria acompanhado por tutores e supervisores de
instituições de ensino e teria aulas de português e sobre o SUS.
Após dois anos, se quisesse ficar no país, o profissional teria que fazer o Revalida.
Essa proposta foi apresentada, anteontem, a reitores e coordenadores de
cursos de medicina de universidades federais pelos ministérios de Saúde e
Educação.
O Ministério da Saúde calcula um deficit de 160 mil médicos, que será suprido apenas em 2035 se mantida a presente situação.
A expectativa é que a carência seja sanada principalmente por médicos de
Portugal e Espanha, onde o índice de desemprego está alto.
"Tem gente que diz que a proposta é importar médicos sem qualidade, que
vão tomar o lugar dos brasileiros. Não achei que seja isso, pareceu algo
bem organizado", disse Ângela Cruz, reitora da UFRN (Universidade
Federal do Rio Grande do Norte).
As entidades médicas no Brasil têm opinião contrária e criticam
duramente a ideia de flexibilizar a entrada dos diplomas internacionais.
Para o CFM (Conselho Federal de Medicina), o problema é a má
distribuição de médicos. Estudo da entidade aponta que a proporção de
médicos no país, na rede pública e privada, é de 2 médicos por 1.000
habitantes.
Enquanto isso, no SUS o índice é de 1,13 no país e não passa de 1,35 no Sudeste.
O governo também estuda alterar o Revalida, para que o exame tenha o
mesmo grau de exigência dos cursos nacionais. Uma possibilidade é
calibrar a nota de corte pelo desempenho de formandos de medicina na
prova.
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