terça-feira, 11 de novembro de 2008

Residência Médica

Médicos que tiveram a residência financiada com recursos da saúde do Estado de São Paulo trabalham principalmente para os planos de saúde depois de formados.
Segundo estudo inédito, realizado pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo e pela Secretaria de Estado da Saúde, apenas 40% têm mais da metade da clientela originada do SUS, o que fomenta discussões sobre o que fazer para que os mais de R$ 100 milhões anuais de recursos públicos investidos nos jovens médicos tragam mais retorno à saúde pública. Também participaram do levantamento a Santa Casa de São Paulo e a Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap), ligada ao governo estadual.
“Estamos investindo recursos do Estado e nada mais justo do que a formação contribuir para o SUS”, afirma Paulo Henrique D’Ângelo Seixas, responsável pela Coordenadoria de Recursos Humanos da secretaria e um dos autores da pesquisa que analisou dados de 17.117 médicos que fizeram residência entre 1990 e 2002. Do total, 12.942 estão na ativa e, entre eles, foram realizadas entrevistas com uma amostra de 1.627 profissionais.
Segundo o presidente do conselho, Henrique Carlos Gonçalves, a desigualdade entre investimentos públicos e resultados para a saúde pública fica mais evidente quando se destaca que no Estado cerca de 40% da população tem acesso a planos, contra a maioria SUS-dependente.”É necessária uma regulação forte do Estado”, defendeu Gonçalves, destacando que em outros países, como o Canadá, o Estado regula o financiamento e a inserção dos egressos das residências.
A secretaria acaba de assumir o pagamento direto das bolsas de estudos, antes gerenciadas pela Fundação do Desenvolvimento Administrativo. Segundo Seixas, trata-se de mais uma medida no processo de aproximar a formação das demandas do SUS.
Nos últimos anos, a pasta também tem procurado direcionar bolsas ociosas ofertadas pelas faculdades de Medicina para áreas em que há maior carência de profissionais do SUS. Mas os próprios autores destacam que medidas pontuais não terão efeito. O Estado de São Paulo atualmente é o segundo maior pagador de bolsas de residência médica no País - perde só para o Ministério da Educação. O total de 4.550 bolsas anuais corresponde a 27% das bolsas para residentes do Brasil.
O estudo mostra ainda que profissionais que se especializaram em áreas básicas e clínicas, como clínica médica, pediatria e ginecologia e obstetrícia, dedicam-se menos à área para qual estudaram. E que os que trocaram de área atribuem a decisão principalmente à baixa remuneração e à falta de oportunidades.
Aqueles que se especializaram em métodos e técnicas de diagnóstico e os dermatologistas são os que mais se fixaram em suas áreas.
Para Irineu Massaia, vice-presidente da Comissão de Residência Médica da Santa Casa , que tem 400 bolsas financiadas pela pasta, o estudo evidencia também a necessidade de o poder público melhorar salários e infra-estrutura para evitar que o mercado dite a formação dos médicos.
Também os ministérios da Saúde e da Educação já avançaram na discussão sobre a especialização médica, apontando a necessidade de formação para áreas carentes do SUS. As pastas realizam agora um levantamento do perfil das bolsas ociosas e já decidiram investir na formação de intensivistas (que atendem emergências), geriatras e psiquiatras, entre outros especialistas . "Serão vagas dentro dos critérios de qualidade", afirma Francisco de Campos, secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde.
NÚMEROS

Nenhum comentário: