sábado, 23 de outubro de 2010

Carreira docente

Caminho da realização
Planejamento, qualificação profissional e boa leitura das diferentes realidades do campo educacional podem fazer com que se obtenha realização na carreira docente. Até mesmo financeira
 
Valéria Hartt - Revista Educação - Edição 162

A habilidade de interagir com seus pares é essencial para a carreira docente

Diante do desprestígio social, a carreira do professor - da professora, na esmagadora maioria dos casos - há tempos deixou de seduzir os jovens universitários. Sobram indicadores para apontar a queda livre. O que sur­preende é o que está na contramão dessa visão do senso comum: a constatação de que existem professores bem-
sucedidos, realizados profissionalmente e com salários bem acima da média do mercado. Afinal de contas, seria possível sonhar com o casamento entre realização profissional e prática do magistério?

Especialistas em recursos humanos apontam caminhos que podem, sim, fazer a diferença na carreira, enquanto exemplos confirmam que a excelência na educação passa obrigatoriamente pelo binômio salário e qualificação do professor.

O termo "carreira" costuma vir acompanhado de um predicativo - carreira acadêmica, carreira científica, literária e assim por diante. Mas antes de falar na extensão, é preciso compreender o principal, segundo os analistas: a própria carreira.

Carlos Bitinas, da DRH Talent Search, consultoria especializada na busca e seleção de talentos profissionais, ecoa uma visão bastante difundida no mundo de RH. Acredita que a carreira é um bem essencial, porém frequentemente pouco compreendido pelos profissionais. Isso porque normalmente ingressamos no mundo do trabalho sem conhecer as características das etapas de uma profissão e, menos ainda, como manejá-las. E, quando começamos a trabalhar, a instituição que nos acolhe também não costuma estar muito preocupada com isso, mas concentrada em ter sua força produtiva. Assim, não é incomum que a falta de intimidade com a carreira persista às vezes ao longo de toda a sua duração.

O magistério não foge à regra. Por essas e outras, um bom ponto de partida para a tão sonhada realização profissional é compreender o significado da carreira, em toda a sua extensão. A palavra vem do latim vulgar,  carraria, que designa um caminho, que não é necessariamente regular e menos ainda um caminho ascendente. "O importante para o profissional é saber fazer as escolhas certas durante o caminho", recomenda Bitinas.

E a lição aqui é inverter a lógica corrente: o professor não se deve deixar conduzir pelo mercado, mas, ao contrário, assumir as rédeas da própria carreira.

Escolhas e possibilidades
O desafio começa na escolha da profissão, pois identificar a própria vocação nem sempre é tarefa simples. A chamada voz interior parece ser aquela que temos mais dificuldade de ouvir, ainda que renegá-la possa significar enorme desperdício de talento. A tendência é buscar as profissões ou as carreiras que dão mais status, poder ou dinheiro, que não são necessariamente aquelas mais alinhadas aos talentos e pendores de cada um.

"Na vida profissional, não é isso que garante realização. É o nosso desejo que precisa prevalecer", destaca Mariá Giuliese, sócia da Lens & Minarelli, uma das gigantes do mercado de recolocação e consultoria em RH, que fala sobre o "efeito manada": "vivemos na sociedade da imagem, em que tudo nos estimula a olhar para fora e atender à demanda exterior, mas acabamos pagando essa conta mais tarde", alerta.

No caso do magistério, como tornar viável o sonho da realização profissional e sustentar a escolha diante desse olhar social que tanto desvaloriza o profissional de ensino?
Refletir a partir dos valores do próprio campo educacional é fundamental.

"O  professor deve meditar seriamente sobre sua escolha e compreender que a pobreza de reconhecimento [externo] faz parte dessa opção. Isso o conduz ao desafio de suportar a si mesmo, de valorizar-se acima da avaliação alheia, de crer em si quando poucos o reconhecem", sustenta José Ernesto Bologna, fundador da consultoria Ethos - Desenvolvimento Humano e Organizacional e especialista em psicologia do desenvolvimento aplicada à administração e à educação.

Sem dúvida, um desafio e tanto, mas é preciso reconhecer que um professor que se valoriza será, certamente, mais interessante aos olhos do outro. E aqueles que conseguem contribuir de maneira efetiva para a formação de seus alunos costumam ser valorizados, mesmo em meio a um todo social que tem tendido a desqualificar e desprestigiar o professor.

Teoria e prática
Vincular precocemente teoria e prática é uma das recomendações de Marcelo Maghidman, da Tafkid  Marketing Educacional e Cultural. "Essa experiência é determinante na progressão da carreira", sinaliza. E lembra que é preciso estar atento à qualificação profissional, recomendação consensual entre os especialistas.

No caso do professor, significa ter em mente que o diploma inicial é condição necessária, mas está longe de dar respostas a todas as exigências da profissão. O que se espera - e que faz a diferença - é que o professor, como qualquer outro profissional de outros setores, invista em sua formação. Do contrário, corre o sério risco de permanecer na ladainha, na eterna crítica aos cursos de formação inicial. Reconhecer as deficiências é sinal positivo, que indica a busca de crescimento pessoal e profissional. E quem está disposto a se aprimorar profissionalmente conta hoje com opções de sobra, inclusive de cursos a distância. Mas é preciso ser seletivo e saber escolher o que de fato vai promover o desenvolvimento da carreira.

Educação continuada
O alerta vem do especialista Gutemberg Leite, da Meta Consultoria em RH, para quem é preciso ter cautela com o modismo da educação continuada. "Os variados cursos oferecidos nem sempre têm conexão com o aprimoramento do professor, levando-o à dispersão, pressionando-o a estudar temas que não irão contribuir como um fator positivo em sua prática em sala de aula", pontua.

Seja qual for a escolha, há demandas que, em tese, o professor precisa cumprir. Nos dias de hoje, além da formação específica e pedagógica, qualquer professor deveria saber planejar e gerenciar sua carreira e seu tempo (no âmbito de suas práticas de classe e fora delas). E mais: saber falar inglês, conhecer as novas tecnologias, dominar o uso do computador, navegar e utilizar a internet, as redes sociais...

Quem paga a conta
Um dos maiores desafios é conciliar a realidade financeira do magistério a essas variadas demandas de formação. As instituições privadas saem na frente e muitas investem na qualificação de seus quadros de professores. As redes públicas, mais frágeis na oferta de atrativos dessa ordem para seus profissionais, têm mais dificuldades de reter seus talentos. Assim, os professores que se formam nas universidades públicas, normalmente mais bem formados, acabam buscando colocações em escolas particulares, que atendem à menor parcela da população (cerca de 13% dos alunos da Educação Básica).

 "O caminho para retomar o processo de revalorização do professor, que na nossa visão é estratégico para vencer o desafio da qualidade, passa necessariamente por um salário inicial atraente e por uma carreira promissora, que promova o desenvolvimento do professor ao longo da vida", resume Mozart  Neves Ramos, do Todos pela Educação.

Ampliando o leque
Claro que os melhores salários ainda estão concentrados na rede privada de ensino. Escolas particulares de primeira linha em geral remuneram melhor o professor e dão mais oportunidades de crescimento profissional, mas esse não é o único caminho. "Existe uma demanda cada vez maior por profissionais muito especializados para atuar no magistério, em instituições que têm o objetivo de formar profissionais", garante Mariá Giuliese, da Lens & Minarelli.

Por outro lado, há iniciativas capitaneadas pelo terceiro setor, que tem presença crescente no mundo da educação. "É o caso da Comunidade Educativa, que trabalha pela melhoria da escola pública e é custeada pelo setor privado, com participação de empresas como a Vale, Votorantim, Natura etc.", ilustra Maghidman. "São nichos ainda reduzidos, mas que podem crescer muito e sinalizam caminhos bastante atraentes para o magistério", defende.

Para ampliar sua própria atratividade, o professor também pode - e deve - exercitar boas doses de ousadia e criatividade. É preciso ampliar o leque de competências e habilidades, o que  não significa dar as costas para a Educação Básica. Significa que progredir na carreira não tem nada que ver com lecionar em cursinhos pré-vestibulares ou atuar em consultorias.  O magistério não é uma carreira que se esgota, porque a arte de ensinar pode ser aplicada em diferentes circunstâncias. O professor pode escrever livros didáticos, pode ter como objetivo alcançar um cargo de coordenação (sem deixar a sala de aula, o que enriquece ambas as experiências), dedicar-se a grupos de alunos com dificuldades de aprendizagem, enfim, pode trilhar diferentes caminhos e explorar novas oportunidades.  

Ousadia e evolução
Correr riscos, aliás, também conta pontos para o desenvolvimento profissional. Significa arriscar-se em novas posições no plano hierárquico - o professor que se arrisca a ser tutor de uma turma - ou se arriscar a formular novas propostas, a apresentar, por exemplo, um projeto interdisciplinar. É a chance de fazer a diferença. "Isso ajuda a ganhar visibilidade dentro da instituição. Para progredir na carreira é preciso ousar e assumir novas responsabilidades", diz Bitinas, da DRH Talent Search.

Outro aspecto imprescindível é a chamada inteligência relacional, que dá conta de como o professor se comporta dentro de grupos e no contexto social. "De nada adianta ser um profundo conhecedor da matéria e ser um autista social", compara Maghidman. O professor precisa ter a habilidade de se comportar em grupos, de compor com seus pares e colegas de trabalho. Do contrário, dificilmente vai avançar na carreira. "Está cheio de gente muito titulada, com bastante conteúdo, mas que tem um componente relacional complicado. Aí não progride na carreira e acaba sendo deixada de lado, porque não é capaz de construir coletivamente", completa o consultor.

O alerta vem ao encontro de uma dimensão importante do trabalho docente: a de que é preciso haver um ambiente propício às relações de ensino e aprendizagem, o que pressupõe suporte e amparo institucional. Para que o conjunto dê certo, é necessário contar com professores interessados e bem formados. Mas a abnegação pessoal muitas vezes se esvai quando não existe articulação entre as partes.

Dez passos para planejar a carreira
1 - Identificar a vocação.
A carreira bem planejada é aquela que está alinhada com o sonho pessoal e com aquilo que o profissional de ensino tem a oferecer.

2 - Fixar objetivos claros e metas de curto, médio e longo prazo.
Para projetar o futuro, é sempre bom avaliar os passos já percorridos. Bons questionamentos sobre o que se quer valem mais do que respostas prontas. Qual a direção a seguir, qual a expectativa de desenvolvimento, o que é preciso fazer para alcançar os objetivos propostos? Um cronograma de ações ajuda a
dar concretude ao processo.

3 - Desenvolver a inteligência sociorrelacional.
É a capacidade de estabelecer vínculos interpessoais e mantê-los positiva e progressivamente, em particular no ambiente educacional. Manter viva e bem cuidada sua rede de relacionamentos.

4 - Estar Atualizado.
Isso vale para diversas frentes: conteúdos, métodos, linguagens, tendências setoriais. No caso da educação, significa também estar atualizado sobre o ambiente educacional, conhecer o que é valorizado e suas carências. Isso pode ajudar, por exemplo a escolher uma especialização em área onde haja mais oportunidades.

5 - Aprimorar competências e qualificações.
Mais do que a maioria dos outros campos, o conhecimento renovado é um aspecto central para os educadores. E isso vale não só para aquilo que se adquire no âmbito formal.

6 - Ter sensibilidade, visão de conjunto e de contexto.
Significa que além de tratar os fatores pessoais é preciso estar atento a questões externas capazes de interferir no desenvolvimento do seu projeto.

7 - Manter atitudes construtivas e positivas
.
Esse tipo de postura ajuda a lidar com as dificuldades de uma maneira lúcida e pragmática, fugindo do rame-rame de lamentação muito comum entre docentes.

8 - Qualidade de vida.

Conferir como a atividade escolhida interfere em sua saúde e bem-estar.
9 - Planejamento financeiro.
Fazer reserva financeira para empreender seu projeto

10 - Revisão anual de seu plano.
Cotejar suas ambições com a realidade é essencial para fazer ajustes e aprimoramentos.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Innovation in Medical Education

IMU- Ron Harden Innovation in Medical Education (IMU-RHIME)

The IMU-Ron Harden Innovation in Medical Education Award was introduced to fulfill two objectives:
  1. to encourage innovations in medical education (medical & health professions)
  2. to recognize innovations by academics which otherwise might go unnoticed
The award honors Professor Ronald Harden who played a crucial role in the inception of the International Medical University; and is a prestigious award because Ron is widely accepted as a “guru “in medical education worldwide. 
Submissions, in the form of abstracts and extended abstracts, are invited for the 6th Congress of the Asian Medical Education Association
The guidelines are as follows:
  • There is no limit to the number of innovations. However, at least ONE author should register for the Congress.
  • The title and abstract should not reveal the name of the workplace, to ensure anonymity.
  • The abstract should not be more than 250 words. Font and spacing is the same as that for oral and poster presentations i.e. Arial, font size 11, single spacing
  • The extended abstract should be not more than 500 words and must contain (a) The introduction/ background of why this innovation is necessary (b) Description of the innovation (c) Results of evaluation (if already done) (e) Discussion (f) References
  • Tested innovations will be at an advantage. However, innovative ideas will also be weighed on their merits.
Six innovations will be short-listed by a panel of international judges. The authors of the short listed innovations will be informed. These innovations are to be presented at the plenary, where a panel of judges will decide on the winner.  The award carries a rolling trophy and RM3000 cash prize. Abstracts that are not short listed for the IMU RHIME Award will be categorized under Free Paper Sessions.


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Serviços de saúde baseados em evidências



A PESQUISA E OS SERVIÇOS DE ATENÇÃO PRIMÁRIA
 
Existe hoje o reconhecimento que as decisões (sejam clínicas, de gestão ou de definição de políticas de atenção à saúde) devam ser fundamentadas em evidencias. É corrente que as evidencias são essenciais para qualificar a atuação das equipes de saúde e a gestão dos serviços, e que provém tanto de conhecimentos tácitos, como de conhecimentos explícitos - em outras palavras, são derivadas tanto da experiência prática, como da pesquisa formal. E, embora as decisões tomadas com base em evidencias sejam geralmente referidas como conhecimento explícito, é justamente o saber tácito que as distingue e qualifica.
O conhecimento tácito é de caráter prático e subjetivo, implícito, advindo da experiência dos clínicos, dos gerentes, das equipes. Sustenta um ´como fazer´, freqüentemente só aplicável ao local, raramente publicado, tradicionalmente pouco valorizado. O conhecimento explícito é de caráter teórico e objetivo, acadêmico: resultado de estudos formais, é publicado em revistas científicas e afirma um ´o que fazer´ generalizável. Tradicionalmente muito valorizado (1).
Serviços de saúde baseados em evidências são aqueles que têm, eles próprios, a capacidade de produzir evidências (nos serviços de Atenção Primária há grande riqueza de conhecimentos advindos da prática e da ciência do contexto) e a flexibilidade de incorporar evidências às suas práticas clínicas e gerenciais: seus profissionais, individualmente e em equipe, devem possuir a destreza de encontrar, avaliar e usar o conhecimento advindo de pesquisa formal. Para tanto, a produção de conhecimento e o seu uso devem ser institucionalmente valorizados, o que exige um contexto de aprendizagem, o apoio de sistemas que disponibilizam a melhor informação vigente, e uma cultura avaliativa. Ambos os conhecimentos, tácito e explícito, devem estar disponíveis quando necessário!
Os serviços de Atenção Primária (APS) não prescindem de estudos que respondam, a curto prazo, às perguntas de gerentes e equipes de saúde. Equipes comprometidas, sensíveis aos fenômenos relacionados à saúde da população local, buscam entender esses fatos de forma a melhor adaptar suas ações e corresponder com eficiência às necessidades em saúde. Assim, estudos operacionais são realizados por integrantes destas equipes, retroalimentando-as com agilidade na adequação das atividades clínicas, de planejamento e de avaliação dos serviços.
A seguir são apresentados alguns exemplos de estudos operacionais, onde se observa a vinculação de evidencias provenientes das diferentes fontes de conhecimento, e sua utilização no aperfeiçoamento das práticas.
(a) qualidade da atenção às crianças com asma(2) - O monitoramento das internações por asma em menores de 19 anos demonstrou que, apesar da disponibilidade de medicação e das atividades de atualização das equipes de saúde, o número de hospitalizações por essa condição sensível à APS seguia acima do esperado. Uma breve entrevista, sistematizada, em todos os casos de internações, por período determinado, demonstrou que hospitalizações poderiam ter sido evitadas se: corticóide inalatório houvesse sido prescrito, conforme o protocolo, em um maior número de situações; fosse seguida a recomendação de entregar um plano de ação escrito a todos pacientes; os pacientes e familiares fossem melhor orientados quanto à técnica inalatória e recorrido ao tratamento no início da crise; houvesse sucedido a desmistificação de crenças tais como spray faz mal ao coração. Estes resultados subsidiaram as atividades de educação continuada das equipes e resultaram em imediata mudança nas atitudes dos profissionais e redução do número de hospitalizações.
(b) diagnósticos de sífilis congênita(3) - a identificação de casos da doença levou à revisão da qualidade do atendimento pré-natal e da realização dos exames preconizados. O estudo demonstrou 94% de realização do VDRL e 94% de anti-HIV no primeiro trimestre da gestação; e 79% de realização de VDRL e 63% de anti-HIV no terceiro trimestre, evidenciando falhas no pré-natal. Os resultados foram prontamente discutidos com as equipes de saúde e os reflexos dessa intervenção estão sendo monitorados.
(c) problemas freqüentes em APS(4) - seis diagnósticos (hipertensão arterial, diabete mélito não insulino-dependente, infecção de vias aéreas superiores, asma, transtornos depressivos e dorsalgias) e quatro condições relacionadas à prevenção (pré-natal, prevenção do câncer ginecológico, revisão de saúde no adulto e puericultura) representaram, em 2009, um terço das 14.611 razões de consulta. Essa informação foi essencial para as atividades de atualização de equipes de saúde e estruturação dos serviços.
(d) desconhecimento do que é APS pelos gerentes/coordenadores da APS(5). Ainda que o Brasil tenha optado por um sistema de saúde orientado pela APS, menos de um quarto dos gestores/gerentes da Atenção Primária identificam os quatro atributos próprios da atenção primária. Ora, os gestores/gerentes são os responsáveis por criar as condições de operacionalização da APS, o espaço para que as equipes de saúde concretizem a atenção primária com eficiência. Não obstante eles conheçam os valores e princípios do SUS e do Saúde da Família, desconhecem os elementos de sua operacionalização e avaliação. Esta avaliação gerou projetos de capacitação e atualização para gerentes/gestores da APS, entre eles o Projeto AGAP(6), que está em fase de avaliação dos resultados.

Silvia Takeda
Médica Epidemiologista
Equipe de Monitoramento e Avaliação
Serviço de Saúde Comunitária(7)
Grupo Hospitalar Conceição
Porto Alegre, RS.

(1) MUIR GRAY, J.A. Evidence-based Healthcare and Public Health: how to make decisions about health services and public health. Edinburgh:Churchill-Livingstone Elsevier, 2009. 3rd ed.
(2) LENZ, M.L. Hospitalizações por condições sensíveis à APS no Serviço de Saúde Comunitária. Porto Alegre: Grupo Hospitalar Conceição, 2010. Contato: mlenz@ghc.com.br
(3) LENZ, Maria Lúcia. Qualidade do pré-natal no Serviço de Saúde Comunitária. Porto Alegre: Grupo Hospitalar Conceição, 2010. Contato: mlenz@ghc.com.br
(4) FLORES, Rui. Monitoramento & avaliação no Serviço de Saúde Comunitária. Porto Alegre: Grupo Hospitalar Conceição, 2010. Contato: frui@ghc.com.br
(5) CONSELHO NACIONAL DOS SECRETÁRIOS DE SAÚDE. Aperfeiçoamento da gestão em Atenção Primária à Saúde. Brasília:CONASS, 2005. Contato: conass@conass.org.br
(6) CONSELHO NACIONAL DOS SECRETÁRIOS DE SAÚDE. DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA. UNIVERSIDADE DE TORONTO. Projeto de Intercâmbio de conhecimentos Brasil-Canadá: Projeto de Aperfeiçoamento em Gestão da Atenção. Contato: conass@conass.org.br
(7) O Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Conceição é um serviço de atenção primária, com 30 anos de existência. Conta com 12 Unidades de saúde responsáveis por uma população de 120 mil habitantes na cidade de Porto Alegre.

Pós-graduação sensu strictu em Ensino na Saúde

Em resposta ao Edital 024/2010-CAPES - Pró-Ensino na Saúde, vinte e três propostas foram selecionadas, especificamente para desenvolvimento de linhas de pesquisa de Educação das profissões da saúde.
Para nossa felicidade, o projeto "Ensino, saúde e desenvolvimento: rede de saberes e práticas", coordenado pela Profa. Izabel Cristina Meister Martins Coelho, foi selecionado. A equipe propositiva conta com vários dos nossos leitores (inclusive este humilde autor) e está organizada em três polos: Faculdades Pequeno Príncipe, Universidade Estadual de Londrina e Universidade Federal de Santa Catarina. 
Esperamos que em breve possamos abrir o processo seletivo para os primeiros pós-graduandos.

Roberto Z. Esteves
Administrador - Blog Educação Médica

Dia do Professor

Caros leitores,

Aproveito este espaço para prestar uma justa homenagem a todos aqueles que, desde os mais tenros anos de nossas vidas, contribuiram e ainda contribuem nesta nossa caminhada pelo Conhecimento.
Parabéns aos professores neste seu dia !


Roberto Zonato Esteves,

Professor, com muito orgulho

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Uma arte em extinção:O exame físico

O pior pesadelo do dr Abrahan Verghese, professor associado senior da cadeira de Teoria e Prática Médica da Universidade de Stanford, é perder um paciente que pudesse facilmente ter a sua doença reconhecida e tratada, por falta de um bom exame físico. Desse modo, ele elencou 25 técnicas de exame físico que todo o médico deve saber : Stanford 25. Veja o link blog e as técnicas abaixo.
De acordo com o Dr Verghese, a prática médica deve resgatar os sentidos do médico : Olhar, escutar e examinar. Ele diz que um exame físico apropriado inspira confiança e transforma dois estranhos em Médico e Paciente.
Além disso, limita a solicitação em excesso de exames complementares, pois direciona o diagnóstico. Concordo plenamente com o Dr Verghese e nestes anos de academia tento passar esta noção aos alunos.
Devemos tratar o paciente como ser humano, aprendendo a escutar o que ele tenta nos dizer de todas as formas, seja em palavras, gestos ou sinais e sintomas clínicos. Não devemos confiar cegamente em exames complementares e nem procurar uma resposta neles quando não sabemos o que o paciente tem, por falha em nossa propedêutica clínica.


http://stanford25.wordpress.com/
http://stanford25.wordpress.com/news/

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Fitoterapia

Informativo DAB 2010


Plantas Medicinais e Fitoterápicos na Atenção Básica


    As Políticas Nacionais de Práticas Integrativas e Complementares e de Plantas Medicinais e Fitoterápicos são orientadas pelos princípios e diretrizes do SUS e os serviços e produtos ofertados são disponibilizados de forma complementar e integrativa. Os serviços devem dispor de profissionais capacitados, dentro dos limites de sua competência profissional, e os produtos devem atender a critérios de segurança, qualidade e eficácia terapêutica. As ações decorrentes destas Políticas têm contribuído para melhoria da saúde no país, pela normatização e institucionalização das experiências com plantas medicinais e fitoterapia na rede pública, e como indutor de políticas, programas e legislação nas três instâncias de governo.

    O DAB por meio da Coordenação Nacional de Práticas Integrativas e Complementares disponibiliza nota a usuários, profissionais e gestores a fim de esclarecer e informar, como está previsto no SUS o uso de plantas medicinais e fitoterápicos, sob o ponto de vista das políticas públicas na atenção a saúde.

    Acesse a Nota AQUI

domingo, 10 de outubro de 2010

Aprendizagem prática nos Cursos de Medicina

Pesquisador discute aprendizagem prática e exercício ilegal da medicina

Informe ENSP - 04/10/2010
O exercício ilegal da medicina tem sido assunto recorrente na grande imprensa nos últimos meses. Segundo o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva na ENSP e pesquisador do Departamento de Ciências Sociais (DCS/ENSP), Sergio Rego, a prática de estudantes em hospitais e clínicas não é crime, mas deve ser estritamente supervisionada e clara para a população. Para coibir a atividade ilegal, Sergio defende a necessidade de uma fiscalização rigorosa da profissão. Confira, abaixo, a entrevista concedida pelo pesquisador ao Informe ENSP.

Informe ENSP: Desde quando você estuda este tema?

Sergio Rego:
Esta discussão foi tema da minha dissertação de mestrado em Saúde Coletiva, realizada no Instituto de Medicina Social na década de 1990. Desde então, publiquei vários artigos, capítulos de livros e dei palestras sobre o assunto. Durante esse trabalho, intitulado A prática na formação médica: os estágios extracurriculares em questão , realizei diversas pesquisas e entrevistas com médicos, estudantes e pessoas de referência na área. Minha questão era entender a procura, por parte de estudantes de medicina, de estágios não oficiais não vinculados aos seus cursos e as consequências dessas práticas. Queria compreender, por exemplo, a distinção entre a realização de um estágio sem supervisão e o exercício ilegal da profissão - na época, fiz essa pergunta às autoridades corporativas de então e aguardo até hoje a resposta.

Desde então, tenho lutado política e academicamente para difundir a ideia de que precisamos tornar a presença dos estudantes na rede mais visível à população. O cidadão que está sendo atendido precisa saber que existe estudante naquela instituição e também quando é atendido por ele.

Ainda na década de 1990, participei e fui relator em um grupo na Conferência Estadual de Recursos Humanos sobre a relação ensino/serviço na saúde. Naquela ocasião, apresentei a proposta de que todo estudante deve ter a obrigação de se identificar como tal quando for atender um paciente, pedir autorização para realizar o atendimento. O paciente teria o direito de recusar ser atendido por um estudante e exigir a presença de um médico. Para isso, é fundamental que exista uma supervisão estrita. Quando apresentei a proposta, todos concordaram de imediato, mas, quando fomos rever o que tínhamos aprovado antes de encaminhar para a plenária, parece que 'a ficha caiu' para alguns representantes de secretarias de saúde, e a proposta foi vetada. Disseram que o paciente deveria ter o direito de recusar o atendimento, mas deveriam procurar auxílio em outro lugar!Isso desnuda a realidade que vivemos, que é a utilização, ainda hoje, de estudantes em exercício ilegal. E demonstra como muitas pessoas acham razoável colocar estudantes para atender como médicos sem supervisão adequada. Isso deve ser mudado.

Esses casos de prática irregular que são mostrados pela imprensa trazem o problema à tona e nos possibilita avaliar e discutir o outro lado dessa presença ilegal, que é a presença regular, necessária e desejada do estudante em estágios na rede de assistência, nos hospitais e outros para a necessária prática. Hoje, compreendemos que os cenários de aprendizagem prática não podem se restringir aos hospitais universitários. O que não é mais possível é a confusão da prática com o exercício legal da profissão. A atuação sem supervisão precisa ser combatida, condenada e punida, pois a população deve estar protegida. E o conceito de supervisão não pode ser dúbio. Não é aceitável supervisão a distância ou do tipo "me chama se tiver alguma dúvida"!

Informe ENSP: Existe hoje algum processo para evitar ou fiscalizar a prática incorreta da medicina?

Sergio Rego:
O Cremerj criou, no ano 2000, uma resolução que torna obrigatória a inscrição das instituições que desejam receber estudantes junto ao Conselho. Assim como o cadastramento específico das especialidades médicas do campo de estágio a serem oferecidos, a descrição das atividades a serem exercidas pelos alunos, assim como a presença permanente de médicos responsáveis pelos estagiários nos locais das atividades, entre outros. Não tenho, de fato, informações sobre se e como esta resolução foi implementada e fiscalizada. Desconheço se existe algo sistemático acontecendo de forma proativa.

Esse problema é ocasionado pelas próprias instituições que permitem essa prática, pois avaliam que é um bom negócio ter estudantes atuando. É, de fato, uma mão de obra mais barata, mas nem sempre eles fazem apenas o trabalho mais simples, e isso é perigoso, pois eles ainda não têm a bagagem necessária para atuar de maneira autônoma. Não podemos criminalizar a prática do estudante, e não é isso que queremos. Mas devemos destacar que é fundamental a transparência dessa atividade. A resolução do Conselho não será a solução desse problema, porém é uma maneira de controle. A resolução do Cremerj Nº158/00 é muito boa.

Em 2008, foi promulgada a Lei 11.788, a chamada Lei do Estágio, que trouxe um balizamento bem estrito para a prática do estágio e tem provocado muitas discussões nas escolas médicas (pelas especificidades do estágio obrigatório do internato). É uma boa lei ao assegurar direitos básicos aos estagiários, mas não parece ser suficiente para garantir a proteção da população.

Nos hospitais e clínicas particulares, acontece uma falta de transparência ainda maior. Dificilmente, nesses locais em que se paga pelo atendimento, as pessoas querem saber ou deixar que se saiba que estão sendo atendidas por estudantes. Nesses ambientes, essa presença é ainda mais velada. E quanto mais se for para fora dos grandes centros, menos evidente isso fica.

Muitos estágios extracurriculares não têm, de fato, uma relação entre o aparelho formador e a rede. Quando essa interação não se dá de forma boa e não apenas formal e burocrática, não há uma verdadeira interação sobre a rede de serviços e a rede formadora. Esses locais não podem ser espaços de formação de prática desvinculados de um projeto pedagógico.

Informe ENSP: Você diz que, além da transparência, é necessária uma mudança de cultura dessa prática. Como isso pode acontecer?

Sergio Rego:
Na verdade, reconhecer isso como problema é o primeiro passo para mudar essa realidade. Como se dará essa formação prática é um dos grandes desafios da formação médica. Não podemos descolar a necessidade de o estudante ganhar autonomia, ganhar experiência com o acompanhamento e a supervisão estrita do que ele está fazendo. Deixar que o estudante atue sem supervisão é criminoso, pois estamos expondo a população a um risco completamente desnecessário e inaceitável.

Por isso, o controle é absolutamente necessário. A primeira razão para as pessoas não fazerem a coisa errada é o medo de serem punidas. Se elas acharem que não serão punidas, precisam estar convictas do que é o certo e desejarem fazer o certo. A possibilidade de punição deve existir, e para isso você deve ter algum tipo de controle. Também tenho como objeto de trabalho e de pesquisas a formação moral e ética dos estudantes durante sua formação profissional.

É inegável que, em boa parte das faculdades, ainda hoje, os estudantes tenham apenas o papel de observadores privilegiados do processo da assistência, do cuidado que é oferecido. Eles não têm responsabilidade no atendimento e não se envolvem de fato. Com o objetivo de mudar essa realidade, muitas faculdades já estão efetivamente transformando isso, no sentido de multiplicar os campos de prática e tentar inserir, com supervisão e responsabilidade, os estudantes na rede.

Além disso, existem políticas públicas voltadas para esse processo. A grande transformação começou com a Associação Brasileira de Educação Médica, que vem, desde o final da década de 1980, trabalhando por mudanças no modo de formação médica. Esse processo teve um de seus ápices na aprovação e publicação das novas diretrizes curriculares em 2001. Essas novas diretrizes, de certa forma, libertaram as escolas de formação na área da saúde de uma série de amarras para que elas pudessem ser mais criativas dentro do seu processo de ensino e na construção de seus currículos. Essa é uma saída para que não se considere apenas o hospital universitário como local de formação. Mas as diretrizes em si não resolvem o problema da formação. Estruturas de ensino precisam ser transformadas, e principalmente a cultura docente precisa ser modificada.

Agora, temos dois programas de governo importantes nesse sentido: PET-Saúde e Pró-Saúde. Ssão programas que estimulam a saída do hospital universitário, mas têm foco na criação do vínculo da supervisão. É uma outra diretriz, e muitas universidades já estão engajadas nisso.

Informe ENSP: Essa prática irregular acontece com mais frequência em instituições públicas ou privadas? Alguma parte do país apresenta maior incidência?

Sergio Rego:
Durante minha pesquisa de mestrado, averiguei que esses estágios acontecem sem maiores distinções em ambos os tipos de instituições. Embora seja possível dizer que essa ideia de estagiar extraoficialmente em instituições públicas e privadas é uma antiga tradição em nosso país, é preciso reconhecer que tem havido, nos últimos anos, um esforço das autoridades da saúde para estabelecer algum controle nessa prática.

Mas é importante ressaltar também que essas práticas persistem "Brasil afora", e não é raro sabermos de estudantes de medicina que substituem médicos em unidades de saúde da família, clínicas ou mesmo hospitais públicos e privados. Uma rápida busca na internet permite identificarmos casos semelhantes aos denunciados pela imprensa no Rio em diferentes estados. Mas o que não vemos, e precisamos ver, é a presença dos estudantes de medicina ser inequívoca para a população em geral.

Conversando com o saudoso sanitarista Nildo Aguiar sobre essa questão no final do século passado, ouvi dele uma lúcida consideração sobre a questão. Disse-me ele: 'acho que todos os estagiários nas unidades de saúde deveriam usar um crachá vermelho, como um sinal de alerta a todos sobre a sua condição de aprendiz'. Entendo que sua afirmação está fundamentada na mesma preocupação que me motiva: garantir o espaço formal de aprendizagem para todos os estudantes e oferecer à população maior garantia de proteção contra os aprendizes não supervisionados, que aprendem com o próprio erro, e pode não haver alguém que os avise que erraram.