Medicina RP prepara docente para formar melhores profissionais e cidadãos
Centro da USP dá oportunidade para atuação mais efetiva dos educadores e aprimoramento do processo de aprendizagem dos alunos
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Oferecer oportunidades para o desenvolvimento e capacitação do professor e, assim, melhorar o processo de aprendizagem de seus alunos levou à criação do Centro de Desenvolvimento Docente para o Ensino (CDDE) na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
De acordo com o professor Valdes Roberto Bollela, um dos coordenadores do CDDE, esse trabalho vai impactar positivamente na qualidade da experiência educacional dos estudantes da FMRP. “Especialmente porque teremos professores mais bem preparados para o desafio de auxiliar jovens estudantes na sua trajetória de formação enquanto profissionais e cidadãos”, afirma.
O professor comemora os resultados do primeiro ano de implementação do CDDE, em especial do Módulo Básico para a Educação nas Profissões da Saúde (MB-EPS). “Ao término de dois módulos básicos em 2017, somamos 51 propostas de intervenção educacional e esperamos que sejam implantadas já em 2018.”
Para o professor Bollela, mesmo com uma sólida formação na área profissional as universidades não têm muitas ações voltadas ao professor que ensina na graduação, ou seja, que atua como educador no meio universitário.
“Na verdade ensinar é uma prática profissional como qualquer outra e na área da saúde, em especial na medicina, existe uma ideia equivocada de que, se você é um bom médico ou um bom pesquisador, automaticamente será também um bom professor”, conta.
Bollela diz que muito do que o professor faz em sua prática educacional é baseado em sua própria experiência, enquanto estudante, se espelhando em modelos prévios que são ajustados na medida em que acumula tempo ensinando.
“Sem dúvida essa é uma forma de se aprender a ser professor, mas, como nas outras áreas, existem meios mais efetivos e rápidos para que esse objetivo seja alcançado.” O coordenador lembra que muitos têm dúvidas sobre o que significam conceitos básicos como avaliação programática, princípios para o desenho curricular, aprendizagem de adultos, aprendizagem com pares e sala de aula invertida.
A FMRP, segundo Bollela, tem ciência dessa necessidade e, através da criação do CDDE, busca atender também ao Artigo 34 das novas Diretrizes Curriculares dos cursos de graduação em Medicina de 2014, que deixa explícita a necessidade desses cursos manterem permanentemente um Programa de Formação e Desenvolvimento da Docência em Saúde, seguindo uma tendência já presente nas melhores instituições de ensino do mundo.
Criar um centro de desenvolvimento docente já era uma das propostas do plano de gestão dos professores Margaret de Castro, diretora, e Rui Alberto Ferriani, vice-diretor da FMRP, que contaram com as sugestões e propostas dos professores Luiz Ernesto de Almeida Troncon e Bollela, ambos da FMRP.
Em janeiro do ano passado, os professores Margaret, Eduardo Ferriolli, presidente da Comissão de Graduação, Troncon e Bollela compuseram um grupo de trabalho que viabilizou a criação do CDDE.
“A maior parte das universidades de prestígio do mundo já dispõe, há décadas, de centros de capacitação e desenvolvimento docente, que procuram oferecer oportunidades para que seus professores aprendam conceitos e métodos que possam tornar mais efetiva a sua atuação como educadores e, com isso, os estudantes aprendam mais e melhor”, enfatiza a professora Margaret.
Resultados
Atualmente, a FMRP conta com 337 professores e 600 preceptores (profissionais de saúde não ligados diretamente à USP), que atuam em sete cursos de graduação, com um total de 1.430 alunos matriculados.
Durante o primeiro ano de atividades do centro, foram priorizados os professores mais novos da faculdade, mas houve participação de professores mais antigos e de alguns preceptores da prática profissional. Foram oferecidos dois módulos básicos, um em cada semestre, que contaram com encontros presenciais semanais e atividades a distância.
Ao término do módulo básico, os participantes fizeram propostas de intervenção que envolveram, principalmente, estratégias de ensino e aprendizagem, como a sala de aula invertida (quando o professor divide com o aluno o processo de ensino e aprendizagem), o team-based learning, estudo dirigido, técnicas de aprendizagem em pequenos grupos, aprendizagem com os pares e avaliação formativa.
Além disso, o CDDE ofereceu oficinas com temas voltados às avaliações dos estudantes, como as boas práticas na elaboração de testes de múltipla escolha, com a participação de 60 professores e preceptores ligados à FMRP e ao Hospital das Clínicas (HCFMRP).
O centro expandiu suas ações e os membros da equipe participaram de eventos organizados por outras entidades que tratam de temas relacionados à educação nas profissões da saúde. As expectativas do grupo coordenador são muitas, segundo Margaret. “Entre elas a realização de um módulo básico específico para os profissionais das unidades que compõem o complexo HCFMRP e manter os encontros presenciais periódicos entre participantes dos módulos básicos e os facilitadores, para fomentar uma comunidade de práticas que está se iniciando na FMRP”, enfatiza a diretora.
Iniciativa pioneira
O professor Bollela lembra que a Pró-Reitoria de Graduação (PRG) da USP vem investindo há muito tempo na qualificação do trabalho do docente como educador e que essa iniciativa vem se somar ao esforço da Universidade. “Acreditamos que o trabalho de capacitação e desenvolvimento docente para o ensino deva ser feito respeitando as particularidades de cada unidade e do seu corpo de professores. E, ainda, que os melhores resultados são obtidos quando se propõe oportunidades de contato muito próximo entre os professores que participam aprendendo e aqueles que atuam como facilitadores desse aprendizado.”
Assim, diz o professor, “acreditamos que a proposta do CDDE da FMRP e as atividades desenvolvidas em 2017 constituam uma experiência pioneira na Universidade”. Para Bollela, o caráter inovador da proposta decorre exatamente do modo como as atividades de capacitação e desenvolvimento vêm sendo oferecidas, que está criando uma ‘comunidade de práticas’ na faculdade, composta de pessoas interessadas em qualificar melhor o ensino.
“Comunidade de práticas é a designação dada a um grupo de pessoas com interesses comuns, que se ajudam e se apoiam mutuamente, para contribuir com o crescimento de sua área de interesse e amplificar o impacto das suas ações”, finaliza.
Colaboração de Giovanna Grepi
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