terça-feira, 19 de julho de 2011

Atenção Primária à Saúde

Entrevista com Antonio Carlile Lavor


Médico, sanitarista da Secretaria de Saúde do Ceará, ex-professor da Universidade de Brasília, onde iniciou as pesquisas para a construção do ACS (década de 70), adaptando-as posteriormente na microrregião de Iguatu/CE (década de 80). Secretário de Saúde do Ceará em 1987, contratou 6.000 agentes comunitários de saúde (ACS) para um trabalho emergencial por um ano. Os ACS transformam-se em um programa permanente da Secretaria e, em 1991, foi adotado pelo Ministério da Saúde. Atualmente, coordena os trabalhos para a implantação de uma unidade da Fiocruz no Ceará.
1) Como você analisa a expansão da APS no Brasil?O acompanhamento das grávidas e de todas as crianças, por meio do Cartão da Criança, a universalização da imunização e a redução da mortalidade infantil demonstraram a efetividade da APS, comprovando que as afirmações da Alma-Ata se aplicavam também ao Brasil. Isso facilitou a criação da Estratégia Saúde da Família e demonstrou que é possível caminhar em busca da saúde para todos.
2) Como foi a sua experiência, como gestor, tendo a APS como orientadora do sistema?Como havíamos acumulado boa experiência com os ACS, desde a experiência na Universidade de Brasília, na década de 70, e a sua aplicação no Ceará, na década de 80, foi possível desencadear um programa em larga escala, na Secretaria de Saúde do Estado, contando com a participação de uma grande rede de profissionais de saúde e de toda a sociedade para reduzir a mortalidade infantil.
3) Sendo um dos “criadores” do trabalho dos ACS, quais os maiores desafios dessa profissão?O primeiro desafio seria os profissionais de saúde entenderem que o ACS brasileiro não se enquadra no modelo de trabalhador de saúde que realiza tratamento das doenças mais comuns, substituindo o médico ou o enfermeiro, como tem sido recomendado pela OMS na África, onde faltam esses profissionais. Aqui, o ACS tem um papel diferente, o de ajudar as famílias a promoverem a saúde. Segundo, seria o de prosseguir na formação, iniciando pelo curso técnico de agente comunitário de saúde, definido, em 2004, pelos Ministérios da Saúde e da Educação.
4) Como foi a experiência de implantar o Programa de Agentes Comunitários de Saúde em Luanda, Angola?Para o bom desempenho do ACS, é necessário que o serviço de saúde tenha muita clareza do seu papel e facilite o estabelecimento de um forte vínculo com a comunidade. Leva um tempo para que se reúnam esses fatores, mas estou confiante no sucesso.
5) Em 2011, a Fiocruz – CE iniciará um mestrado para a formação de professores e pesquisadores em APS. Poderia falar mais a respeito?A Saúde da Família conta hoje com mais de 80.000 profissionais de nível universitário e 350.000 de nível médio, mas não temos nas universidades quase ninguém dedicado ao ensino e à pesquisa dessa área do conhecimento. Como poderemos avançar numa área nova sem pesquisadores e professores?Estamos trabalhando com a Rede Nordestina de Apoio à Saúde da Família (Renasf). Temos aprovado pela Capes o mestrado profissional em Rede em Saúde da Família, que será iniciado com cinco turmas de 20 alunos, nas Universidades Federal do Maranhão, Federal do Rio G. do Norte, Federal do Ceará, Estadual do Ceará e Universidade Vale do Acar aú, de Sobral, contando com a forte colaboração da Fiocruz.
6) Como você vê o papel da Rede de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde?Como já falei na resposta anterior, há muito que se avaliar e aprender para o bom atendimento na Estratégia Saúde da Família. Acredito que a resolução recente do Ministério da Saúde de diferenciar as equipes pela qualidade de desempenho, estimulando financeiramente os municípios, trará grande progresso para a metodologia da avaliação e do desenvolvimento da APS e da Rede. 
7) Para finalizar, gostaríamos que deixasse a todos os participantes da Rede uma dica, ideia que acredita que seja o principal diferencial de quem veste a camisa da APS.A física, a química e a biologia atraem pesquisadores porque mostram os grandes resultados para o desenvolvimento da medicina. É necessário que os progressos alcançados pela APS sejam apresentados aos estudantes universitários e que o serviço público valorize a avaliação da qualidade dos que trabalham na APS.

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