segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Declaração de Astana



Declaração de Astana sobre Atenção Primária à Saúde e 
posicionamento do Conselho Nacional de Saúde


A Conferência Global sobre Atenção Primária à Saúde será realizada em Astana, Cazaquistão em 25 e 26 de outubro de 2018. O evento, organizado pela OMS e UNICEF, terá a participação dos Ministros de Saúde e delegados de diferentes países do mundo. Na ocasião, será apresenta a nova Declaração sobre Atenção Primária à Saúde, cuja versão preliminar foi submetida a consulta pública no mês de julho deste ano.
 
Nessa versão preliminar, intitulada “Declaração de Astana sobre Atenção Primária à Saúde: de Alma-Ata rumo à cobertura universal de saúde e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, os participantes da Conferência Global sobre Atenção Primária à Saúde afirmam seu compromisso com a APS como fundamento necessário para conseguir a cobertura universal em saúde em direta relação com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Também, destacam três componentes da APS necessários para enfrentar os desafios em saúde e desenvolvimento da era moderna: empoderamento das pessoas e comunidades como corresponsáveis da sua própria saúde; abordagem sobre os determinantes sociais, econômicos, ambientais e comerciais da saúde; e saúde pública e APS fortes, como núcleos fundamentais da prestação dos serviços.
 
Além disso, salientam que o alcance da meta de Saúde para Todos tem grandes possibilidades de êxito no momento atual, devido a fatores como: vontade política, interesse de diversos atores públicos e privados nos ODS; conhecimentos robustos sobre como abordar os determinantes da saúde e melhorar os sistemas de saúde; tecnologias mais eficazes e acessíveis para melhorar o acesso aos cuidados de saúde das pessoas mais vulneráveis; pessoas mais informadas, conectadas e com maiores expectativas.
 
No entanto, evidenciam também importantes desafios associados a estilos de vida e ambientes insalubres, doenças crónicas, violência, epidemias, desastres ambientais, migração para grandes cidades. Para enfrentar esses desafios propõem empoderar as pessoas como responsáveis por sua saúde e atenção à saúde, para que escolham estilos de vida saudáveis e se envolvam na concepção, planejamento e gestão dos sistemas de saúde; fazer políticas audaciosas para a saúde, que abordem os determinantes sociais da saúde conforme os ODS a partir do governo, engajando o setor privado, fortalecendo financeiramente a saúde pública e a APS para alcançar a cobertura universal de saúde;  saúde pública e atenção primária no centro da cobertura universal de saúde, priorizando a prevenção de doenças e promoção da saúde, garantindo adequada força de trabalho e disponibilidade de medicamentos, tecnologias e recursos suficientes; alinhar apoio de parceiros com políticas, estratégias e planos nacionais, associando a análise da implementação da Declaração com o monitoramento da cobertura universal e o alcance dos ODS.
 
As questões expostas na versão preliminar da Declaração têm suscitado posicionamentos críticos por parte de pesquisadores e organismos que estão comprometidos com a APS no Brasil e no mundo. Destaca-se o posicionamento da Câmara Técnica de Atenção Básica do Conselho Nacional de Saúde (CTAB/CNS). O Conselho afirma que uma nova declaração de APS deve levar em conta o papel que o setor saúde tem adquirido como espaço de acumulação do capital na conjuntura atual, caraterizada pelo forte avanço do neoliberalismo, a onda de privatizações de diferentes setores, a crescente pressão de interesses privados nos sistemas públicos de saúde, a forte influência do complexo médico-industrial e financeiro da saúde, a crise econômica e financeira, o avanço do autoritarismo, dentre outras questões. Destaca que para a defesa de uma APS abrangente é necessário não naturalizar as desigualdades produzidas pelas relações de interdependência entres os países centrais e periféricos e pela ordem econômica hegemônica mundial, questões determinantes no processo saúde doença das populações africanas e latino-americanas.
 
Baseados nessa premissa, a CTAB/CNS ratifica a Declaração de Alma Ata e propõe os eixos estruturantes da APS abrangente, integral, pública e de responsabilidade do Estado, quais sejam:
 
  • Saúde como direito humano fundamental.
  • Saúde como direito universal e não como mercadoria.
  • Sistema universal em contraposição a cobertura universal: a CTAB/CNS defende que se exclua a cobertura universal da declaração de Astana, por ser uma proposta neoliberal que restringe o direito à saúde à lógica financeira. A APS deve ser direito de todos e dever dos Estados, assegurada por sistemas universais públicos de saúde.
  • Defesa da democracia e da participação social.
  • Sistemas universais de saúde como dever do Estado e responsabilidade governamental financiados por fundos e instituições públicas.
  • Reconhecimento da determinação social do processo saúde e doença, necessária integração dos países periféricos: o processo saúde doença é determinado pela forma como a sociedade se organiza, portanto não pode ser reduzido unicamente a produto de escolhas individuais de estilos de vida e comportamentos.
  • Não comercialização, mercantilização e privatização da saúde.
  • Equidade e justiça social pela superação das desigualdades sociais e enfrentamento das iniquidades: é inadiável que os Estados produzam políticas públicas que enfrentem a concentração de riqueza nacional e global e reparem dívidas étnicas, de gênero e históricas.
  • Complexo produtivo da saúde em favor do desenvolvimento social e de sistemas universais de saúde.
  • Orçamento prioritário para a saúde e para a seguridade social: saúde é investimento e não gasto público.
  • Trabalho em saúde, trabalhadores do setor e a formação profissional como direito social.
  • Modelo de atenção, cuidado integral, fortalecimento das redes de atenção e da intersetorialidade em saúde. 
  • Interculturalidade.
 

A CTAB/CNS salienta que tais eixos devem orientar as instâncias de controle social em qualquer espaço em que se discuta e se delibere sobre a Atenção Primária à Saúde.
 
Convidamos à leitura da Declaração e do posicionamento da CTAB/CNS nos links a seguir:
 
 

 
Por Diana Ruiz e Valentina Martufi – doutorandas que contribuem para a REDE APS


 Visite o site da REDE DE PESQUISA EM APS

domingo, 14 de outubro de 2018

Lifelong learning



Learning Is a Complex and Active Process That Occurs Throughout the Life Span

WASHINGTON – A new report from the National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine highlights the dynamic process of learning throughout the life span and identifies frontiers in which more research is needed to pursue an even deeper understanding of human learning.






“The body of research on learning shows how complex it is, and how many different elements interact as people learn,” said Cora Bagley Marrett, former deputy director of the National Science Foundation, professor emeritus at the University of Wisconsin-Madison, and chair of the committee that conducted the National Academies' study.  “The report explains that people learn every day, in different settings and in different ways.  Some forms of learning happen intentionally while others happen with little effort, such as when people learn everyday processes such as cooking. People do not simply collect memories, knowledge, and skills in a linear fashion, but through myriad processes that interact over time to influence the way they make sense of the world.”

Learning is an ongoing process that is simultaneously biological and cultural. Each individual learner functions within a complex developmental, cognitive, physical, social, and cultural system. Learning also changes the brain throughout the life span. At the same time, the brain develops in ways that impact learning and are in turn shaped by the learner’s context and cultural influences. The report goes on to say that factors that are relevant to learning include influences from the microscopic level to the characteristics of the learner’s neighborhood, community, and the time period in which he or she lives. Even at the most basic level, evidence shows that brain development and cognition are guided and organized by cultural, social, emotional, and physiological experiences that contribute to both age-related and individual variability in learning.

In 2000, a National Academies report brought together decades of research on the processes and functions of learning in How People Learn: Brain, Mind, Experience, and School (HPL I). The report summarized the work of two committees that had examined insights on the nature of learning between kindergarten and grade 12, such as how experts differ from novices, how learning transfers across settings, and how children and adult learners do and do not differ. It described principles for the design of effective learning environments, offered examples of effective teaching in history, mathematics, and science, and examined the extent to which opportunities for teacher learning enhance effectiveness in facilitating student learning. How People Learn II: Learners, Contexts, and Cultures summarizes new insights related to the ground covered in HPL I and expands the discussion to include learning that occurs beyond K-12 education to encompass the entire life span.

“The foundational research that was documented in HPL I holds true today, but after nearly two decades, an examination of new research was needed,” said Marrett. “How People Learn II provides a much-needed update.”

The report says that individuals learn throughout their lives in every setting, and that their choices, motivation, and capacity for self-regulation – as well as their circumstances, particularly outside of compulsory education – influence how much and how well they learn and transfer their learning to new situations. As we age, our abilities to quickly generate and manipulate factual information begin to decline, while knowledge levels remain stable or increase. However, the brain adapts throughout life, recruiting and orchestrating its resources to compensate for declines and adapt to circumstances. Learning requires that the individual coordinate many different cognitive processes, including, for example, memory and attention. Memory – the capacity to store and retrieve information – is an essential component of learning because it allows individuals to use past experiences to adapt and solve problems in the present.

 




The report says that understanding the developmental, cultural, contextual, and historical diversity of learners is central to understanding how people learn. An individual’s learning and development are affected by the environment in which he or she lives – including not only the family and other close relationships and circumstances but also the larger context in which families and communities are situated. Researchers have explored how cultural values, historical perspectives, modes of communication, and the importance attached to different kinds of knowledge and skill affect learning.

To learn intentionally, people must want to learn and must see the value in accomplishing what is being asked of them. The committee found that numerous factors and circumstances sway an individual’s desire to learn and the decision to expend effort on learning. The report concludes that motivation to learn is influenced by the multiple goals that individuals construct for themselves as result of their life and school experiences and the socio-cultural context in which learning takes place. Motivation to learn is fostered for learners of all ages when they perceive that the school or learning environment is a place where they “belong” and when the environment promotes their sense of purpose.

Much is known about the science and practice of learning, but this exploration of the diverse and fast-moving research has highlighted frontiers where more work is needed. The report identifies needed research in two broad areas: understanding and embracing variability in learning and the potential uses and impacts of technology for learning. The committee believes that advances in these areas will not only expand on what is known about how people learn but also support the work of educators in formal and informal learning settings and in workplace training.

The study was sponsored by the Alfred P. Sloan Foundation, the American Educational Research Association, the Bill & Melinda Gates Foundation, - the Institute of Education Sciences of the U.S. Department of Education, the Teagle Foundation, the William and Flora Hewlett Foundation, with additional support from the National Academy of Sciences W. K. Kellogg Foundation Fund and the National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine Presidents’ Circle Fund. The National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine are private, nonprofit institutions that provide independent, objective analysis and advice to the nation to solve complex problems and inform public policy decisions related to science, technology, and medicine.  The National Academies operate under an 1863 congressional charter to the National Academy of Sciences, signed by President Lincoln.  For more information, visit http://national-academies.org.

Contacts:
Kacey Templin, Media Relations Officer
Andrew Robinson, Media Relations Assistant
Office of News and Public Information
202-334-2138; e-mail news@nas.edu

Women in Health



Being a Doctor Is Hard. It’s Harder for Women.

Female medical residents and physicians endure bias and a larger burden with home duties. They also face a greater risk of depression.

By Dhruv Khullar

Happy medical residents are all alike. Every unhappy resident would take a long time to count.

It’s no secret that medical training is grueling: long hours, little sleep, rigid hierarchies, steep learning curves. It’s unfortunate but not surprising, then, that nearly one-third of residents experience symptoms of depression, and more than 10 percent of medical students report having suicidal thoughts. But is it worse for women than men?

A new study in JAMA Internal Medicine suggests yes. Dr. Constance Guille and colleagues analyzed the mental health of more than 3,100 newly minted doctors at 44 hospitals across the country. Before starting residency, men and women had similar levels of depressive symptoms. After six months on the job, both genders experienced a sharp rise in depression scores — but the effect was much more pronounced for women. A major reason: work-family conflict, which accounted for more than a third of the disparity.

Despite large increases in the number of women in medicine, female physicians continue to shoulder the bulk of household and child care duties. This unequal distribution of domestic labor is not unique to medicine, of course, but its manifestations are particularly acute in a physically and emotionally demanding profession with a lengthy training process that allows few, if any, breaks.
Despite large increases in the number of women in medicine, female physicians continue to shoulder the bulk of household and child care duties.CreditKaren Bleier/Agence France-Presse — Getty Images

The structure of medical training has changed little since the 1960s, when almost all residents were men with few household duties. Support for those trying to balance home and work life hasn’t kept pace with changing demographics, nor has the division of domestic labor shifted to reflect the rise of women in the medical work force. Today, women account for more than one-third of practicing physicians and about half of physicians-in-training. In 1966, only 7 percent of graduating medical students were women.

There’s a saying that you can’t take good care of patients unless you take good care of yourself, but as a colleague recently told me, “Try taking care of patients, yourself and two kids at home — while working 80 hours a week.”

Female physicians are more likely to cut back professionally to accommodate household responsibilities. Among young academic physicians with children, women spend nine more hours per week on domestic activities than their male counterparts, and are more likely to take time off when a child is sick or a school is closed.

Households in which both spouses are doctors are particularly illustrative: Women in dual-physician households with young children work 11 fewer hours per week (outside the home) compared with women without children. There’s no difference in hours worked by men, and this disparity hasn’t narrowed in the past two decades. Female physicians are also more likely to divorce than male physicians — and working more is associated with higher divorce rates for women but not for men.

These work-family conflicts are crystallized by the intensity of medical training, but gender bias within hospitals — both subtle and overt, from patients and colleagues — may be just as pernicious.

As a man of Indian descent, if I’m mistaken for anything, it’s for a cardiologist. (Which I am not — much to my mother’s chagrin). But for many female physicians, just getting others to call you doctor can be a daily struggle.

“I wear a white coat; I introduce myself as doctor,” said Dr. Theresa Williamson, a neurosurgery resident at Duke. “But patients still assume I’m a nurse or medical assistant or pharmacist. If there’s a man in the room — even if he’s a medical student and I’m the doctor — he’s the one they make eye contact with, tell their story to, ask questions of.”

It’s not just patients. A recent study explored how physician speakers were introduced at formal academic lectures, known as Grand Rounds. Female introducers almost always referred to the speaker as “doctor,” regardless of his or her gender. Male introducers used the formal title only two-thirds of the time — and were much more likely to use “doctor” for men than women. They used a woman’s professional title less than half the time.

“I remember being on a panel with all men, and the moderator thanking Dr. X, Y, Z — and Julia,” said Dr. Julia Files, an associate professor at the Mayo Clinic in Arizona and lead author of the study. “It happens all the time.”

After her study came out, Dr. Files said, “we heard from women across the world who said: ‘Thank you, this is our shared reality.’ ”

These biases can bleed into the way we do business. A new working paper by Heather Sarsons, a Ph.D. candidate at Harvard, examines whether surgeons’ gender affects their referrals after a good or bad patient outcome. Ms. Sarsons finds that physicians are much less likely to refer patients to a female surgeon after a patient death, but barely change their referrals to a male surgeon.

A bad experience with one female surgeon also makes physicians less likely to establish referral relationships with other female surgeons. There was no similar effect for men.

“That individual men and women are treated differently is obviously not a nice result,” Ms. Sarsons said. “But what’s really concerning is the broader spillover effects to other women.”

Medicine styles itself as both art and science. The science creates new knowledge and treatments. The art helps us recognize another’s humanity. But it also creates space for bias — conscious and unconscious — in how we treat patients and how we treat one another. These biases influence who is respected, who burns out and who is promoted.

By these measures, we’re not doing well. Female physicians are more than twice as likely to commit suicide as the general population. They earn significantly less than their male colleagues. They’re less likely to advance to full professorships — even after controlling for productivity — and they account for only one-sixth of medical school deans and department chairs.

There are steps that might help. A pilot program at Stanford, for example, allows physicians to “bank” hours they spend mentoring others or serving on committees. Those hours can then be used as credits for child care, dry cleaning pickup, ready-made meals, housekeeping and handyman services. Preliminary results are promising, and suggest that the program has increased job satisfaction, improved work-life balance and reduced turnover.

As these initiatives evolve, they could be evaluated to see not only if they improve physician well-being, but also if they promote career advancement, cut medical errors or improve patient satisfaction.

We can all also examine our own biases. Those of us evaluating medical students and residents, for example, could make it a point to ask ourselves whether a trainee’s gender — or race or ethnicity or accent — might have affected our assessment.

And more women in leadership and mentorship roles may help with the larger cultural shift that seems necessary. It’s possible that gaps in gender pay, promotion and mental health will narrow as medicine shifts from a boys club to one with more women. It’s also possible they will not. Disparities don’t close on their own. They close because we close them.


Dhruv Khullar, M.D., M.P.P., is a physician at NewYork-Presbyterian Hospital and a researcher at the Weill Cornell Department of Healthcare Policy and Research. Follow him on Twitter at @DhruvKhullar


quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Saúde Mental na Escola








A importância de discutir a saúde mental de alunos e professores na escola

Evento de NOVA ESCOLA debateu a influência do clima escolar na saúde dos educadores e a relação entre a saúde mental e a identidade dos jovens

 

Larissa Teixeira

Fernando Monteiro falou sobre o papel do professor no clima escolar durante o evento Saúde Mental na Escola. Crédito: Lucas Magalhães

O clima escolar é um dos fatores que influenciam a saúde mental dos jovens e, claro, dos professores. Para garantir a qualidade do processo de ensino e aprendizagem, é preciso antes de tudo que a escola favoreça um ambiente harmonioso, em que o respeito e a colaboração estejam inseridos nas práticas cotidianas. O papel dos alunos e docentes na construção de um clima saudável foi tema de debates durante o evento Saúde Mental na Escola, promovido pela NOVA ESCOLA, com apoio do Facebook e Instagram.


 

Para abordar a importância da cultura colaborativa e do diálogo entre toda a equipe da escola, Fernando Monteiro e Bárbara Dias compartilharam a experiência da organização Evoluir Brasil, especializada em desenvolver conteúdos e metodologias educacionais inovadoras para o desenvolvimento de pessoas.

Segundo Fernando, fundador e diretor-executivo da Evoluir, nenhum fator isolado determina o clima de uma escola, mas sim a interação entre vários elementos relacionados com o engajamento das pessoas, a segurança e a estrutura física da instituição. “Um ambiente que favorece relações mais respeitosas e horizontais tem uma influência direta não apenas na saúde mental de todos, mas também na aprendizagem. Em escolas em que os docentes conseguem colaborar e pensar junto, os alunos também têm um melhor desempenho”, explica.


Para ele, é preciso que haja uma mudança de mentalidade que valorize a ação coletiva entre os educadores, o que pode ser feito com base em três campos de ação. Em primeiro lugar, na esfera pessoal – o docente precisa desenvolver suas próprias habilidades socioemocionais para que consiga se relacionar melhor com os colegas. Em segundo, ele deve investir em métodos de interação com os outros, como a prática do diálogo, a escuta ativa e a comunicação não violenta. Por fim, é necessário pensar no campo ambiental, ou seja, compreender que todos fazem parte de um todo e que precisam conviver em harmonia.


A coordenadora de projetos Bárbara Dias trabalha com projetos contínuos desenvolvidos em escolas públicas. Crédito: Lucas Magalhães

Bárbara Dias, coordenadora de projetos do Evoluir, aponta que, em um momento de polarização e discursos violentos, essas práticas são essenciais para preservar a saúde mental dos educadores. “Embora cada escola tenha suas especificidades, todas elas enfrentam esse dilema do convívio, do estresse, da depressão e da angústia dos professores”, conta. Por isso, ela acredita que é necessário trabalhar o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como autoconhecimento e prática da empatia, também entre os educadores.


Saúde mental dos jovens

Um bom clima escolar é responsabilidade coletiva e envolve também a participação dos estudantes. Ao enfrentar problemas de saúde mental e perceber que muitos alunos de sua turma pareciam tristes ou deprimidos, três alunas do Colégio Dante Alighieri, em São Paulo, tiveram a ideia de desenvolver um projeto científico na área de psicologia social sobre saúde mental e construção de identidade.

A aluna Alessandra durante apresentação da palestra "Saúde mental e identidade jovem". Crédito: Lucas Magalhães

Criado pelas adolescentes Alessandra Maranca, Catharina de Morais e Maria Clara Nascentes, o projeto “O Bem-Estar do Jovem: A Busca pela Saúde Mental a partir da Construção da Identidade Autêntica” foi realizado dentro do programa Cientista Aprendiz, do Colégio Dante.

"Na época tínhamos 13, 14 anos. Eu era bulímica, andava hostil com as pessoas e tinha passado por situações de bullying. Quando a gente se reuniu, chegamos à conclusão de que nós três estávamos sofrendo, e também percebíamos isso ao conversar com outras pessoas. Então queríamos entender por que isso estava acontecendo", conta Alessandra.
Em uma pesquisa inicial, as jovens descobriram que existem cerca de 35 milhões de adolescentes entre 10 a 19 anos com algum transtorno de saúde mental. “Identificamos que uma das etapas mais cruciais para que o jovem se torne um adulto maduro é a construção da identidade, ou seja, ter um conjunto de metas e objetivos estabelecidos. Essa questão da identidade influencia a saúde mental, principalmente neste momento da hipermodernidade, em que temos muitas opções e um grande poder de escolha”, relata Maria Clara.

As estudantes Maria Clara e Catharina durante apresentação do projeto que desenvolvem no Colégio Dante. Crédito: Lucas Magalhães

Após as pesquisas, o primeiro passo foi realizar um questionário com escolas públicas e particulares para entender a correlação entre esses fatores. Na segunda fase, elas criaram um plano de intervenção baseado em alguns pilares, como o fortalecimento do diálogo com o grupo, discussões sobre padrões corporais e o princípio da identificação. “Muitas vezes, os jovens têm mais dificuldade de falar sobre determinados assuntos com os adultos. Por isso, pensamos que uma boa maneira de fazer isso seria colocar os próprios jovens para falar com as turmas”, explica Catharina.

Dentro do projeto, foram escolhidos alguns líderes para guiar o trabalho nas salas de aulas e mediar rodas de conversa sobre a formação da identidade. O trabalho ainda está em andamento, mas a ideia é que possa ser replicado em outras escolas.